sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Gala encheu o Campo Pequeno na última noite de esplendor da grande temporada lisboeta

Enorme ambiente e praça praticamente esgotada na última corrida do ano no
Campo Pequeno, iniciada com o esplendor do Cortejo Histórico evocativo das
Touradas Reais de outros tempos da fidalguia
Francisco Palha: triunfador da temporada voltou a "bloquear" em Lisboa e ainda
não foi desta que teve a sua noite de delírio na arena da capital... Fica para a
próxima, paciência...
António Ribeiro Telles, o Mestre dos Mestres, deu ontem mais uma lição de
cátedra e de bom toureio, 48 horas depois da noite da sua glória em Vila Franca
Lide brilhante e empolgante de Rui Fernandes, a fechar com chave de ouro do
melhor e mais valoroso quilate o ano de comemoração dos seus 20 anos de
alternativa
Miguel Moura reafirmou temporada da definitiva explosão frente ao mais
complicado dos Passanhas. Em baixo, o Maestro Moura, a quem o público
tributou ontem a mais calorosa ovação da noite quando foi à arena receber
o Galardão Prestígio/2018 outorgado pela Administração da empresa em nome
de uma carreira gloriosa de mais de 40 anos nas arenas


António Telles deu mais uma importante lição de cátedra, Rui Fernandes teve uma lide exuberante e de extremo valor a encerrar o ano de comemoração dos seus vinte anos de alternativa e Miguel Moura reafirmou que este foi a temporada da sua explosão definitiva. Mais um triunfo da ganadaria Passanha. E um fecho de época memorável para a temporada da Campo Pequeno, com praça à cunha e um ambiente de luxo, mensagem notável passada para o exterior mercê da transmissão pela RTP

