segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Luis M. Pombeiro em entrevista exclusiva: o empresário que ergueu o peito e "cortou as orelhas" à pandemia!


Senhoras e Senhores, Luis Miguel Pombeiro - na entrevista por que toda a aficion esperava! Se há pessoa que não precisa de apresentações - é ele. Empresário tauromáquico já há mais de três décadas, ele é o homem de que se fala nos últimos dois anos, o de 2020 e este, precisamente os anos terríveis da maldita pandemia - contra a qual avançou de peito feito, qual guerreiro numa Cruzada que era preciso ganhar - desde que assumiu os comandos da praça de toiros do Campo Pequeno como seu gestor taurino. É o homem de que se fala - mal e bem. Há os que aplaudem o seu trabalho e sobretudo o facto de não ter cruzado os braços e ter sido o primeiro a reabrir a actividade tauromáquica a nível mundial depois da chegada da Covid-19; e há os que criticam, maldizem e, à boa moda portuguesinha, o procuram denegrir pelo que fez e pelo que não fez e devia ter feito. Mas que eles não fizeram nem deixaram de fazer. E ele fez.

Somos Amigos de verdade há mais de quarenta anos e isso nunca me impediu de ser imparcial no que escrevi sobre ele e de lhe dizer na cara o que achava bem e o que achava mal. E a sinceridade foi sempre recíproca.

Tratamo-nos aqui por você - e não estranhem. Ditam as regras jornalísticas - e assim me ensinou Vera Lagoa - que não se trata um entrevistado por tu.


Pombeiro abre aqui o livro. Faz o balanço de dois anos difíceis ao comando de uma das principais praças de toiros do mundo. Levanta algumas pontas do véu sobre os seus projectos para 2022. Diz que no que toca aos toureiros que apodera, para já só está certa a continuidade ao lado de Duarte Pinto, o resto se verá no princípio do ano que está a chegar. Sobre as outras praças, continuará onde o quiserem. E vai ponderar candidatar-se a outras, menos à de Santarém, que considera dever continuar a ser gerida pela Praça Maior.


Assume que cometeu erros, mas garante que está na Festa por bem - e que vai continuar. Porque gosta de desafios e porque acredita nele próprio.

 

E não me alongo mais. Venham daí, vamos falar de toiros com Luis Miguel Pombeiro!


Entrevista de Miguel Alvarenga


- Em 2020, acabada de chegar a maldita pandemia, quando se candidatou à adjudicação do Campo Pequeno, alguma vez pensou que ganharia? Qual foi a sensação?…

- Quando se concorre é porque se acredita que se pode ganhar. Se assim não fosse ficaríamos sossegados. Existiram várias propostas, mas acabaram por ser aceites duas já na fase de abertura das mesmas porque uma foi excluída e outra terá sido retirada. Comecei nisto em 1989, já lá vão uns anos, e sempre que entro em desafios é porque acredito em mim e nas minhas capacidades. Claro que há sempre erros e também estamos num meio em que há muitos "treinadores de bancada" que nos batem nas costas mas depois por trás só criticam. Acho, sinceramente, que na situação actual e eventualmente na futura, para os tempos que correm fiz o trabalho possível e do qual me orgulho. E aceito as críticas, mesmo aquelas que não têm razão ou aquelas que vivem apenas de um passado que não voltará mais. O Campo Pequeno teve corridas em que as pessoas se divertiram e manifestaram-se ruidosamente com ovações e palmas e há quem insista em dizer que não foi bom... O que fazer? Seguir em frente sem medos e acompanhando os tempos e as vontades.


- Não foi fácil, num ano assim, “ficar com a criança nos braços”… Encontrou muitas dificuldades para montar os cartéis?

- Não foram anos nada fáceis e não vislumbro que os próximos possam ser melhores. Não só pelo tema da pandemia, mas também pela situação política. 

Os cartéis são sempre difíceis de montar, seja em Lisboa, em Madrid ou em outras praças deste nível. Repare que falamos da nossa Catedral do Toureio. Não falamos de uma praça qualquer, embora para mim todas tenham importância. Se no primeiro ano foi difícil, esta segunda temporada foi dificílima! Há Toureiros que não perceberam ou não querem perceber o que se está a passar, não só em termos de pandemia mas também num futuro próximo. E repare que falo de Toureiros e não de Ganadeiros, porque esses têm sido inexcedíveis na defesa da Tauromaquia. As contratações foram as possíveis em 2020 com quem tem horizontes mais largos e em 2021 também. No próximo ano voltará a ser difícil, pois trata-se, como já disse, da primeira praça do país. Mas tivemos grandes corridas e mesmo naquelas que não tiveram o público desejado assistimos a bons triunfos de muitos dos intervenientes!


