quarta-feira, 18 de maio de 2022

Há 16 anos: morreu Fernando Camacho e foi reinaugurada a praça do Campo Pequeno


Em 1986 na Monumental do México com M. Alvarenga

Cumprem-se hoje, 18 de Maio, duas efemérides - bem distintas. Há 16 anos foi reinaugurada a praça de toiros do Campo Pequeno após seis anos de obras de total e completa remodelação, uma obra monumental levada a cabo pela Família Borges, que ao tempo geria a praça. A corrida inaugural, a 18 de Maio de 2006, contou com a participação dos cavaleiros João Moura, António Ribeiro Telles e Rui Fernandes e dos grupos de forcados de Santarém, Montemor e Lisboa, tendo-se lidado toiros da ganadaria Vinhas (cartaz em baixo). Também há 16 anos, morria o maior e mais astuto dos apoderados lusos. Fernando Camacho tinha 77 anos e o seu trágico fim ainda hoje é um mistério.

Cumprem-se hoje, dia em que foi reinaugurado o Campo Pequeno, 16 anos sobre a trágica morte de Fernando Camacho, ainda e sempre lembrado como maior dos apoderados portugueses de sempre. Suicidou-se na manhã de 18 de Maio de 2006 dando um tiro na cabeça num jardim em Alvalade, Lisboa, próximo do Aeroporto.


Presumivelmente ligada a um caso de envolvimento num processo de narcotráfico que o levara à prisão, dez anos anos, em Madrid, a morte de Fernando Camacho ainda hoje está envolvida em mistério. Não houve sequer velório, tendo o corpo seguido do Instituto de Medicina Legal, onde foi autopsiado, para o cemitério do Alto de São João, onde foi cremado, acto em que marcou presença apenas a Família e poucos amigos.


Homem marcante, com uma personalidade fortemente vincada e que foi uma das maiores e também mais polémicas referências da Tauromaquia portuguesa durante largos anos, Fernando Camacho ainda hoje é recordado como o último dos grandes apoderados que Portugal teve.


Nascido a 16 de Março de 1929 em Moura, no Alentejo, Fernando Norberto de Matos Camacho Ribeiro tinha 77 anos no dia em que morreu. Entrara no ‘mundillo’ taurino quando tinha 19 anos pela mão do célebre apoderado espanhol Andrés Gago Suárez, quando começou a representar o matador de toiros Manolo Vásquez em Portugal.

 

Na década de 60 trocou a profissão de empresário têxtil pela de apoderado – agente artístico de toureiros –, e esteve anos radicado em Sevilha.

 

No final da década de 80, princípios da de 90 foi empresário da praça de toiros do Campo Pequeno numa sociedade que integrava também Jorge Pereira dos Santos, Mário Freire, Quintano Paulo e seu filho José Manuel Ferreira Paulo (Cachapim) e António Paes de Sousa. Foi na vigência desta empresa que se comemorou o centenário da praça de toiros lisboeta.


Foi casado em primeiras núpcias com Odete Rodrigues, irmã de Amália Rodrigues, de quem teve uma filha. Posteriormente, casou e viveu o resto da sua vida com Virgína (Gina) Puppe dos Santos, mãe de dois filhos, José Maria e Conceição, que Camacho criou desde pequenos e amava como se fossem seu filhos.


Ao longo da sua imensa e recordada trajectória dirigiu a carreira de famosos toureiros como Francisco Mendes, Armando Soares, Amadeu dos Anjos, João Moura, Paulo Caetano, Joaquim Bastinhas, José Manuel Correia Lopes, João Salgueiro, Rui Bento Vásquez, Pedrito de Portugal e muitos mais. Representou em Portugal grandes figuras do toureio mundial como Carlos Arruza (mexicano) e César Girón (venezuelano). No ano em que morreu apoderava o então novilheiro João Diogo Fera, hoje matador de toiros.


Foi um homem adorado por uns e odiado por outros, mercê do seu carácter vincado e profundamente polémico. Esteve envolvido em fases e episódios marcantes da história da tauromaquia portuguesa e nos anos 80 viveu no México, onde foi apoderado do rejoneador Ramón Serrano.


Natural de Moura, como acima referimos, chegou a integrar o grupo de forcados local nos seus inícios, mas cedo descobriu a veia para o marketing e o negócio taurino, consagrando-se como um dos maiores do mundo e, de longe, o maior em Portugal.


Numa entrevista à revista “Novo Burladero” em Agosto de 1982, Fernando Camacho falava dos seus inícios no mundo dos toiros, das primeiras corridas a que assistiu com seu pai no Campo Pequeno, do dia em que foi espreitar o famoso Manolete à saída do Hotel Avenida Palace em Lisboa e o viu acompanhado por sua noiva Lupe Sino, das influências que recebeu daquele que foi o seu maior mestre, o histórico apoderado espanhol Andrés Gago (que recordava sempre com admiração e carinho), das épocas em que viveu em Sevilha e acompanhou o matador Manolo Vásquez, dos apoderamentos de Francisco Mendes e Armando Soares, de Paulo Caetano e João Moura e sobretudo das suas imensas vivências - que davam um livro que nunca chegou a ser escrito.


"Se alguma coisa desejo para a recta final da minha vida, é acabar os meus dias em Sevilha. O modo como se discute o toiro, esse silêncio da Real Maestranza, a maneira como se encara o toureio feito arte, esse bairrismo, essa defesa quase tendenciosa do toureio andaluz, fazem de Sevilha uma terra única!", dizia nesse ano de 1982.


Recordamo-lo com saudade. E a nostalgia de nunca mais ter havido outro taurino como ele.


Fotos D.R.