domingo, 9 de agosto de 2020

Alcochete, 6ª pega: heróica despedida (de caras e de cernelha) de Daniel Gonçalino

Para terminar a sua apoteótica actuação ontem à noite na sua praça, o glorioso grupo de forcados Amadores de Alcochete decidiu brindar o público com uma pega de cernelha, sorte que começa a estar em desuso e que muitos aficionados gostam também de ver.

O toiro de Fernandes de Castro, bravo, nobre, imponente de apresentação (610 quilos), vencedor do prémio de bravura neste 38º Concurso de Ganadarias Associadas, era um toiro cheio de sentido, dos que não perdoam erros, dos que exigem, "metem mudanças" e pedem aos artistas o bilhete de identidade.

Foram para a cernelha os forcados Daniel Gonçalino (cernelheiro), a quem o cabo Nuno Santana brindara, três toiros antes, a sua monumental pega de caras e que no final despiu a jaqueta e abandonou uma carreira de enorme mérito; e João Ferreira (rabejador).

O toiro não lhes facilitou o trabalho, esteve sempre com um sentido enorme na presença dos dois forcados e a primeira tentativa resultou frustrada, mas teve a seguir um dos maiores momentos da noite: Daniel Gonçalino viu-se isolado na cara do poderoso toiro e não esteve com meias medidas, pegou-o de caras, heroicamente, sózinho, aguentando uma brutalidade de derrotes até os companheiros chegarem. O público explodiu naquela que foi uma das maiores ovações da corrida. Dir-se-ia, com a maior das justiças, que o toiro estava pegado e mais que pegado. Mas o Grupo tinha optado por uma pega de cernelha e não de caras e a dupla voltou à arena.

Mais uma tentativa sem sucesso, desta vez pelo mau posicionamento de um dos campinos, que acabou por inviabilizar a cernelha quase concretizada e depois, à terceira. foi de vez. Pega perfeita, praça toda de pé.

No final, Daniel Gonçalino foi à arena, despiu a jaqueta e entregou-a, num momento de particular emoção, ao cabo Nuno Santana. A sua despedida das arenas ficou marcada por uma pega de caras e outra de cernelha, a evidenciar e recordar a carreira brilhante deste forcado que não vamos mais esquecer.

As regras da "nova normalidade" aboliram, como se sabe, as voltas à arena, mas o público exigiu-a e o director de corrida não foi contra. Daniel Gonçalino terminou a sua gloriosa trajectória de forcado "quebrando as regras", mas ontem impunha-se que isso acontecesse. Alcochete sempre honrou os seus valentes Forcados!

Fotos M. Alvarenga