- Entretanto e antes de lhe ser entregue o Campo Pequeno, anunciara já a corrida de Estremoz, que reabriu a Tauromaquia a nível mundial. Um passo em frente, quando muitos outros empresários preferiram dar passos atrás. Sentiu-se “o salvador da Pátria”?…

- Não! Nunca fui nem serei de alimentar egos. Talvez em muitos casos peque por ser demasiado humilde. Mas sabe bem como sou e que o único objectivo que tenho é defender a Tauromaquia e não a deixar morrer às mãos dos antis e de outros que por aqui andam mas que, como só pensam e só olham para os seus umbigos, acabam por ser os piores. Os que deram um passo atrás em 2020, depois deram "passos à frente" em 2021.

 

- Acha que um dia os aficionados lhe saberão agradecer tudo o que fez em 2020?…

- Faço tudo pelos aficionados, mas nada para que me agradeçam. O melhor agradecimento é estar em paz comigo mesmo e ter o sentimento do dever cumprido. Fiz apenas o que me competia!

 

- “Safou-se” a corrida de abertura, estou a falar de Lisboa, foi óptima a dos Mouras e encheu a última, com Pablo Hermoso. As outras corridas foram “uma ruína”, presumo, em termos económicos. Como se salvou desse “naufrágio”?

- O naufrágio não aconteceu, tanto que ainda aqui ando e andarei por mais anos! Houve corridas em que acreditei demasiado nos cartéis e afinal goraram-se as expectativas. Em termos de toiros, nestes dois anos não haverá nada a apontar, muito pelo contrário. De êxitos de Toureiros na arena também foi muito bom. Depois, provou-se o que já se sabe e que tem vindo a sentir-se, é que mesmo os que estão na linha da frente não trouxeram gente à praça. Porque toureiam demasiado? Porque quando chegam ao Campo Pequeno já estão muitos vistos? São tantos os factores… 

Também, há que dizê-lo, a temporada era para arrancar em Junho e teve de ser adiada por três vezes devido à não autorização de corridas em concelhos de risco, como foi o de Lisboa! Isso motivou a que a temporada apenas arrancasse em Agosto. Os abonados pagaram em Maio 6 Corridas! O que faria? Devolvia o dinheiro de duas e dava apenas uma em Setembro e outra em Outubro? Diria que essas duas datas passariam para 2022? O que diriam? Quem é que comprava mais abonos antecipadamente? Temos de pensar sempre no futuro, seja a minha ou outra empresa. Algumas pessoas não entendem bem o que se passou, o que se está a passar e o que se poderá vir a passar. Vivem relegados a um passado que já não volta.




- Como vai "dar a volta" em 2022?

- Com seriedade, seja dos toiros apresentados, da disponibilidade dos Toureiros e dos Forcados e da adesão do público que verdadeiramente vive uma noite de toiros no Campo Pequeno! Podem existir muitas praças e muitas corridas de êxitos, mas uma noite no Campo Pequeno é sempre diferente! Há um glamour inigualável e um ambiente extraordinário com um público que vai para se divertir e extravasar os seus sentimentos. Noites de triunfo no Campo Pequeno são sempre diferentes e lembre-se de que quando o Campo Pequeno esteve fechado para obras as temporadas não eram a mesma coisa, faltava sempre Lisboa... Em 2022 haverá novidades nos abonos com descontos aos abonados e com diversificação de preços entre as diversas corridas para o público em geral. Existirão corridas mediáticas… e mais não digo...


- Claro, o segredo é a alma do negócio! Mas isto é importante que se saiba: diz-se que haverá menos corridas no Campo Pequeno no próximo ano, fala-se em quatro. É verdade? E porquê?

- Meu caro Miguel, nós estamos em pandemia há dois anos e o Campo Pequeno (a concessão) foi vendido depois de uma insolvência. Esquecem-se disso? A Sociedade que detinha o Campo Pequeno faliu. Ainda durante a gestão da insolvência houve uma "desobrigação" por parte da proprietária do imóvel Campo Pequeno, a Casa Pia, do número de corridas de toiros a serem dadas anualmente. Passou a ser obrigatório apenas uma corrida! E não foi agora nesta gestão! A concessão do Campo Pequeno foi vendida ao maior empresário de eventos, de grandes concertos e festivais de música e não só (um dos mais conceituados do mundo), mas para quem a Tauromaquia, como todos sabemos, não é o seu negócio. E nestes dois anos teve inúmeros adiamentos e cancelamentos de concertos e de outros eventos. Mais de 85% dos espectáculos foram cancelados ou adiados em Lisboa e por todo o país. Imagine o que isso é e o que isso representa para uma empresa, mas também para todos os agentes que dependem de toda essa economia. Houve gente desesperada e a passar muito mal! Um concerto tem todo um backstage de pessoal que, pura e simplesmente, deixou de trabalhar. Claro que a Tauromaquia ficará limitada em termos de número de espectáculos na Catedral. Porque a Cultura no Campo Pequeno não é apenas a Tauromaquia. Não era o que queriam os fundadores da Praça mas a transformação da Praça em Sala de Espectáculos polivalente e em Centro de Lazer deu outras valências ao imóvel, que estão a ser exploradas. Por isso é natural que haja uma limitação de datas. Mas tudo depende da evolução da pandemia e das restrições impostas. Logo se vê também o que o público pretende. Volto a dizer que não podemos viver no passado e dizer que antigamente é que era bom. Isto, em todos os aspectos da Tauromaquia. Há todo um trabalho a fazer a nível nacional de divulgação e promoção da Tauromaquia que, salvo honrosas excepções, não tem sido feito. 


