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Público aficionado continua intrigado sem saber o que vai ser o futuro do Campo Pequeno. E ninguém diz nada. E ninguém pergunta nada... |
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Uma passerelle vermelha pode esperar os novos donos do Campo Pequeno já na próxima semana. Mas isso pode significar o princípio do fim da catedral portuguesa do toureio, com mais de 100 anos, muita história e tradição |
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Álvaro Covões pode finalmente comprar o Campo Pequeno na próxima semana. Termina o reinado de Paula Resende e a continuação de Rui Bento é ainda uma incógnita |
Se fosse em Espanha e toda esta indefinição e falta de clareza tivessem a ver com a Monumental de las Ventas, já tinha havido uma "guerra civil"... Nós, por cá, todos bem... Ninguém diz nada, também ninguém pergunta nada e todos encolhem os ombros. Chegámos ao final de Janeiro e ainda nada se sabe sobre o que vai acontecer no Campo Pequeno. Não é normal. Por isso o "Farpas" foi saber. É nossa obrigação informar os leitores. Foi para isso que se fizeram os jornalistas
Miguel Alvarenga - Estamos no último dia de Janeiro e ainda não há nenhum
fumo branco no
Campo Pequeno.
Paula Resende, administradora da insolvência, deu há cerca de uma samana
"carta branca" a
Rui Bento para começar a montar os cartéis, mas o director de
Actividades Tauromáquicas da primeira praça de toiros do país ainda não avançou nem assumiu nenhum compromisso com ninguém precisamente porque a indefinição continua e não se sabe ainda quais as intenções de
Álvaro Covões, o presumível novo dono, sobre o futuro taurino da primeira praça do país.
Nas últimas 14 temporadas, nesta altura do campeonato, já se falava de toureiros e toiros contratados para
Lisboa, já começava a mexida dos abonos, já se apontava a data da corrida inaugural.
Pela primeira vez, há uma total indefinição, uma inadmissível falta de clareza em todo este processo, ninguém sabe o que vai ser o futuro da primeira praça do país - e, mais escandaloso que isso, também ninguém diz nada, ninguém pergunta, ninguém averigua, parece que ninguém está assim muito interessado em saber se, na realidade, haverá ou não temporada no
Campo Pequeno. Estão todos a deixar andar até que haja uma surpresa por que ninguém espera...
Existe neste momento no
Campo Pequeno uma espécie de
vazio de poder - que está a preocupar, como é natural, todos os funcionários da empresa, cujo futuro é cada vez mais incerto. Mas que está a intrigar também todos os aficionados, num momento em que muitas outras praças do país já apresentaram as suas temporadas e os seus cartéis - e da capital ainda não se sabe nada.
Covões disse recentemente ao site
"Infocul" - o único que lhe tem sacado algumas declarações - que o seu negócio
"é a música e não os toiros". Mas é preciso que alguém o lembre que vai assumir a adjudicação de um espaço que tem mais de 100 anos de existência e uma tradição histórica e que foi feito precisamente para
dar corrida de toiros.
A escritura ainda não foi assinada. Era para o ser até hoje, 31 de Janeiro. Ao que o
"Farpas" sabe, poderá sê-lo na próxima semana. A partir daí, é de esperar que
Álvaro Covões se sente à mesa com
Rui Bento, há 14 anos gestor taurino do
Campo Pequeno, e lhe abra finalmente o livro. Sabe-se que o empresário do mundo do espectáculo não vai promover corridas de toiros, mas pode subalugar datas para o efeito - e
Rui Bento, consoante as propostas que lhe forem feitas, pode aceitar ou não ser ele a organizá-las. Ou poderão ser outros.
E também não se conhecem as intenções de
Covões. Se vai disponibilizar, a quem as quiser assumir, seis, oito, só duas, ou mesmo apenas uma, datas para se realizarem corridas de toiros. O meio taurino parece adormecido e parece não ter ainda entendido que podem passar a realizar-se por ano no
Campo Pequeno só duas corridas de toiros - ou mesmo só uma. Parece que ainda ninguém entendeu que podemos estar muito perto do
princípio do fim.
Se fosse em
Espanha, quantas manifestações já não se tinham realizado às portas de
Las Ventas? Por aqui, estamos todos sossegadinhos...
Com a provável assinatura da escritura de venda da adjudicação a
Álvaro Covões e
Pires de Lima, terminará o reinado de
Paula Mattamouros Resende, a
Dama de Ferro da Tauromaquia nacional, cujo empenho e o entusiasmo em prol da Festa nos últimos seis anos foram decisivos para elevar todo o esplendor do
Campo Pequeno - e a quem, na hora da despedida (se assim for) temos que render homenagem.
Para já, as informações que temos apontam para a assinatura da escritura com
Covões na próxima semana. A partir daí, poderão começar a surgir as novidades e pode finalmente terminar esta escandalosa indefinição que tem reinado nos últimos meses, desde o final da passada temporada - e contra a qual, escandalosamente também, ninguém mexeu uma palha.
E tudo pode acontecer: podem chegar novidades negras. E é contra isso que devíamos já estar a lutar. Ainda ninguém entendeu que o futuro do
Campo Pequeno é muito mais importante do que o
IVA das touradas subir ou não para
23%.
Se fosse em
Espanha e tivesse a ver com a
Monumental de Madrid, já tinha havido uma
"guerra civil". Mas nós, por cá, continuamos todos bem. E que seja o que Deus quiser...
Fotos Guilherme Alvarenga e Emílio de Jesus/Arquivo