As memórias não morrem

Miguel Alvarenga - Amanhã escrevo, meu querido Joaquim Bastinhas, curiosamente nunca te tratei, como todos, por Joaquim Manuel, tudo aquilo que queria, me apetecia e não consigo escrever hoje. Que se lixe a passagem de ano, essa merda toda, o dia de hoje é triste, mas não pode ser. Temos que dar a volta, temos que te lembrar assim, esse sorriso, essa força de viver, essa alegria com que correste na vida, sempre cheio de pressa, sempre sem parar. Merda, Joaquim Bastinhas.
Foi, afinal, todos o esperávamos, mas ninguém queria acreditar, mais ou menos a crónica de uma morte anunciada. E que, como todas as mortes, é obrigatoriamente brutal, estúpida, que raiva, que impotência, que falta de senso.
Foste, na tua arte, um dos grandes, dos maiores. Contagiaste multidões com a verdade do teu toureio, a diferença da tua forma de ser, de estar e de ser. Com a tua alegria, a tua vida, essa força imensa de viver que faziam de ti um Homem diferente. Podiam muitos até tourear melhor que tu, mas nenhum era tão bom como tu. E tão querido. E tão idolatrado e tão adorado.
Eras muito mais que um toureiro. Eras um ídolo de Portugal. E olha que tirando os futebolistas, já não há muitos ídolos assim.
Não vamos esquecer mais toda a tua história de glória. A forma incrível como superaste o grave acidente que sofreste há três anos e esta temporada voltaste como novo, com o fulgor de sempre, o salto do cavalo, tudo. Não vou esquecer nunca mais a alegria com que me abraçaste e me deste um beijo no pátio de cavaleiros da praça de Elvas, em Setembro, depois do grande triunfo que acabavas de viver no regresso à arena da tua terra, no regresso à tua gente.
Não vou esquecer as histórias que vivemos juntos em mais de quarenta anos, a cumplicidade que existiu entre nós em tantos e tão bons momentos.
Hoje não consigo mesmo escrever mais nada. Só consigo estar triste. Mas a vida continua, Joaquim Bastinhas. E as memórias não morrem.

Fotos D.R.

Joaquim Bastinhas - sempre e para sempre!

Foto Frederico Henriques

A História de um Vencedor

A história de Joaquim Bastinhas é a história de um vencedor

Joaquim Manuel Carvalho Tenório, conhecido no mundo da tauromaquia como Joaquim Bastinhas, nasceu em Elvas a 8 de Março de 1956.
Apresentou-se como cavaleiro amador com apenas 12 anos, por ocasião do tradicional festejo de Carnaval, na Monumental do Campo Pequeno, em 2 de Fevereiro de 1969.

Desde então fez-se anunciar pela alcunha de Bastinhas, nome pelo qual o seu pai, Sebastião Tenório, que fora cavaleiro tauromáquico amador, era conhecido.

A 15 de Maio de 1983 tomou a alternativa de cavaleiro tauromáquico na praça de toiros de Évora, na tradicional corrida de concurso de ganadarias, tendo como padrinho José Mestre Batista e como testemunha João Moura.

Confirmou-a no Campo Pequeno a 14 de Julho do mesmo ano, desta vez tendo João Palha Ribeiro Telles como padrinho e Paulo Caetano como testemunha.
Em 1984 encerrou-se na lide de seis toiros Murteira Grave, na praça de toiros "Carlos Relvas", em Setúbal.

Cavaleiro de estilo popular, além das praças de Portugal continental e ilhas, Joaquim Bastinhas actuou ao longo de uma carrreira de glória que este ano comemorou 35 temporadas como cavaleiro de alternativa em Espanha, França, Grécia, Macau, México e Venezuela.

A 10 de Julho de 2008, de novo no Campo Pequeno, concedeu a alternativa ao seu filho Marcos Tenório Bastinhas.
Afastado das arenas duas temporadas, devido a um grave acidente sofrido em Setembro de 2015, reapareceu este ano nas arenas actuando com grande êxito em Julho na Figueira da Foz e em Setembro em Elvas, voltando a ser apoderado pelo histórico Rogério Amaro.
Joaquim Bastinhas morreu há poucos minutos no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado desde o início de Novembro. Neste momento desconhecem-se ainda os pormenores das cerimónias fúnebres, que deverão decorrer em Elvas - assim que houver dados concretos, aqui voltaremos.

Fotos D.R.

Maestro Joaquim Bastinhas - sempre e para sempre connosco!

