domingo, 22 de julho de 2018

Apoteose na Figueira: regresso empolgante de Bastinhas na noite de todos os triunfos!

Grande corrida ontem na Figueira da Foz, marcada com emoções do outro mundo
pela tão desejada reaparição de Joaquim Bastinhas, que esteve empolgante,
como sempre! Em baixo, o brinde de Marcos a seu pai. A praça registou uma

enchente de três quartos na corrida mais esperada da temporada


Viveu-se ontem no Coliseu Figueirense uma das maiores noites da temporada. Toiros bravos e sérios, triunfo rotundo da ganadaria de Higino Soveral. Cavaleiros e forcados todos em alta numa corrida de fortíssimas emoções marcada pelo regresso do toureiro que mais falta fazia à Festa! Olé, Joaquim Bastinhas! Ainda e sempre um toureiro diferente. Tem magia!

Miguel Alvarenga - Noite de plena apoteose e redobrada emoção ontem na Figueira da Foz na corrida de abertura da Temporada de Verão, a corrida "Correio da Manhã/Centro" - marcada pela reaparição de Joaquim Bastinhas quase três anos depois do grave acidente que o ia deixando incapacitado.
Muita fé, muito querer, uma tremenda força de vontade e a arte suprema de todos os tempos trouxeram de volta às arenas o cavaleiro que mais falta fez à Festa nas duas últimas temporadas.
De novo em grande forma, Bastinhas foi recebido de pé pelo público que preenchia três quartos das bancadas do bonito Coliseu Figueirense e o director de corrida Francisco Calado teve o bonito e aficionado gesto de mandar a banda tocar mal o Maestro entrou em praça.
Frente a um grande toiro de Higino Soveral, ganadaria que ontem obteve um triunfo notável, Joaquim Bastinhas marcou o seu regresso às arenas com uma lide empolgante, a mesma raça, a mesma garra, o mesmo valor, a eterna maestria.
O público vibrou a cada ferro, a cada remate e não poupou ovações, mais que merecidas, à casta e ao valor do, ainda e sempre, mais popular dos nossos cavaleiros.
Física e moralmente recomposto, Joaquim Bastinhas terminou a sua apoteótica actuação com o tradicional par de bandarilhas e até mesmo com o salto do cavalo para a arena, um gesto que muitos consideram impensável depois de todas as fracturas que sofreu. Empolgante, emotivo, benvindo sejas! Nunca um toureiro fez tanta falta! E graças a Deus, temos Bastinhas de volta! Sempre! E como sempre!
A mais esperada das noites desta temporada ficou indiscutivelmente marcada pela triunfal reaparição de Joaquim Bastinhas - mas não só. A corrida foi das melhores a que assistimos este ano, muito por obra e graça do extraordinário e sério curro de toiros de Higino Soveral, mas também pela entrega e pelos êxitos fabulosos de todos os outros cavaleiros e dos três grupos de forcados. No final, o ganadeiro foi muito justamente premiado pelo director de corrida com volta à arena.

Toiros de verdade
e toureiros de alto calibre

Muito bem apresentados, com trapio e sem pesos excessivos - na ordem dos 470, 480 - os bravos toiros de Higino Soveral exigiram, apertaram, pediram contas, deram emoção, transmitiram e proporcionaram uma grande noite pela forma como os toureiros e os forcados lhes fizeram frente. Destoou apenas o terceiro, que coube a Rui Salvador e foi o mais reservado e mais complicado. Não que eu seja supersticioso, mas a verdade é que o toiro era do ano 2013 e ainda por cima tinha o nº 13... Coisas.
Abriu praça o Maestro João Moura com uma lide de superior maestria, lidando e cravando como só ele sabe, fazendo parecer o difícil fácil. O toiro cresceu e Moura agigantou-se. Foi uma daquelas lides "à Moura de antigamente". Público - e muitos companheiros - aplaudiram-no de pé na volta à arena.
Rui Salvador lidou o terceiro toiro, depois das muitas emoções vividas com o regresso de Bastinhas. O toiro era o mais complicado e Salvador continua a evidenciar a falta de um cavalo craque como todos aqueles que, a seu tempo, o guindaram aos primeiros postos do toureio nacional. Mas sobra-lhe garra, força anímica e valor e por isso dá a volta a todos os toiros, mesmo "sem cavalos". Lide de muita raça e muita entrega. Fez os possíveis e os impossíveis e triunfou.

Marcos: a mais bonita
das homenagens a seu pai!

A actuação de Marcos Bastinhas era aguardada com justificada emoção, também. Chamou o pai à arena e brindou-lhe a sua lide, como aliás o tinham feito Moura, Salvador e os forcados. Por fim, Marcos tinha de novo o seu pai a seu lado. E prestou-lhe a maior e a mais bonita das homenagens. Bravo e encastado o toiro, bravíssimo o toureiro. Marcos ainda não foi, nem está anunciado, ao Campo Pequeno. Não tem toureado muito. E pelo êxito que teve ontem, ficamos todos sem entender as razões desse "afastamento".
Empolgou, arrepiou e demonstrou quanta raça lhe vai na alma. Estava feliz pelo dia que todos vivíamos, pela festa do regresso de seu pai, que todos ali celebrávamos com uma alegria sem fim. E abriu o livro para honrar o apelido que leva às costas e a responsabilidade que traz em cima cada vez que toureia. Lide memorável, desde a forma como parou o toiro no centro da arena dobrando-se num palmo de terreno, à verdade e ao arrojo com que entrou pelo toiro dentro, pisando terrenos de alto compromisso, cravando ferros que levantaram o público da bancada. No final, também, a marca da casa: o par de bandarilhas, o salto do cavalo, a praça em alvoroço!
Marcelo Mendes chegava à Figueira, onde o ano passado obteve assinalável triunfo, laureado por um grande êxito na corrida de oportunidade em Lisboa. Triunfara no Campo Pequeno com cavalos que tinham sido seus e que Luis Rouxinol, num acto de louvável camaradagem, lhe colocou à disposição para essa noite. E desta vez trazia só os seus - e novos, ainda para mais. Também com um belíssimo e bravo toiro, esteve à altura e reafirmou o êxito lisboeta. Em noite de grandes triunfos, Marcelo não se ficou atrás. O público não lhe regateou aplausos. E o cavaleiro protagonizou uma lide emotiva, sentida e de enorme valor artístico.