Bem sei que em seis corridas, que foi o número de espectáculos em Lisboa em 2020 e em 2021, não se pode “meter o Rossio na Rua da Betesga”. Mesmo assim, faltaram alguns nomes sonantes. Disse-se que Ventura e Rui Fernandes estavam praticamente certos e você mesmo anunciou no início da temporada (2021) que viriam a Lisboa Pablo e Ventura, em corridas diferentes, obviamente. O que aconteceu para que Ventura acabasse por ficar de fora?

- Também pensava que seria possível... Não foi. Tenho pena que não tivesse acontecido, mas não adianta viver no passado. Tiro as ilacções e projecto o futuro.

 

- Já há datas e nomes para a temporada lisboeta de 2022? Quais são as grandes cartadas que jogará?

- Há datas que, repito, dependem da evolução da pandemia e de outros eventos e já há toiros e toureiros contratados. Forcados também já estou a ultimar. Irá ser uma grande temporada, disso pode ter a certeza - e em todas as praças. A Cultura é segura e não há memória de terem existido focos de Covid nos espectáculos culturais! Esse é o melhor cartão de visita para que se frequentem as Salas de Espectáculos. Sempre com os devidos cuidados, mas felizmente as novas variantes do vírus são menos perigosas.


- Não respondeu à pergunta...

- Tenho grandes cartadas para jogar, tudo depende de muita coisa, mas por agora fico-me por aqui. Só falo das coisas quando estão concretizadas. Não vale a pena estar a fazer especulações, não é o meu género, nunca foi. Mas posso assegurar que estou a preparar uma temporada para ficar na História!


- E vai continuar a gerir todas as outras praças, exceptuando a do Cartaxo, onde já disse que terminara a sua missão?

- Ficarei onde quiserem que eu fique. No Cartaxo a parceria acabou e, como tal, sinto que já cumpri a minha missão naquela praça e acho que bem.

 

- Pensa concorrer a mais praças? Para já, Santarém, Montijo e Figueira da Foz são as que irão a concurso. Está de olho nalguma delas?

Uma empresa de Tauromaquia e de Eventos deve diversificar mercados. Por isso, depois de estudar os cadernos de encargos é que tomarei decisões.

Em relação a Santarém, penso que depois da fabulosa gestão realizada pela Associação Praça Maior, não seria eu que iria concorrer, pois não seria capaz de fazer melhor! Penso que a obrigação de todos nós, empresários, toureiros, ganadeiros, é criar condições e pedir que a gestão da Monumental de Santarém se mantenha por muitos e bons anos nas mãos de quem a levantou.

 

- Corre à boca cheia que há outros empresários interessados no Campo Pequeno e que alguns até terão já pedido audiências à empresa concessionária para tentar tomar o seu lugar… Como convive com essas situações?

- São situações que se falam e algumas são verdade… embora sejam mais as nozes que as vozes. Já estou vacinado para os "falatórios" e, como diria um amigo meu, "já não entro ao trapo com facilidade". Cada um tem o direito de fazer o que quiser, pois estamos num país livre.

 

- E os apoderamentos? Vai mantê-los todos, suprimir algum, acrescentar qualquer outro?

- No início do ano decidirei (ou decidiremos, pois não depende apenas de mim), depois de conversarmos e de se fazer um balanço. Até agora só tive tempo para estar com o Duarte Pinto e manteve a sua confiança em mim, pelo que desde já lhe adianto que em 2022 continuaremos. 


- Quem compõe actualmente a sua equipa no Campo Pequeno?

- A equipa é pequena. Tenho a meu lado o meu filho Guilherme e o Tiago Martins, além de funcionários eventuais para os eventos que são avençados ou contratados apenas para a temporada ou para dias específicos. Na próxima temporada terei mais apoio do Pedro Penedo com o tema dos toiros. Aguardo também reuniões para aumentar a equipa no que diz respeito ao marketing e publicidade. A seu tempo divulgarei as novidades que tenho para 2022 quanto à equipa do Campo Pequeno e das outras praças.