Joaquim Bastinhas foi o toureiro mais popular dos últimos anos

A última vez que o vimos tourear, em Setembro passado em Elvas

Fama de Bastinhas ultrapassou as arenas: aqui, nas Marchas de Lisboa com
José Carlos Malato

Uma das primeiras fotos oficiais de Joaquim Bastinhas
nos seus inícios

Com os pais e a irmã no Algarve

Com seu pai, Sebastião Tenório e o inseparável Joaquim Pataca

Num programa televisivo com Serenella Andrade

Julho deste ano, quando reapareceu nas arenas na Figueira da Foz

Com sua mãe, Dª Gertrudes

O tempo do serviço militar nos Comandos da Amadora

Numa Gala com o então Presidente da República Dr. Mário Soares

Cravando um par de bandarilhas, a sua eterna imagem de marca, com o célebre
cavalo "Xeque Mate"

Com sua Mulher, Helena Nabeiro Tenório e seus filhos Marcos e Ivan

15 de Maio de 1983, Évora, recebendo a alternativa das mãos de José Mestre
Batista, sendo João Moura a testemunha do acto

10 de Julho de 2008, Campo Pequeno, concedendo a alternativa a seu filho
Marcos Bastinhas

Com seu sogro, o Comendador Rui Azinhais Nabeiro

Na tarde da sua estreia no Campo Pequeno, com apenas 12 anos, com seu pai,
Sebastião Tenório, o bandarilheiro Amâncio Grilo e o cavaleiro Frederico Cunha

Rogério Amaro, o histórico apoderado de Bastinhas, voltara este
ano aos toiros para o apoderar de novo, depois de ter estado
dez anos afastado do mundo tauromáquico

Com um dos últimos apoderados, Fernando Marques

Com António Carvalho "Galinha", o primeiro apoderado,
o homem que o lançou

Com Miguel Alvarenga na Redacção do jornal "O Diabo" nos tempos em que
foi apoderado por José Barradas

Com Fernando Camacho, quando o apoderou
e o bandarillheiro Jorge Marques

Com seu filho Marcos e o saudoso apoderado António Morgado

Fotos Emílio de Jesus, Luis Figueiredo, Maria Mil-Homens e D.R.

Última hora: morreu Joaquim Bastinhas

Fica para sempre esta imagem. Da alegria. Da vida. O sorriso franco, a força com que viveu, sempre a correr. Tudo o que dele vamos lembrar para sempre

Joaquim Bastinhas morreu há momentos no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado desde o início de Novembro numa luta deseperada pela vida. Morreu de quê? Ninguém percebeu e o hospital manteve até ao fim o silêncio. Entrou para ser operado a um pólipo nos intestinos, passou quatro vezes pelo bloco operatório, foi infectado por uma bactéria, teve uma embolia pulmonar, uma septicemia, mil e uma complicações, passou dois meses ligado ao ventilador na Unidade de Cuidados Intensivos, ora melhorava, ora piorava, mas que importa isso agora?
Perdemos, aos 62 anos de vida, o mais querido e o mais popular dos toureiros nacionais dos últimos quarenta anos. Joaquim Bastinhas não resistiu a todos os males que nos últimos dois meses o afectaram.
Morreu há minutos, a notícia é fresca. E é triste. Demasiado triste para que em cima da hora a possamos comentar. Perdemos todos um amigo. Que era a imagem da alegria, a imagem da vida. Viveu a correr. Mais depressa que todos os outros. Foi grande, enorme, na arte que abraçou. Ficam as memórias. Milhares delas. Milhões.
Numa hora tão triste, fica a confirmação de uma morte anunciada. O beijo à Lena, ao Marcos, ao Ivan, a todos.
É a pior forma de acabar o ano. Mas o Joaquim Manuel foi sempre assim. Diferente de tudo e de todos. Na vida, como na morte.
Que em paz descanse.

Foto Maria Mil-Homens

Tarde de glória dos Amadores de Montemor ontem na Monumental do México

Forcados Amadores de Montemor com Pedro Caixinha e Manuel Couto numa
foto para a posteridade, ontem na Monumental do México

Pedro Caixinha, que foi grande forcado do Grupo de Montemor e é hoje treinador
do principal clube de futebol mexicano, o Cruz Azul, felicitando os companheiros
depois da tarde de triunfo ontem na maior praça de toiros do mundo

Os Amadores de Montemor estrearam-se na Monumental do México por
intermédio do consagrado Francisco Borges, forcado de técnica fabulosa. Ao
primeiro intento, o toiro deu um derrote altíssimo, derrotando o forcado, que
depois se fechou muito bem na segunda tentativa, com o grupo a ajudar na
perfeição. Pega brindada a Pedro Caixinha. Borges agradeceu forte ovação
nos médios, mas não deu volta ao ruedo

A segunda pega dos Amadores de Montemor, à primeira, foi consumada com
enorme brilhantismo pelo valente João da Câmara, que deu volta ao ruedo com
o rejoneador colombiano Andrés Rozo. O grupo esteve enorme a ajudar. Câmara
brindou a sua pega ao ganadero Enrique Fraga

Francisco Bissaya Barreto pegou brilhantemente e com o grupo a ajudar na sua
melhor forma o quinto toiro da tarde, ao primeiro intento