David Gomes: está dada
a volta por cima!

O último a tourear foi David Gomes. Enfrentou o toiro maior (500 quilos) e que foi também o mais bravo e com mais raça dos seis. Levou um "aperto" inicial e só mesmo por muito pouco não veio tudo parar ao chão, havendo a registar um fantástico e oportuno quite a corpo limpo de Marcelo Mendes. O jovem cavaleiro da Malveira voltava a tourear ontem na Figueira depois de uma tarde menos feliz, em Maio, na Moita.
Recomposto do susto inicial, David Gomes cresceu, evidenciou a sua excelente equitação e intuição para o toureio e lidou em três cavalos fantásticos que lhe proporcionaram, em fim de noite, um triunfo verdadeiramente clamoroso. Arriscou, ladeou a um palmo do toiro com uma calmaria tremenda, cravou com emoção e um dos últimos curtos, mesmo junto ao director de corrida, foi qualquer coisa de fabuloso. Saíu certamente da Figueira, ontem, com a moral em alta e ciente de que pode ir longe. A Moita foi apenas e só um incidente de percurso. Que todos os toureiros têm. Está dada a volta por cima. O verdadeiro David foi aquele que vimos ontem. Expectativa aumentada para a sua apresentação no Campo Pequeno no próximo dia 9 de Agosto, onde confirmará a alternativa.

Forcados em noite emotiva

Muito bem estiveram ontem, frente a toiros dos que metem respeito e põem tudo em seu lugar, os três grupos de forcados que tomaram parte nesta primeira corrida do ano na Figueira da Foz: Amadores de Tomar, Amadores da Chamusca e Amadores de Monforte. Os três foram vibrantemente aplaudidos quando no final atravessaram a arena e o público não arredou pé da praça precisamente para os ovacionar a todos.
Pelo Grupo de Tomar foram caras Paulo Parker ao primeiro intento e Hélder Parker na sua segunda intervenção, a dobrar uma primeira de Francisco Coelho, que saíu a queixar-se do ombro. Duas pegas muito bem executadas, tecnicamente correctas e com o grupo sempre a ajudar bem.
O Grupo da Chamusca, que já triunfara na quinta-feira em Lisboa, voltou a estar ontem em grande plano com duas brilhantes por intermédio de Pedro Moreira à primeira e Hélder Delgado à segunda, depois de ter sofrido violento derrote na primeira tentativa. O grupo ajudou coeso e bem.
Nuno Toureiro, com a garra e a arte costumeiras e Vitor Carreiras, que esteve enorme, foram os forcados de cara pelo Grupo de Monforte. Também duas pegas de êxito numa noite de arte e valor para os três grandes grupos que enfrentaram os duros toiros de Higino Soveral.
Todos os bandarilheiros se exibiram em bom nível, não houve capotazos em excesso durante as lides. Houve valor nos toureiros de prata.

Cartéis rematados impedem
repetição de quem triunfa...

Por fim, o meu aplauso, justo e merecido, ao empresário Ricardo Levesinho - que depois do sucesso em Vila Franca, voltou a ser ontem um dos grandes responsáveis pela extraordinária noite de toiros a que se assistiu no Coliseu Figueirense.
Apenas um reparo (construtivo), que é muito mais um lamento do que uma crítica: é pena que já estejam rematados e anunciados os dois próximos cartéis da Temporada de Verão na Figueira da Foz. Mas isso não acontece só aqui. Acontece, infelizmente, com todas as empresas. É pena que não haja lugares em abertos para repetir quem triunfa nesta praça (e noutras) - como noutros (esquecidos) tempos, Manuel dos Santos fazia no Campo Pequeno. Ou seja, qualquer um dos triunfos que os cavaleiros ontem protagonizaram - e foram os seis! - não terá valido de nada... Noutros tempos (esquecidos, repito), quem triunfava era repetido... Hoje isso não acontece. Mas não é só aqui. É em todas as praças e com todas as empresas. Pena.
E ainda uma palavra final para a aficion, a justiça, o rigor e o extraordinário bom senso com que Francisco Calado assumiu, com a grandeza dos maiores, a direcção desta corrida de ontem na Figueira da Foz.
Voltaremos dia 4 de Agosto ao Coliseu Figueirense. Noite de alta competição com toiros de Manuel Veiga, os cavaleiros Rui Fernandes, João Ribeiro Telles e Francisco Palha e os forcados Amadores de Vila Franca e Amadores do Ribatejo.

Mais logo, não perca as completas reportagens fotográficas de Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens.

Fotos Tiago Martins, Hugo Teixeira e Pedro Pinto