- E a história de Simón Casas e da empresa espanhola onde entrou e afinal apenas organizou um festival em Aracena? Houve, na realidade, alguma cooperação com Simón Casas ou tudo não passou daquele célebre almoço em Sevilha?

- Simón Casas explicou bem que não havia nenhuma sociedade, mas tão somente uma congregação de ideias e de caminhos na defesa da Tauromaquia. Ouvir e falar com o produtor Simón Casas é um prazer, uma honra e tenho pena de não ter tempo para aprender mais com ele. Falamos regularmente, mas a pandemia veio afectar uma maior proximidade. 

Quanto à empresa que se iniciou este ano e já com as praças entregues, realizou um festival em Aracena com uma categoria enorme e será para continuar, desde já lhe dizendo que haverá mais duas praças adjudicadas à Iberia Toros. Devagar e com cabeça… E orgulho-me de ser o primeiro português com uma empresa de tauromaquia em Espanha e que irá continuar até conseguir o objectivo principal que meti na cabeça… Aliás, quando a empresa foi constituída, já as praças estavam entregues. Tenho uma grande amizade com o Luis Garzón e com a sua Família, pelo que o caminho que ele traçar será o que se seguirá.


- Para 2022 em Lisboa projecta mais uma corrida de matadores ou, pelo menos, alguma corrida mista, ou vamos ver só cavaleiros?

- Depende do número de corridas que ali se venham a realizar. A minha intenção é ter uma mista, mas de praça cheia! Se conseguir concretizar óptimo. Esta temporada além de um Ciclo de Novilhadas na Azambuja, organizei uma série de corridas mistas. Este ano vamos ver, pois depende muito das circunstâncias. Mesmo assim houve quem criticasse… por isso, como vê, é impossível satisfazer toda a gente e as críticas muitas vezes vieram de quem diz defender o toureio a pé. Está tudo dito... Por isso, repito, se aquilo que tenho pensado for possível concretizar, será anunciado a seu tempo. Não anuncio quem está contratado e quem não está, mas está tudo muito avançado. É o que posso dizer de momento e até à apresentação dos cartéis. Como sabe, o Governo em Janeiro anunciará novas medidas e depois em Março decidirá sobre o fim ou a continuidade do estado de calamidade, consoante se apresentar a situação pandémica. Estamos todos expectantes, embora saibamos que não será lícito que se continue a parar a economia depois de estarmos quase todos vacinados e só não está quem não quer. Fechar o país ou limitar o país seria admitir que fomos enganados e que afinal as vacinas de nada serviram. Por isso, acredito que a luz será verde e que poderemos voltar a ter a Cultura a funcionar em pleno. Volto a dizer que a Cultura é segura e não pode ser comparada com outros eventos como, por exemplo, os desportivos.

 

- Em suma, que balanço faz destes dois anos à frente do Campo Pequeno? Valeu a pena? Tem a consciência de que podia ter feito melhor?

- Trabalho, trabalho e trabalho. Pandemia e mais pandemia. O balanço da dedicação e da defesa da Tauromaquia é positivo. Financeiramente, há que saber esperar pelo fim da pandemia e que as pessoas estejam à vontade e principalmente com vontade.

Vale sempre a pena quando a alma não é pequena e quando se faz o que se gosta. Tenho sempre a consciência de que poderia ter feito melhor, mas mais importante é ter a consciência, hoje, do que não deveria ter feito! Porque se pensasse se tivesse feito assim ou assado, nunca saberemos porque não se efectivou. O que sei com toda a certeza é o que não voltarei a fazer. E reconhecer tais situações já é uma vantagem.


- E o trabalho da APET (Associação de Empresários) e das associações da tauromaquia, como a ProToiro?

- Da APET não tenho conhecimento do que tem sido feito e digo-o com sinceridade, pois ou não tenho recebido emails ou não sei o que se tem passado. Depois do bom trabalho de terem conseguido passar de 30 para 50 por cento as lotações da maioria das praças, não voltei a saber mais nada da APET. Da Protoiro e também da APET aguardo novidades sobre a anunciada acção contra a discriminação do IVA que foi interposta ou anunciada em 2020. Penso que tem sido um trabalho que não se vê, mas que aguardo pela Assembleia para ver os frutos. Eu e outros esperamos pelas reuniões magnas, pois é nesse local que devemos colocar as nossas dúvidas, dar opiniões e criticar o que acharmos mal, pelo que, em público e aqui, não serei eu a apontar erros ou omissões.


Fotos M. Alvarenga