Miguel Alvarenga - Foi para o Maestro João Moura (foto ao lado) a primeira e maior ovação da noite, quando atravessou a arena para receber o Galardão Prestígio que em nome da sua história e da glória vivida em quarenta anos de alternativa lhe foi ontem outorgado pela Administração do Campo Pequeno.
A praça estava cheia, esgotada praticamente e isso foi muito importante para a imagem do grande fulgor que vive a tauromaquia, sobretudo pelo facto de ontem ter sido passada para o exterior através da transmissão televisiva da RTP. E foi importante, também, para a empresa da primeira praça do país, para a brilhante administração que tem sido feita e que ontem teve este corolário de enorme sucesso, ao jeito de cereja no topo do bolo, terminando em beleza uma temporada e um trabalho de excelência. Lisboa continua a ser indiscutivelmente o grande baluarte da Festa em Portugal. E isso deve-se não só ao contributo que todos os artistas e ganadeiros ali têm dado, mas acima de tudo à fantástica gestão da Drª Paula Mattamouros Resende e Rui Bento. Oxalá a equipa permaneça e prossiga este trabalho e este empenho notáveis em prol da nossa tauromaquia.
Artisticamente, a corrida de ontem teve os seus momentos mais altos na primeira lide da noite, uma verdadeira e grande lição de bom toureio a cavalo dado pelo Mestre dos Mestres, António Ribeiro Telles, 48 horas, apenas, depois da sua noite de glória na "Palha Blanco".
Os anos passam e a maestria, a cátedra e a juventude eterna de António mantêm-se. Mais que se manter, aprumam-se, evoluem, melhoram de ano para ano. Esteve soberbo do princípio ao fim da lide, a mais homogénea de todas e aquela que assumiu maior e mais elevado brilhantismo. Lidando, bregando, cravando com a maestria de sempre. Assim se toureia!
O segundo momento alto da noite foi vivido por Rui Fernandes no terceiro toiro da corrida. Vinha Rui com ganas de triunfar, como sempre vem e com a atitude dos que não gostam de perder nem a feijões. Uma emotiva sorte de gaiola foi, à partida, a clara afirmação de quem estava ali para rematar da melhor forma uma temporada de alto nível comemorativa dos seus vinte anos de alternativa.
Seguiram-se ferros de grande emoção a pisar terrenos de alto risco numa lide de louvor à equitação, ao brio profissional e à grande alma toureira deste cavaleiro de eleição. Entusiasmo nas bancadas, público de pé, Rui Fernandes a fechar com chave de ouro de grande e valoroso quilate um ano particularmente especial para a sua história.
O terceiro destaque vai para a lide de Miguel Moura ao último toiro da corrida, o mais reservado e mais complicado dos seis Passanhas de nota alta. Esperava parado, investia de repente e sem clareza, era um toiro que exigia e que impunha respeito. Miguel toureou-o muito bem, entregou-se e arrimou-se pondo a carne no assador, conseguindo ferros de muita verdade e realizando vistosa brega com a marca da casa. Por fim trouxe o habilidoso cavalo das piruetas, mas já quase não havia toiro...
Numa temporada em que ressuscitou e regressou à ribalta, Rui Salvador não teve ontem o fulgor de outras noites, ainda assim cravou ferros que resultaram emotivos pelos terrenos que pisou e que não deixam, nunca, de lembrar aqueles outros impossíveis que marcaram e marcam a sua trajectória de grande valor neste mundo dos toiros.
Francisco Palha voltou a "bloquear" no Campo Pequeno e as coisas voltaram a sair ao contrário na capital. Não é uma corrida que estraga uma temporada enorme como a que ele protagonizou, nem é um insucesso como o de ontem que retira uma vírgula à história que Francisco escreveu neste ano de plena consagração. Continua a ser indiscutivelmente o grande triunfador desta temporada. E um dia, acredito, acreditamos todos, há-de chegar ao Campo Pequeno e viver a sua noite de delírio, igual a todas as que viveu este ano noutras praças. Toda a vida aconteceu às primeiras figuras um desaire como o que ontem teve Palhinha.
Marcelo Mendes é um toureiro super simpático e a sua simpatia contagia qualquer público. Deu, comovidíssimo, uma muito apaudida volta à arena, presumo que convencido de que tinha sido o triunfador da noite. A sua lide foi vistosa e emotiva, mas as reuniões foram quase todas passadas, com o cavalo atravessado e sem repetir o triunfo que aqui teve em Junho e que motivou a sua repetição nesta Gala. O público gostou e aplaudiu. O público ontem estava ali para se divertir, para bater palmas e para viver uma noite de esplendor.
Principalmente Telles, mas também Fernandes e Moura destacaram-se numa corrida de grande ambiente, em que pontificou - e marcou - um excelente curro de toiros de Passanha e que teve início com o sempre empolgante Cortejo Histórico a evocar as Touradas Reais dos tempos outros da fidalguia.
No campo da forcadagem, vimos duas grandes pegas dos Amadores de Lisboa, a primeira de Martim Cosme Lopes, ao primeiro toiro e a segunda de Vitor Epifânio ao terceiro, ambas à primeira tentativa. João Varanda fez a terceira pega do grupo lisboeta, uma pega "estranha", ao quinto toiro, à segunda tentativa.
Os Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, incluídos muito justamente na última corrida do ano em Lisboa depois da saída aos ombros pela porta grande de Diogo Amaro na temporada passada, fizeram também duas enormes pegas, a de João Armando ao quarto toiro, que apesar de ter sido consumada à terceira foi um pegão; e a do cabo Marcelo Lóia, à primeira, ao último toiro. A primeira pega do grupo, ao segundo toiro da noite, foi executada pelo já referido Diogo Amaro ao primeiro intento, mas como se pode comprovar na visualização da transmissão televisiva, deveria ter sido repetida por o forcado não ter ficado correctamente fechado na cara do toiro.
Pedro Reihnardt dirigiu a corrida com o maior dos acertos e com o habitual rigor e isenção.
Vários deputados no camarote de honra, muitas caras da vida artística e televisiva na bancada e uma praça replecta de um público entusiasta e predisposto a aplaudir marcaram a última grande noite da temporada do Campo Pequeno - e só isso foi importante, para mais, com honras de transmissão televisiva e dando para milhões de telespectadores, aficionados ou não, uma imagem da grandeza e do fulgor que a tauromaquia está a viver num ano de praças cheias.
Até para o ano, Campo Pequeno!

Fotos Emílio de Jesus