sexta-feira, 20 de julho de 2018

Campo Pequeno: triunfaram todos, menos o único que mais precisava de ter triunfado...

Joaquim Alves deu volta à arena em dois toiros - segundo e quinto - e devia ontem
ter saído em ombros. Noite de grande triunfo para a ganadaria Pinto Barreiros
Apesar de ter tido grandes momentos e de o público estar claramente a seu lado
e a apoiá-lo, Francisco Palha não reafirmou ontem no Campo Pequeno os grandes
triunfos anteriores. Esperava-se muito... e ele deu-nos tão pouco...
Luis Rouxinol não deixou, não deixa nunca, os seus créditos por mãos alheias
Grande noite de Filipe Gonçalves com duas lides muito sérias 


Por morrer uma andorinha nunca acabou a Primavera. Mas nesta Primavera de tão grande esplendor de Francisco Palha não podia ter morrido andorinha nenhuma. Chumbou claramente no exame de ontem em Lisboa e o público estava a seu lado. Desiludiu. Andou para trás? Não, continua a ser quem é e tem valor de sobra. Mas podia ter tido a grande noite de consagração suprema. E agora vai ter que provar de novo. Que pena, Palhinha! Triunfo grande - de bravura e apresentação - da ganadaria Pinto Barreiros - Joaquim Alves devia ter saído em ombros -, de Luis Rouxinol e Filipe Gonçalves e dos três grupos de forcados. Foi uma grande noite de toiros! Isso foi! Triunfaram todos, menos o único que ontem precisava de ter triunfado em grande...

Miguel Alvarenga - Ontem e depois dos triunfos em Angra do Heroísmo, em Coruche, em Vila Franca e em Moura, que marcaram toda a diferença e o distanciaram a léguas do pelotão, Francisco Palha tinha que ter chegado a Lisboa e reafirmado o estatuto de grande triunfador da temporada. Tinha que ter “explodido”. Mas isso não aconteceu. Desiludiu.
Não exagerei uma linha, nem eu nem todos os que escreveram sobre os seus memoráveis triunfos anteriores, naquilo que disse de Francisco Palha em crónicas anteriores. Ele vive o seu grande momento, está a consagrar-se como Figura e distanciou-se, na realidade, do pelotão. Mas ontem...
Por morrer uma andorinha nunca acabou a Primavera. Só que na Primavera que Palhinha construiu, não podia ter morrido andorinha nenhuma.
A situação não pode ser analisada com radicalismo a mais. Não se tratava de ter que reafirmar na capital os êxitos anteriores e de “morrer na praia” se o não fizesse. Francisco Palha não deixa de ser um grande toureiro por não ter triunfado ontem como se esperava. Nada disso. Mas continuo na minha: tinha que ter rebentado o quadro. E não rebentou nada.
Todos os toureiros têm dias bons e dias maus. Mas Palhinha ontem tinha que ter tido uma grande noite. Era um exame importante, depois das provas dadas anteriormente. Tinha que ter agarrado a oportunidade com unhas e dentes. E o público estava com ele. E esteve. Esteve, sim senhor. Nem uma vaia, nem um assobio. Apenas a triste constatação de que chumbara no exame em que deveria ter ficado aprovado com louvor e distinção.
Andou para trás? Não andou nada. Continua a ser quem é. Tem valor de sobra para dar e durar. Apenas e só nos desiludiu a todos. E agora vai ter que provar outra vez.
E sabes que mais, Palhinha? Os verdadeiros amigos não são aqueles que hoje te vão dar palmadinhas nas costas e dizer-te que estiveste muito bem, o piso é que estava inclinado… Os verdadeiros amigos são aqueles que te dizem aquilo que te digo hoje aqui: tinhas que ter estado bem, não era bem, era muitíssimo bem… e estiveste, afinal, muito aquém do que se esperava, do que se te exigia e do que tinhas que ter estado. E sabes estar.
Houve o gesto senhorial de te apeares do cavalo para brindar à Drª Paula Resende e ao Rui Bento. Houve a “vergonha toureira” de teres recusado as voltas à arena, assumindo que a noite não deveria ter sido como foi. E houve momentos muito bons de toureio, de raça, da verdade que tu impões na arena. Houve atitude quando esperaste o primeiro toiro à porta da gaiola, nas vezes em que entraste pelo toiro dentro para deixar os ferros, mas depois faltou rematar as lides. Não podiam ter havido passagens em falso, ferros falhados, etc. e tal.
Esperávamos todos mais. E tinhas que nos ter dado essa alegria de ver-te confirmar no Campo Pequeno o que nos tinhas dito em Coruche, em Vila Franca, em Moura, nos Açores.
Falhar é humano, Palhinha. Também já falhei muita vez. Mas ontem não podias ter falhado. Ontem era a noite da tua máxima consagração. E porque a expectativa era enorme, porque quem pôs tão alta a fasquia foste tu, a desilusão foi ainda maior. E mais triste.
Força e moral em alta para logo à noite na Póvoa do Varzim. Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera. Mas volto a repetir: nesta tua Primavera de um tão grande esplendor, não podia ter morrido nenhuma andorinha…

Toiros de verdade!

