sexta-feira, 7 de agosto de 2020

"Folhetim Monforte": RTP já não transmite a corrida


Depois de todas as polémicas que envolveram a sua realização, a corrida do próximo dia 28 na praça alentejana de Monforte já não será transmitida pela RTP e corre mesmo o risco de não se realizar.

A Casa do Pessoal da RTP "saiu do barco" depois de a Câmara Municipal de Monforte também se ter demarcado da corrida e Luis Castro (presidente da Casa do Pessoal) está agora em conversações com outra empresa para realizar aquela que será a segunda corrida transmitida esta temporada pela estação estatal.

No epicentro da polémica esteve, como é do conhecimento público, uma dívida do empresário João Duarte a três grupos de forcados amadores (Tertúlia Terceirense, Ramo Grande e Real Grupo de Moura) desde uma corrida que promoveu em Agosto de 2010 na Monumental da Ilha Terceira, nos Açores.

Para levar a cabo esta corrida em Monforte sem ter problemas com a dívida aos forcados, ter-se-à formado em Março deste ano uma nova empresa, a Bússolas e Descobertas, gerida por Maria de Fátima Pinto, companheira do empresário João Duarte, mas a Associação Nacional de Grupos de Forcados nunca acreditou que não fosse o próprio empresário, ainda que indirectamente em termos legais, o promotor do espectáculo e aconselhou os seus grupos a não pegarem, dando a Duarte um prazo (12 de Agosto) para liquidar a dívida.

As associações de Toureiros e Ganadeiros solidarizaram-se com a ANGF, o que veio ainda mais dificultar a promoção da corrida - em que se festejariam os 40 anos de alternativa do cavaleiro Paulo Caetano -  e a gota de água final que fez transbordar o copo foi, há dois dias, a demarcação por parte da Câmara de Monforte, que levou também a Casa do Pessoal da RTP a sair do barco e a não transmitir a corrida.

Numa primeira fase e face à possível renúncia dos dois grupos de forcados anunciados - Monforte e Beja - em pegar a corrida, João Duarte ainda tentou contratar o grupo não associado dos Académicos de Coimbra, mas o cabo Ricardo Marques recusou, afirmando estar solidário com a posição da ANGF. Posteriormente, o empresário contactou também Francisco Costa, antigo cabo dos Amadores Lusitanos, para formar uma selecção de forcados, como o fizera em duas Corridas "Farpas", há uns anos, quando esta corrida também esteve "vetada" pela Associação de Forcados - mas Costa recusou também.

Entretanto e alegando que a sua empresa não deve um cêntimo a ninguém - o que é normal, visto também nunca ter organizada ainda nenhum espectáculo - a nova empresária Maria de Fátima Pinto entregou o caso à mediática sociedade de advogados Camacho, Nunes & Associados e acusa a ANGF de "lhe querer extorquir dinheiro de uma dívida que nunca contraiu".

Já deram entrada em Tribunal acções judiciais que, segundo afirma João Duarte, "podem parar até as corridas de toiros em Portugal", mas a realidade é que enquanto se resolvem e não resolvem, o mais certo é Monforte ficar sem corrida no próximo dia 28. Lamentável para a Festa. Lamentável numa temporada em que todos devíamos era estar unidos.

Foto D.R.