segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Montijo: toda a verdade!


Miguel Alvarenga - Álvarito Bronze era a estrela da tarde, sábado passado no Montijo. O cavaleiro personifica o romântico da Festa Brava, uma espécie em vias de extinção. Mas, mais importante que isso: Bronze toureia bem. Tem noções, sabe o que faz. Quantos por aí andam e ficam a léguas de distância dele? Levam-no a brincar. Mas ele é toureiro sério - é importante que se diga.
No sorteio deram-lhe a escolher o toiro. Não senhor, não quis. Foi às sortes. Saiu-lhe um toiro de Romão Tenório com 610 quilos. O peso que se lixe. Mas foi o toiro mais sério de um curro que comprometeu. Os "Tenórios" estavam grandes, mas não tinham forças, não transmitiam. Eram sonsos...
Bronze entrou em praça em segundo lugar, depois de uma lide apagada de Moura com o "Merlin", frente a um toiro distraído e desinteressado. Mandou os peões de brega para dentro, o toiro que saísse. E saíu. Ficou parado junto à porta dos curros. Bronze fez-se a ele. Toiro no primeiro estado, sem um "capotazo". Foi-se a ele, de praça a praça, feito herói, feito valente. Um ferro de pasmar. Um ferro de verdade, à antiga. Mais dois compridos idênticos. Praça em delírio, banda a tocar.
Mudou de cavalo. Nos curtos. entrou pelo toiro dentro, bateu ao piton contrário, cravou com verdade, reuniões ao estribo, a arriscar, com emoção. Quem ria, deixou de rir. Aquilo não é brincadeira.
Álvarito Bronze toureou de verdade. Toureou com emoção. Ia acabar com os outros? Não se acaba com o Maestro Moura de um momento para o outro, mas... verdade seja, dita, o triunfador maior do Montijo foi ele e só ele. Álvarito Bronze. O resto foram cantigas...
João Moura "andou" no primeiro toiro. O "Tenório" não prestava. O "Merlin" andou no seu melhor, mas a lide foi apagada e sem história.
No segundo toiro, Moura trouxe o cavalinho "dos ciganos". Pode ser um grande cavalo. Não discuto. Mas... sem cauda, mal amanhado, não me parece que fique bem a uma primeira figura do toureio mundial apresentar-se em praça com uma "coisa" daquelas... Enfim, isto já está de tal forma abandalhado que não custa a aceitar este cavalinho, mas... Moura merece mais, Moura é outra coisa. Não é isto. Não é andar pelas "barracas" a tourear com qualquer praticante, andar agora a fazer figura com um "burrinho" assim...
Manuel Lupi foi enganado e defraudado. Lidou primeiro um "Tenório" pachorrento e sem força, sem transmitir nada. Esteve brilhante, porque atravessa um momento bom. Mas a lide não transmitiu nada pela "pachorrice" do boi...
O seu segundo toiro levou dois ferros e "caíu" literalmente. Foi-se. O director de corrida, António José Martins, mandou recolher. Ficámos à espera. O empresário Abel gesticulava na trincheira, exaltado, ao telemóvel - presume-se que falava com o director. Legalmente, o toiro tinha dois ferros em cima, não havia obrigação de o substituir pelo "sobrero". Mas há o respeito pelo público. Quantas e quantas vezes não assistimos a situações semelhantes, saindo depois o "sobrero"? O público pagou para ver seis toiros e viu cinco... Foi enganado pelo empresário. E o cavaleiro também saíu defraudado.
Miguel Moura toureou em último lugar, depois das segundas cortesias. Digo e repito: dos filhos todos, este é o melhor! O novilho saíu bem. Miguel entendeu-o na perfeição e rubricou uma actuação verdadeiramente magistral. Imponente. Emotiva, com verdade, chegando ao público, lidando, cravando e rematando com imensa arte, imensa técnica e, mais que isso, muita, mas muita, regularidade.
Depois trouxe o cavalo que morde nos toiros e usou e abusou desse número. Precisa disso? Não!
Não descansaram enquanto não "mandaram embora" o Ventura, chamaram-lhe "palhaço" e outras coisas feias... e agora? Aplaudem e entram em euforia com as "mordidelas" do cavalinho do Miguel Moura? Afinal que público é este? Que aficion é esta? Os deuses devem estar loucos...
Não precisas disso, Miguel. És bom demais, como o Ventura é, para ter que recorrer a esses números. Fora com o cavalo das "mordidelas"! De uma vez por todas!
Bem os Forcados do Montijo. Um grande grupo, há alguns anos a atravessar o deserto. Encerraram-se com os seis toiros, acabaram por pegar cinco. Excepção feita ao segundo, o de Bronze, que arreava e foi pegado à segunda por Hélio Lopes com mais de vinte forcados na cara... as restantes pegas foram razoáveis e não deixaram abalar o prestígio do grupo.
O cabo Ricardo Figueiredo não esteve bem no primeiro toiro. Pegou-o à terceira. O veterano Isidoro Cirne pegou o terceiro da tarde com garbo e valentia, sem dificuldades de maior (o toiro não fez mal), mas com a galhardia que caracteriza os forcados de antigamente. Ricardo Almeida pegou à primeira o quatro toiro e Cláudio Bernardino consumou à segunda a pega ao novilho de Miguel Moura.
Os bandarilheiros cumpriram, mas não posso deixar de destacar Manuel Barahona no novilho que encerrou praça, bregando para os forcados. Valente. Decidido.
Os toiros foram recolhidos a cavalo por uma parelha de campinos e por outra composta por Pires da Costa e João Paulo. Aplausos para o labor deles!
A praça registou "meia casa" à vista, mas menos de um quarto de bilheteira. Seguiram-se "buracos" com o empresário Abel Correia a deixar para trás compromissos que não assumiu. Quem não pode ser empresário, não se estabelece como tal. Ele que falava mal dos Tendeiro, afinal revelou-se ainda pior. Menos sério, pelo menos. Acabando por prejudicar a imagem do próprio toureio que apodera - o Maestro Moura. Diz-se que não fica por muito mais tempo. É urgente e necessário que o Maestro de Monforte limpe a casa. Não se pode sujeitar a números destes.
Há mais para contar sobre a corrida do Montijo - mais logo, aqui no "Farpas Blogue"!

Fotos Hugo Teixeira