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O tempo voltou para trás e João Moura ontem deu mais duas enormes lições galvanizando o público como nos tempos de ouro |
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A classe, o nível e a arte de Pablo Hermoso de Mendoza continuam a marcar a diferença. Ontem, o difícil pareceu fácil... |
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João Ribero Telles está a assumir esta temporada a liderança do pelotão e ontem em Évora voltou a reafirmar a intenção de se manter na frente com duas lides que em diversas ocasiões fizeram levantar o público das bancadas |
Miguel Alvarenga - Não é preciso ser um génio para
“salvar a Pátria”. As touradas, estou farto de o escrever e ainda me chamam nomes, estão como estão (mal) porque faltam ídolos, porque não há toureiros que arrastem público às praças, porque isto caíu numa maçadora e sempre igual monotonia onde nada se passa e onde é tudo sempre a
mesmíssima coisa. Cartéis
“mais-do-mesmo” não levam ninguém às praças - e o estranho é que, não se dando conta disso, os empresários (mais
pseudo, que propriamente empresários) vêm depois queixar-se da crise (qual crise?) e procurar inventar mil justificações para justificar o que não tem, afinal, justificação.
Ontem em
Évora, fosse ou não fosse a data tradicional do
São Pedro (já vi muitas corridas destas sem ninguém na bancada…), era noite de
São Pablo Hermoso de Mendoza e isso, doa lá a quem doer, é mais que suficiente para encher uma praça.
Pablo é, ainda e sempre, o toureiro mais
taquillero em
Portugal, aquele que tem maior força de bilheteira e que mais gente arrasta a uma praça. Por mais caro que custe, será sempre o mais barato de todos os toureiros - porque enche. Ontem, esgotou. Como se vê, não é assim tão difícil encher uma praça. Aconteceu recentemente no
Campo Pequeno. Voltou a acontecer ontem em
Évora. A formula não é mágica e tem um nome:
Pablo Hermoso de Mendoza.
"Nené" e a arte de fazer diferente...
Ontem, o empresário
António Manuel Cardoso “Nené” excedeu-se. Montou um cartel altamente apelativo e competitivo, chamou a
Évora a sabedoria e a maestria de
João Moura para se vir bater de igual para igual com a genialidade de
Hermoso; e chamou também o jovem
Telles,
João, que é, apenas e só, no momento actual, o cavaleiro que mais se está a destacar nesta temporada de 2016. Como ingredientes da emoção que todos querem e cada vez mais está a desaparecer, trouxe ainda os
Forcados de Évora, ainda e sempre um dos grandes grupos, para que se encerrasse com os seis bonitos e bem apresentados toiros de
Passanha. Resultado, volto a lembrar: lotação esgotada. Quando o elenco é bom, quando há diferença e as coisas são aquela chatice de
“mais-do-mesmo”, o público, aficionado e não aficionado, vai à bilheteira, enche a praça. Caramba, é assim tão difícil entender como se devem fazer as coisas bem feitas e transformar num acontecimento um espectáculo tauromáquico?
Reafirmo o que digo há anos: se em vez de duzentos ou trezentos espectáculos por ano, houvesse
vinte ou
trinta, bem montados e com interesse (como o de ontem), todos seriam
acontecimentos únicos, todos registariam praça cheia e a tauromaquia ganhava um outro impacto e uma outra importância. Muitos toureiros teriam que ir para casa, mas há tantos que não andam cá a fazer nada…
Moura eterno! E o resto...
Quem continua a fazer, e muito, é o grande
João Moura, que ainda ontem abriu o livro e voltou a dizer-nos que continua a ser e vai ser por muitos e bons anos, o primeiro.
Galvanizou o público como nos tempos de ouro com duas lides magníficas, distintas, a primeira de um valor imenso, a segunda de uma maestria e arte incríveis, bregando como só ele sabe, cravando com emoção, dominando, mandando, colocando à tona o saber, a experiência, aquela chama única de fazer tudo bem feito e com uma arte e um
temple que continuam sem ter igual.
