quinta-feira, 9 de março de 2017

A análise de Miguel Alvarenga aos primeiros elencos do Campo Pequeno: "Melhor era impossível!"

Miguel Alvarenga analisa um a um os sete primeiros elencos do Campo
Pequeno
Equipa do Campo Pequeno está indiscutivelmente de parabéns pelos primeiros
grandes cartéis da Temporada Histórica do 125º Aniversário
Os três "monstros" do cartel de abertura a 6 de Abril: Maestro João Moura,
Juan José Padilla e Roca Rey com os Forcados de Vila Franca e toiros de
Vinhas (para cavalo) e de Varela Crujo (para a lide a pé)
Pablo Hermoso de Mendoza é o único toureiro anunciado em duas das corridas
da primeira parte da Temporada Histórica do Campo Pequeno. Vem a 18 de Maio
com os Mouras e a 13 de Julho num "mano-a-mano" com Manzanares (foto de
baixo), um dos cartéis-estrela, digno de qualquer primeira praça do mundo


Miguel Alvarenga - Criticar e ser do contra é a coisa mais fácil deste mundo. Dá-se nas vistas, as pessoas dizem depois “já leste o que fulano achou dos cartéis do Campo Pequeno?”, somam-se visualizações nos sites, fica-se aliviado por que “não se lambeu as botas” à Drª Mattamouros e ao Rui Bento, procura-se dar nas vistas. Pode ser, ou não, “politicamente correcto” e até “desejável” para alguns sectores dizer mal dos primeiros elencos da Temporada Histórica do Campo Pequeno que ontem foram apresentados. Mas não é justo. E não é justo porque, a meu ver, melhor era impossível.
Ouvi atentamente as palavras de alegria e também de esperança com que a Drª Paula Mattamouros Resende referiu os esforços continuados da sua gestão para “levar o barco a bom porto” e apresentar uma programação de alto nível no ano em que se assinala o 125º aniversário da praça de toiros de Lisboa. Um dia, quando se escrever a História destes últimos anos da Tauromaquia Nacional, ela há-de ter um lugar de relevo pela forma admirável, criteriosa e empenhada como conduziu esta gestão - que não é fácil. Pela forma como, chegando aqui no papel ingrato de Administradora de Insolvência, se envolveu com paixão e com sentimento na defesa e no engrandecimento da nossa cultura, da nossa tradição, da nossa Festa. Outra ou outro qualquer membro judicial poderia ter tido uma postura totalmente oposta. Ela empenhou-se, entregou-se e nós, taurinos, um dia vamos ter que lhe agradecer. Ontem, Rui Bento ofereceu-lhe uma rosa por que era o Dia da Mulher. Essa "rosa que te dei" é nossa também.

Rui Bento cordial, Ventura nem por isso...

Ouvi também atentamente as palavras de Rui Bento que, antes de passar ao anúncio dos cartéis, fez questão de aplaudir a Protoiro pela realização da iniciativa de enorme sucesso que foi o recente Festival Bullfest (que alguns não quiseram ou não puderam reconhecer…) e enaltecer depois algumas das jovens figuras que por mérito próprio integram os primeiros elencos, casos de João Moura CaetanoMiguel Moura, de Parreirita Cigano, de Francisco Palha, de Filipe Gonçalves, de Jacobo Botero, de Luis Rouxinol Júnior e do regressado João Maria Branco (demonstrando que muito para lá das questões pessoais que possam ter existido, há, acima de tudo, o interesse empresarial a defender e o reconhecimento pelo valor do toureiro, que nunca esteve em causa em tempo algum) e frisou de seguida, com diplomacia e cordialidade, sem polémicas, que a ausência de Diego Ventura se devia única e exclusivamente à inexistência de acordo a nível monetário, mas que a porta continuava aberta e a empresa à espera dele e tanto assim que ficava em aberto o cartel de 8 de Junho para que pudessem ainda vir a sentar-se e a acertar a contratação.
A atitude posterior de Ventura, com um comunicado que em vez de ser comunicado deveria ser uma conversação particular com a empresa, não teve nível, nem esteve à altura das palavras cordiais e diplomáticas com que o gestor taurino da empresa do Campo Pequeno ontem explicou as razões da sua ausência, que ainda se poderia transformar em presença. O Campo Pequeno precisa de um toureiro com a força e o carisma de Ventura e Ventura, por mais que o queira descartar, também precisa do Campo Pequeno para valorizar o seu estatuto, incontestável, de primeiríssima Figura mundial - e de toureiro taquillero. Fazem falta um ao outro e fazem falta à Festa e ao público de Lisboa - entendam-se!

