Miguel Alvarenga - O que ontem aconteceu em Lousada, independentemente de as culpas serem acartadas a este ou aquele, confirma, infelizmente, a perturbante desorganização e a não menos inquietante desunião dos homens dos toiros. Num momento conturbado, em que a nível político e não só, aumentam assustadoramente os ataques à Tauromaquia, impunha-se e exigia-se uma postura diferente por parte de quem pulula neste meio. Mas continua sempre tudo ao contrário...
Primeiro: segundo constava, mas nunca se
percebe bem, dado o secretismo em que decorre sempre o que se decide e não se
decide em sede da chamada Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos
(APET), haveria um acordo entre empresários, toureiros e ganadeiros para que
não se deixassem contratar por "estranhos", isto é, por pessoas não
associadas, não empresárias "à séria".
Segundo: por muito que alegue que foi
"traído", que as culpas não são todas dele, a verdade é que o senhor
João Oliveira, organizador da tourada de ontem em Lousada, é o mesmo João
Oliveira de um escândalo em Vizela há três anos, em que, ainda há pouco o
lembrou António Nunes, deu uma corrida e não pagou aos intervenientes. Assim
sendo, há que culpabilizar também pelo sucedido de ontem, os toureiros e os
apoderados, o ganadeiro e os forcados que acederam a voltar a deixar-se
contratar pelo mesmo senhor. Se já sabiam do que "a casa gasta",
esperavam o quê? Ou andam todos a dormir ou então continuam a "ir a
todas", na mira de arrecadarem mais uns euritos, mesmo que para isso
tenham que correr riscos...
Terceiro: é confrangedor o silêncio das
associações tauromáquicas que pretendem sempre ter um protagonismo em tudo e
depois se calam quando acontecem coisas destas. O que é que a Associação de
Empresários, a de Forcados, a de Toureiros, a de Ganadeiros e a Federação
Prótoiro têm a dizer sobre o caso de Lousada? Nada?
Por menos que isto de Lousada ontem, há
não muitos anos, os homens dos toiros crucificaram na praça pública e obrigaram
a que se afastasse de vez do meio um antigo e valoroso forcado, Paulo Graça (na foto) de
seu nome (lembram-se?), que durante sete anos foi empresário de praças
importantes, entre as quais as de Salvaterra, da Chamusca e da Barquinha,
sempre honrando os seus compromissos, contratando as Figuras e dignificando a
Festa, só porque um dia, no Pinhal Novo, foi organizador de uma corrida que não
correu bem e ficou a dever algum dinheiro a um ganadeiro e a toureiros...
Hoje, muitos, e até alguns
"consagrados", fazem exactamente o mesmo que Paulo Graça fez (ou foi obrigado a fazer) no
Pinhal Novo... e ninguém os belisca.
O nosso meio taurino é fantástico, não
é?...
Foto M. Alvarenga/Arquivo