Foram, apenas e só, duas lições de sabedoria - mas sobretudo de maestria. Atributos com que
João Moura continua a ser o
número-um e onde até aos dias de hoje jamais alguém ousou chegar... nem de longe.
A classe e o alto nível de Pablo
Pablo Hermoso continua a desfrutar do carinho e da admiração do público português, como poucas vezes acontece com um toureiro estrangeiro, mas aconteceu muitos anos com
Álvarito Domecq. Hoje é
Pablo a vedeta, o ídolo. E não me venham os
velhotes do Restelo com as estórias de que toureia toiros assim e assado, de que faz um espectáculo de enorme brilhantismo equestre, mas pouca tauromaquia, mais isto e mais aquilo.
Ontem, com o pior lote, um primeiro
Passanha agressivo e sem transmissão, um segundo manso e a que deu a volta, demonstrou todo o seu poderio, toda a sua classe e toda a sua casta - atributos que fazem parecer o difícil fácil, que tornam mágicos os momentos que protagoniza num arena e que o reafirmam como a maior vedeta da actualidade em arenas lusas. Pena que não seja um português - mas não é, ponto final.
João Telles distancia-se do pelotão
Pode vir a sê-lo
João Ribeiro Telles - pode, sim senhor. Está a ser nesta temporada o cavaleiro
mais destacado do pelotão e ontem em
Évora teve um importante e significativo triunfo, memorável, gigantesco, ao lado dos dois maiores do toureio equestre mundial. Não tinha a vida facilitada, depois de
Moura e
Hermoso terem deixado a parada tão alta. Mas não se deixou intimidar, fez-se à luta - e venceu.
Manteve a tónica triunfal das suas últimas actuações, cravou ferros de um incrível impacto, levantando o público das bancadas. Esteve magistral nos dois toiros, pôs
Évora de pé, as suas lides foram em crescendo e a conquistar tudo e todos de ferro em ferro, de sorte em sorte, elegendo terrenos de compromisso, cravando com emoção e verdade, de frente, arrepiando, parando corações.
João Telles segue em ritmo verdadeiramente alucinante aquela que está a ser a temporada da sua absoluta e plena consagração.
Noite brilhante dos Amadores de Évora
Os toiros de
Passanha eram seis estampas. Não primaram pela bravura, o último foi o melhor, os outros impuseram respeito e emoção, não foram fáceis, bateram forte nos forcados, deram
apertos os cavaleiros, não foram toiros
“de corda” nem andaram a trote, antes pelo contrário,
arrearam, não tiveram doçura alguma. Deram emoção a uma noite que decorreu em muito bom ritmo e que acabou por ser uma daquelas (poucas) corridas que fazem aficionados, de onde todos saem satisfeitos, cheia de
glamour, cheia de ambiente e de gente do toiro. Estava a fina-flor.
Évora ontem teve outro sabor.
Os
Forcados Amadores de Évora foram protagonistas de uma noite de muito valor, como anteriormente já aqui se referiu, com três pegas à primeira (pelo cabo
António Alfacinha, por
Gonçalo Pires e
Manuel Rovisco), uma à quarta do valente
Dinis Caeiro, outra de
João Madeira à terceira e por fim a de
João Pedro Oliveira à segunda.
Os toiros foram todos bem recolhidos a cavalos pelos campinos
Mário Gordo (Quinta da Silveira) e
João Carvalho (Agribrotas) e na direcção da corrida, impecável como sempre, esteve
Agostinho Borges com decisões acertadas e com o bom senso que o caracteriza, imprimindo um belíssimo ritmo ao espectáculo.
A destacar o emotivo brinde de
Pablo Hermoso, no seu segundo toiro, aos
Ribeiro Telles e à memória de
Mestre David - a marcar, como sempre marca, a diferença. Quem sabe e quem tem classe… sabe sempre e terá sempre nível e classe. E o resto são cantigas…
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com