"Eu compreendo perfeitamente que
haja quem não goste de corridas de toiros. Respeito isso. Não compreendo, nem
aceito a mobilização para as proibir. Compreendo que não se entenda o que se
passa numa corrida e que não se consiga ver, nem perceber, a beleza que atrai
os aficionados. Mas já não compreendo que se insulte o que não se entende. Quem
não gosta de touradas pode, ao menos, ter o mínimo de objectividade e de
respeito pelas outras pessoas, para ver e reconhecer que aqueles que gostam e
estão a assistir não são "bárbaros", nem "selvagens", nem
"sádicos". Mas apenas pessoas que gostam de touradas, que gostam do
bailado a galope do cavalo e cavaleiro, que gostam das sortes e suas surpresas,
que gostam da bravura e raça do toiro, que gostam da coragem e garbo dos
forcados, que gostam do bailado à beira do absoluto risco do toureio a pé, que
gostam da cor, da música, do cheiro, da emoção, da incerteza, do ambiente, da
festa.
A mobilização para a proibição das
touradas radica na ideia de que é legítimo impor uma ditadura do gosto ou uma
tirania da sensibilidade oficial. Não é. Aqueles que se auto-defendem afirmando
tradições a que pertencem e que continuam protegem e afirmam alguns dos bens
mais preciosos de qualquer civilização e sociedade: Liberdade e Cultura._A
"gente dos toiros" pertence ao mundo rural. E é justamente no mundo
rural (ou no mar) que a relação entre homem e animal é mais pura e genuína,
mais próxima e mais amiga, mais natural e mais livre._O modo como as
comunidades humanas se relacionam com os animais não é uniforme em todo o mundo
e varia com latitudes e longitudes. Varia também com os animais. Isso faz parte
da própria cultura dos povos, que são diferentes: os povos e as culturas._É um
absurdo querer impor um padrão único. E é um abuso confundir e equiparar o
sofrimento humano com "sofrimento animal". Isso levar-nos-ia a
extremos caricatos - quanto à pesca, à gastronomia, à criação animal para
alimentação, àquilo que fazemos a espécies animais que, na nossa cultura,
degradamos, como répteis ou insectos._As corridas de toiros marcam a relação
homem/toiro no modo próprio das culturas que as criaram e desenvolveram. O
direito e a liberdade de as realizar e continuar merecem ser afirmados. São
actos de Liberdade e de Cultura."
José Ribeiro e Castro
Foto D.R.