Os toiros de Pinto Barreiros, de invejável apresentação e comportamento notável, derem brilho, seriedade, emoção e verdade a uma fantástica noite que fez esquecer, em menos de nada, a bronca da última tourada no Campo Pequeno.
Como bem disse um dia o grande Curro Romero, as broncas duram apenas dez minutos. E os toiros de Pinto Barreiros, ontem, tudo fizeram esquecer. Retomou-se a Temporada “Torista”.
Joaquim Alves foi por duas ocasiões, no segundo e quinto toiros, ambos lidados primorosamente por Filipe Gonçalves, chamado pelo director de corrida a dar a volta à arena. Atitude aficionada e carregada de bom senso assumida por Tiago Tavares, que também ontem se redimiu de uma actuação menos feliz em anterior direcção de corrida nesta mesma praça.
Só ficou a faltar a mais que merecida saída aos ombros do ganadeiro. Mas isso não compete ao director de corrida decidir. Joaquim Alves deveria ontem ter tido essa honraria. Inteiramente merecida.

Rouxinol e Filipe: em grande!

Luis Rouxinol e Filipe Gonçalves foram ontem ao Campo Pequeno “picados” com o facto de Francisco Palha se ter distanciado nas últimas corridas do pelotão. Viu-se e sentiu-se isso. Assim como quem diz: “Ai agora o rei és tu? Então vamos atirar-te do trono abaixo”. E a verdade é que atiraram. O que não quer dizer que ele não volte a sentar-se onde o rei deve sentar-se. Mas…
Os toiros, de apresentação intocável, de comportamento notável, a pedir contas, a exigir, a dar à corrida a emoção e a seriedade que eram precisas para recolocar o comboio nos carris depois do descarrilamento da última touradinha, precisavam de grandes toureiros pela frente. E tiveram-nos, sim senhor.
Luis Rouxinol não deixou, não deixa nunca, os seus firmados créditos por mãos alheias. Foram duas lides enormes, a subir de ferro em ferro, o cavalo “Douro” esteve um assombro e o cavaleiro esteve em grande.
Trinta anos de carreira, nada a provar e sempre a dar a cara e a triunfar como se fosse a primeira vez.
Filipe Gonçalves teve ontem a sua noite no Campo Pequeno. É um lutador e os lutadores transformam-se em triunfadores. Grandes ferros em terrenos de alto compromisso, a pôr a carne no assador, a provar, a demonstrar e a reafirmar que subiu a corda a pulso, que se impôs pelo seu querer, pela sua garra, pela força do seu bom toureio.
A empresa esperava a consagração de Francisco Palha para o colocar no cartel da Corrida TVI a 24 de Agosto. Isso não aconteceu.  E agora não pode acontecer. Rouxinol e Filipe bem podem agora avançar. Merecem esse prémio.

Concurso e grandes pegas

Noite grande para os grupos de forcados Amadores do Ribatejo, Amadores da Chamusca e Amadores de Cascais - cujas valentes pegas já aqui destacámos.
Pedro Espinheira (o cabo) e João Espinheira pegaram brilhantemente à primeira os dois toiros do Grupo do Ribatejo. Pelos da Chamusca foram caras, também em duas grandes pegas à primeira, Bernardo Borges e Francisco Borges. Por Cascais pegaram com destacada galhardia Carlos Dias (única pega concretizada à segunda) e Ventura Doroteia, que ganhou o prémio para a melhor pega.
Houve divisão de opiniões quando a decisão do júri foi anunciada. A pega de Bernardo Borges (segunda da noite) teve princípio, meio e fim. O toiro arrancou quando ele quis, esteve grande a recuar mandando na investida, fechou-se com decisão, aguentou a viagem e os derrotes, esta pega foi vistosa, tecnicamente perfeita e era, para muitos, a eleita, mas…
Não ponho em causa a decisão de dois jurados tão categorizados como Jorge Faria e Nuno Carvalho “Mata”, que sabem muito mais do que eu da arte de pegar toiros. O terceiro membro do júri era “um elemento” (mas quem?…) do Real Clube Tauromáquico
Enfim. No ano passado, também foi dado o prémio a um grupo e quem saíu em ombros pela porta grande foi o forcado de outro grupo…
Antes do início da corrida, actuou a Marcha da Mouraria, homenageada pela empresa e pelo público pela coragem de nos tempos que vivemos ter escolhido a tauromaquia para tema do seu desfile na noite de Santo António. Luis Rouxinol e o Grupo de Forcados do Ribatejo brindaram as suas segundas actuações a todos os elementos da Marcha.
No camarote da Prótoiro assistiu o deputado socialista Pedro do Carmo, político que tem defendido a tauromaquia sem complexos. Numa barreira estava também António Prôa, deputado municipal em Lisboa, que também defendeu as corridas quando na semana passada o PAN investiu contra elas.
Já o escrevi, mas repito: direcção brilhante da corrida a cargo de Tiago Tavares. E boa intervenção de todos os bandarilheiros.
A praça apresentou uma fantástica moldura humana e a corrida decorreu com enorme ambiente. "Torista" mesmo. Os toiros proporcionaram uma noite muito séria e de grandes emoções. Toureiros e forcados estiveram à altura. Menos Palha, que era quem mais precisava de ter estado…

Fotos Maria Mil-Homens