Ausências "forçadas" por falta de acordo

Rui Bento salientou ainda as ausências de Leonardo Hernández, de Rui Fernandes e de João Ribeiro Telles nestes primeiros cartéis, com os quais também não houve ainda acordo, mas também aqui fez questão de reforçar o interesse e o empenho da empresa em os trazer ao Campo Pequeno, admitindo que isso sucederá certamente na segunda fase do Abono, não estando também neste momento afastada a hipótese de ter algum dos três ou mesmo os três na corrida em aberto de 8 de Junho.
O regresso às arenas de Joaquim Bastinhas numa corrida em que poderia também tourear Paulo Caetano e os filhos de ambos, Marcos Bastinhas e Moura Caetano, é outro cartel que pode integrar a segunda parte da Temporada Histórica.
Apesar de não o ter referido ontem, é provável que Enrique Ponce actue na corrida comemorativa so 125º Aniversário da inauguração da praça, a 18 de Agosto, que excepcionalmente será numa sexta-feira e é também possível que o matador Cayetano Rivera Ordoñez, como hoje noticiámos, constitua um dos atractivos da segunda parte da época, se não mesmo do cartel de 8 de Junho.
Finda a apresentação dos primeiros elencos de 2017, José Cáceres fez um breve balanço da vida do canal Campo Pequeno TV e anunciou novos e atractivos programas para as próximas emissões. Paulo Pereira anunciou depois a abertura de venda dos Abonos (hoje) e também a novidade de na corrida inaugural, a 6 de Abril, se brindar Juan José Padilla com um pasodoble em sua honra da autoria do maestro António Catalão Labreca, da Banda do Samouco, que habitualmente abrilhanta as nocturnas do Campo Pequeno.

Os 7 primeiros cartéis: melhor era impossível!

E passo à análise dos cartéis.

- 6 de Abril - É preciso analisar? O cartel é mesmo “do outro mundo” e fala por si. O Maestro Moura, o regresso de Padilla, novo ídolo da aficion portuguesa e a estreia como matador de toiros do peruano Roca Rey, aliados ao valor do grupo de forcados triunfador da última temporada lisboeta, os Amadores de Vila Franca, com toiros de Vinhas para cavalo e de Varela Crujo para pé, constituem o garante de uma enchente, arrisco mesmo dizer de uma lotação esgotada e denotam o esforço da empresa para abrir com chave de ouro um ciclo comemorativo dos 125 anos da inauguração da praça. Melhor era impossível!

- 18 de Maio - Praça cheia outra vez - alguém tem dúvidas? Pablo Hermoso de Mendoza é um ídolo de referência do público lisboeta. Vir ao Campo Pequeno competir com os dois Mouras - João Júnior e Miguel - é um acto de afirmação e até de alguma condescendência e grande profissionalismo quando, por norma, prefere sempre ter a abrir praça um cavaleiro veterano. É um cartelazo de eleição para os aficionados do toureio equestre. E os toiros de António Charrua não são propriamente toiros “nhoc-nhoc”, vão dar espectáculo e pedir contas aos ginetes. Nas pegas, dois grupos consagrados: Lisboa e Évora, com a particularidade de o cabo dos eborenses, António Alfacinha, se despedir do público da capital. Esta corrida homenageia o Real Clube Tauromáquico, que também cumpre este ano o seu 125º aniversário, distinção que confere ainda maior solenidade a esta noite.

- 8 de Junho - Data em aberto e onde se esperava o “sim” de Ventura. Face ao “não”, a empresa vai agora esforçar-se por montar um grande elenco nesta noite. Está certa a presença dos Forcados Amadores de Alcochete e podem pegar também os californianos de Turlock. A hipótese de uma corrida mista com Cayetano Rivera Ordoñez é uma das possíveis cartadas a jogar neste dia. Neste momento e depois do comunicado de Ventura descartando com firmeza a possibilidade de tourear este ano em Lisboa, a empresa deverá empenhar-se ao máximo para apresentar como alternativa um elenco acima da média e suficientemente forte e sólido para responder à ausência do rejoneador.

- 29 de Junho - Corrida de seis cavaleiros com estilos variados e atractivos de sobra. Regressa por uma noite o veterano Manuel Jorge de Oliveira para comemorar os 40 anos da sua histórica e recordada alternativa, uma das melhores de sempre no Campo Pequeno numa célebre Corrida dos Comandos e para dar a alternativa a Parreirita, o primeiro cavaleiro tauromáquico de etnia cigana a doutorar-se, depois da meteórica ascensão protagonizada nos dois últimos anos. Presenças importantes dos também veteranos Rui Salvador e Ana Batista e ainda dos jovens João Maria Branco e Jacobo Botero, dois toureiros de valor que não vinham há algum tempo ao Campo Pequeno. Toiros da insuspeita ganadaria do Engº Luis Rocha, insuspeita no que diz respeito a emoção e a risco, é uma ganadaria séria e “exigente” com os toureiros; e competição entre a forcadagem com as presenças do Grupo do Ribatejo e dos dois grupos da Chamusca, os Amadores e os do Aposento. Atractivos não faltam, o elenco é variado e “para todos os gostos”. E pelo calibre dos alternantes, não se pode dizer que seja uma alternativa facilitada para o valoroso Parreirita Cigano. Pelo contrário. Vai ter que “dar corda aos sapatos” para deixar bem marcada esta noite. Um desafio para ele.

