terça-feira, 18 de julho de 2017

Ainda Lisboa, ainda "Cuqui" e ainda o gesto de Manzanares...

"Não tinha que provar mais nada a ninguém e considerei que era justo e legítimo
dar oportunidade e um jovem que quer ser toureiro"
- palavras de Manzanares.
Mais comentários para quê?
"Cuqui" toureou assim, com esta arte, esta entrega e este sentimento. Teve o
seu momento de glória graças à grandeza e à humildade de um figurão como
Manzanares, que depois saíu triunfalmente em ombros (foto de baixo)... mas
houve quem criticasse este gesto... Pobres dos pobres de espírito...


Miguel Alvarenga - Ainda Lisboa, ainda a noite mágica de quinta-feira, ainda o gesto de grandeza e humildade de um figurão como Manzanares ao ceder os trates ao jovem novilheiro português Joaquim Ribeiro "Cuqui" e dar-lhe a oportunidade de se mostrar, rematando a última faena da noite.
Houve quem criticasse e quem escrevesse (coitada...) que o público pagara para ver Manzanares e que este deveria ter toureado o toiro até ao fim e não proporcionar a fase final da lide ao promissor "Cuqui", que era na quinta-feira o seu suplente.
José Maria Manzanares esteve a gosto. Pouco fizera com o seu primeiro toiro, um insignificante exemplar da ganadaria Nuñez del Cuvillo, mas explodira nos seguintes, de Juan Pedro Domecq e García Jiménez, comprovando a sua imensa arte, o seu conceito tão especial de bem tourear. O público do Campo Pequeno estava absoutamente rendido e Lisboa marcava mais uma noite especial com os destacados triunfos so matador de Alicante e de Pablo Hermoso de Mendoza.
Num gesto, repito, de grandeza e de humildade, Manzanares privou-se de terminar a faena que estava a ir em crescendo e que teria certamente culminado com um ambiente de loucura e euforia - que mesmo assim aconteceu, tendo o toureiro saído depois em ombros pela porta grande.
Chamou à arena "Cuqui" e cedeu-lhe a recta final do seu sucesso, proporcionando ao jovem toureiro não ter sido naquela noite apenas e só um mero espectador do seu grande triunfo. O diestro luso aproveitou a oportunidade com unhas e dentes, como se costuma dizer. Apesar de pouco rodado, evidenciou capacidades - e que capacidades! - para poder ser alguém. Desenhou bonitos e expressivos muletazos numa mini-faena de arte e de atitude, assim como quem diz "também mereço" e "estou aqui". Como prémio, teve os aplausos unânimes e fortes de um público que lhe reconheceu valor - e que aplaudiu também, depois, o gesto de Manzanares, quando este regressou à cena para simular a estocada.
"Cuqui" vai ter, acredito, como prémio, a repetição ainda este ano no Campo Pequeno, certamente na novilhada de 10 de Agosto. Merece isso e muito mais. E estou plenamente convencido que, seguindo a sua louvável política de aposta no ressurgimento e no futuro do toureio a pé, a empresa lhe dará essa mais que merecida oportunidade.
Quanto a Manzanares, disse-me depois da corrida, naquele inolvidável momento que com ele vivi no "Rubro" (já voltarei a esse cenário) e que alguns bons e verdadeiros aficionados também partilharam, apenas isto: "Não tinha que provar mais nada a ninguém e considerei que era justo e legítimo dar oportunidade a um jovem que quer ser toureiro e que nos quites de capote demonstrara já atitude e vontade de triunfar".
E depois... aqueles que maldosamente criticaram este gesto bonito de Manzanares, assim como quem quem critica e pretende condicionar o futuro do promissor "Cuqui", estarão agora de consciência tranquila?

Fotos Maria Mil-Homens