Francisco Godinho rabejou ao seu melhor estilo

O Grupo de Montemor terminou a sua brilhante actuação com uma grande pega
do poderoso Francisco Bissaya Barreto à primeira, que deu aplaudida volta ao
ruedo com o rejoneador Emiliano Gamero (uma orelha)

René Tirado, cabo dos Forcados de Mazatlán, na segunda pega da tarde

Carlos Tirado, autor da segunda pega dos mexicanos, dando a volta ao ruedo
com Jorge Hernández Gárate, que obteve uma orelha

A terceira pega dos Forcados de Mazatlán foi executada por Hiram Vega

Emiliano Gamero, Andrés Rozo e Hernández Gárate trajado à portuguesa

Destacou-se o cavaleiro mexicano Jorge Hernández Gárate, o único que se
apresentou trajado à portuguesa, de casaca e tricórnio, cortando uma orelha

Emiliano Gamero cortou uma orelha ao segundo toiro do seu lote

O rejoneador colombiano Andrés Rozo deu volta à arena no seu primeiro toiro
e foi ovacionado no segundo

O ganadero Enrique Fraga com um aficionado e, na foto de baixo, com Francisco
Funtanet, irmão do saudoso cavaleiro mexicano Eduardo Funtanet, vítima de
colhida mortal há mais de 20 anos na Plaza México

Francisco Borges, João da Câmara e Francisco Bissaya Barreto foram ontem os autores das três pegas espectaculares que marcaram de forma gloriosa a estreia na Monumental do México, a maior praça de toiros do mundo, dos heróicos Forcados Amadores de Montemor. A imprensa mexicana exalta uma "tarde de grande bravura" protagonizada pelos forcados lusos e pelos mexicanos de Mazatlán

A Monumental Plaza México registou ontem uma entrada de cerca de um quarto na última corrida do ano, nona da Temporada Grande e primeira de rejoneio, em que tiveram triunfal actuação na sua estreia os gloriosos Forcados Amadores de Montemor, sob o comando de António Vacas de Carvalho e que contaram com uma falange de antigos elementos do grupo na rectaguarda a apoiá-los, entre os quais Pedro Caixinha, treinador do clube de futebol Cruz Azul, da Cidade do México.
A imprensa mexicana foi unânime em destacar a "tarde de grande bravura" dos forcados portugueses e também dos mexicanos de Mazatlán, pelas seis pegas espectaculares que os dois grupos executaram aos toiros do Maestro Enrique Fraga, que tiveram jogo desigual, sem desiludir.
Três forcados consagrados foram os autores das pegas executadas pelos Amadores de Montemor, tendo aberto praça o valente Francisco Borges que consumou vistosa pega ao segundo intento, depois de na primeira tentativa o toiro ter dado um forte derrote alto. No final, o forcado agradeceu forte ovação nos médios, mas não deu volta ao ruedo. Borges brindou a primeira pega do Grupo de Montemor na Plaza México a Pedro Caixinha, antigo forcado e actual director técnico do clube de futebol Cruz Azul.
A segunda pega, ao terceiro toiro da tarde, foi brilhantemente executada por João da Câmara, com imenso poder, à primeira tentativa. Deu volta à arena sob fortes aplausos do público. A pega foi brindada ao ganadero Enrique Fraga.
A terceira e última pega dos Amadores de Montemor, quinta da tarde, esteve a cargo de Francisco Bissaya Barreto, que brindou ao público mexicano e consumou com galhardia e poderio ao primeiro intento, dando também aplaudida volta à arena.
O grupo esteve em grande destaque, empenhado e a ajudar com coesão "à Montemor". Uma tarde de glória e uma digressão histórica culminada com grande sucesso na Monumental do México, depois de uma auspiciosa estreia naquele país três dias antes em Zacatecas. Além-Atlântico, os Forcados Amadores de Montemor honraram de modo brilhante a sua jaqueta e eleveram bem alto a imagem do Forcado Amador. Uma honra para Portugal - infelizmente sem honras, até ao momento, de qualquer menção na nossa imprensa generalista...
Pelos Forcados de Mazatlán, que executaram três pegas à primeira, foram caras o cabo René Tirado, seu irmão Carlos Tirado e Hiram Vega.
O cavaleiro mexicano Jorge Hernández Gárate, o único que se apresentou trajado à portuguesda, de casaca e tricórnio, foi aplaudido no primeiro toiro e cortou uma merecida orelha ao segundo.
O rejoneador, também mexicano, Emiliano Gamero foi assobiado no primeiro toiro do seu lote, tendo dado, segundo a crítica, uma imerecida volta ao ruedo. No segundo cortou uma orelha.
Menos afortunado, o rejoneador colombiano Andrés Rozo deu volta ao ruedo no primeiro do seu lote e foi aplaudido no segundo.

Fotos Paulino Santiago/"El Heraldo de México), Tadeo Alcina/aplausos.es, Emílio Méndez e NTR Toros