- 6 de Julho - Notável o esforço da empresa para dar corridas em todas as quintas-feiras de Julho, revivendo as “Fabulosas de Verão” dos tempos áureos da gestão do grande Manuel dos Santos. Esta primeira corrida é mista e responde ao interesse crescente do público aficionado pelo toureio a pé, confirmando também o empenho da empresa em dar continuidade à corrente de entusiasmo causada pelas presenças de “El Juli”, de Padilla, de Finito, de Álamo e de Morante nas últimas temporadas. O regresso a Lisboa de João Moura Caetano, ainda que actuando como único cavaleiro e por isso, sem competidor, é uma mais valia para este cartel e uma porta aberta para que o toureiro repita, em elenco de maior rivalidade, na segunda parte da temporada. As presenças dos matadores “El Fandi”, depois do bom ambiente que deixou no Festival Bullfest, e de Juan del Álamo, também triunfador em Lisboa nas duas últimas épocas, são o garante de uma boa noite de toureio a pé. Pegam os Forcados do Aposento da Moita e lidam-se toiros da triunfadora ganadaria de Manuel Veiga. É um cartel com interesse.

Hermoso e Manzanares: outro cartel-estrela

- 13 de Julho - Chegamos a outro cartel-estrela da Temporada Histórica. Uma corrida digna de qualquer primeira praça do mundo, que esteve para realizar-se na segunda metade do Abono lisboeta, mas que foi antecipada precisamente para dar maior ênfase à primeira parte. Pablo Hermoso na sua segunda apresentação do ano no Campo Pequeno num “mano-a-mano” com uma das grandes Figuras mundiais, José Maria Manzanares, que faz a sua estreia em Lisboa lidando três toiros da ganadaria espanhola de García Jiménez. Os toiros para Pablo ainda não estão anunciados. Pega um dos grandes grupos nacionais, o de Montemor. Há que louvar, nesta primeira fase da temporada, a presença em Lisboa dos melhores grupos da actualidade. Nesta noite, aposto em lotação esgotada ou, pelo menos, numa enchente.

- 20 de Julho - Mais uma corrida que promete trazer muito público ao Campo Pequeno. A alternativa de Luis Rouxinol Júnior, concedida por seu pai, Luis Rouxinol, no ano em que assinala 30 anos de alternativa, um cavaleiro lutador e que venceu à custa do seu tremendo valor quando, de início, muitos lhe quiseram fechar as portas. A acompanhar esta noite de festa para os Rouxinóis, dois representantes de uma das mais ilustres Dinastias Toureiras do mundo, António Ribeiro Telles e seu sobrinho Manuel Ribeiro Telles Bastos. Melhor era, também, impossível. Nas pegas, os consagrados grupos de Santarém e de Coruche. E quanto a toiros, a histórica ganadaria Murteira Grave, grande triunfadora da última época em Lisboa. Louvável e notável o facto de Luis Rouxinol Júnior se prestar a receber a alternativa sem facilidades e com uma das mais sérias e temidas ganadarias nacionais. Só por isso, merece que enchemos a praça e o vamos apoiar!

- 27 de Julho - Pese embora o valor incontestado dos três toureiros que o compõem, este último cartel da primeira parte da Temporada Histórica do Campo Pequeno é, a meu ver, o menos apelativo. Filipe Gonçalves não toureou no ano passado em Lisboa e foi um dos grandes triunfadores da época, demonstrando um enorme valor e um querer de ferro ao tourear a segunda metade da temporada com o braço direito engessado, devido a uma lesão. Francisco Palha foi um dos jovens que mais se destacou também e por isso, ambos merecem inteiramente regressar ao Campo Pequeno. António João Ferreira é um dos matadores de toiros nacionais de maior interesse e com maios promissor futuro, mas vir sózinho a Lisboa como único espada pode não atrair o público que se deseja. Oxalá me engane, porque ele tem valor para estar no Campo Pequeno e para muito mais. Falta Manuel Dias Gomes neste elenco. Era necessário o Campo Pequeno dar o exemplo e fomentar a rivalidade entre este nova parelha. Pegam os Forcados das Caldas da Rainha, um grupo que tem vindo a afirmar-se e o consagrado Grupo do Aposento do Barrete Verde de Alcochete. E os toiros são de duas excelentes ganadarias: de Santa Maria para cavalo e de Falé Filipe para pé. Acredito que pode ser uma grande noite de toiros pelo valor dos intervenientes, mas penso que falta “qualquer coisa” ao elenco para o tornar mais atractivo e mais apelativo para o público.

Fotos D.R., Emílio de Jesus, Frederico Henriques e Maria Mil-Homens