sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Manuel Gonçalves: 9 anos de saudade

Manuel Gonçalves foi um dos mais marcantes empresários tauromáquicos
do final do século passado. Deixou-nos faz hoje 9 anos
Campo Pequeno, anos 80. Manuel Gonçalves com Miguel Alvarenga e Fernando
Camacho, outra grande referência do nosso mundo tauromáquico, com quem
se viria a incompatibilizar nos últimos anos de vida. Não se falavam, mas nutriam
ou pelo outro admiração e respeito. Até ao fim
Manuel Gonçalves com João Moura e Miguel Alvarenga. Em baixo, a capa
do jornal "Farpas" aquando da morte do famoso empresário

O empresário Manuel Gonçalves morreu há nove anos. Foi um visionário, viveu sempre à frente do tempo

Miguel Alvarenga - Dizia o emblemático taurino Fernando Camacho que "houve dois Manéis que revolucionaram e marcaram a Festa e foram os únicos que ganharam dinheiro a sério nos toiros, o dos Santos e o Gonçalves".
Manuel Gonçalves e Manuel dos Santos foram distintos - mas marcaram o século passado no que à actividade empresarial taurina diz respeito.
Manuel Gonçalves morreu prematuramente há nove anos, vítima de uma queda nas escadas da casa que estava a reconstruir na aldeia de Mizarela, no concelho da Guarda, onde nascera e onde está sepultado.
Não era um grande aficionado, nem um entendido em tauromaquia, mas foi um empresário visionário, com um sentido único de espectáculo - e viveu muitos anos à frente do seu tempo. E era um homem de uma verticalidade e de uma seriedade à prova de bala. Podia levar uma semana, um mês, a discutir o cachet de um toureiro, mas pagava escrupulosamente o que combinava, estivesse a praça cheia ou vazia.
Iniciou a sua vida empresarial em Moçambique, para onde foi viver ainda jovem e onde casou, organizando todo o tipo de espectáculos: combates de boxe, concursos de misses, concertos musicais - e também corridas de toiros na Monumental de Lourenço Marques, que era sua.
Levou a Moçambique as grandes estrelas da música e do espectáculo, de Amália a Raul Solnado - e levou também à sua praça as maiores figuras do toureio da época.
Depois da descolonização exemplar, deixou a terra que amava e onde deixara raízes e regressou a Portugal, como dizia, "com uma mão atrás e outra à frente". Refez a vida em França, foi empresário de muitas praças de toiros naquele país, onde promoveu a corrida à portuguesa com cavaleiros e forcados, prosseguindo a actividade de que Nuno Salvação Barrero fora pioneiro.
No início dos anos 80 voltou para o seu país e foi empresário do Campo Pequeno, onde a primeira corrida que montou foi o mano-a-mano entre Álvaro Domecq e João Moura que pôs termo à célebre "Guerra das Esporas" e que era desejado pelas empresas das principais praças de Espanha, como Sevilha e Madrid. Montou outros mano-a-manos célebres, como o de Moura e Paco Ojeda, inventou e consolidou corridas que se tornaram das mais importantes no calendário taurino nacional, como a do "Correio da Manhã", a da Rádio Renascença (com que esgotou em vários anos a Monumental de Santarém), a da TV/Norte na Póvoa de Varzim e também a do "Farpas", iniciada na Moita pelos empresários António Luis Raimundo e Inácio Ramos, mas de que ele foi depois promotor até à sua morte.
Chegou mesmo a apoderar alguns toureiros, como Pedrito de Portugal e foi um dos grandes impulsionadores do arranque da carreira do cavaleiro Luis Rouxinol. Nos anos 90, relançou a fórmula das corridas de seis cavaleiros, que ao tempo caira em desuso e foi muito criticado por isso - mas hoje são vulgares, em cada temporada, inúmeros cartéis com seis cavaleiros.
Na tauromaquia portuguesa e sobretudo na actividade empresarial, haverá sempre um antes e um depois de Manuel Gonçalves - faz imensa falta à Festa.
No 9º aniversário da sua morte, aqui lhe rendemos homenagem. Mais que merecida. Com saudade.

Fotos M. Alvarenga e Emílio de Jesus