terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Alvarenga analisa primeira entrevista de Henrique Gil

Lúcia e Henrique Gil estão sózinhos neste projecto. A empresa chama-se "Toiros +"


Miguel Alvarenga - Henrique Gil deu ontem a sua primeira entrevista, à Rádio Portalegre, depois de no final do ano ter saltado para a ribalta ao adjudicar a praça de toiros de Portalegre. De "ilustre desconhecido", passou agora a "mais ou menos conhecido". Não desiludiu - é a primeira conclusão que temos que tirar. Disse o que as pessoas gostam de ouvir, estilo político em campanha: que vem por bem, que vai ser tudo em bom, que vai marcar a diferença e que a Festa precisa de uma reviravolta - que está diposto a dar.
Utilizou, como convinha, um discurso fácil, triunfalista e convincente. Há que lhe dar o benefício da dúvida e esperar para ver. E para crer, como o velho São Tomé.
Esclareceu que "está isolado" nesta "empreitada" - única e exclusivamente com a sua Mulher, Lúcia. E mais ninguém. Nem Paulo Pessoa de Carvalho, de quem se disse "grande amigo", nem João Duarte e o pai de Mateus Prieto, como se chegou a suspeitar. E está, estão, garantiram ambos, "por paixão". Resta saber se em tempo de crise se pode ser empresário - e tauromáquico, ainda por cima - apenas e só "por paixão".
A praça de Portalegre tem duas datas: uma corrida em Julho, normalmente se seis cavaleiros, mas que Gil dará com três; e a Feira das Cebolas em Setembro. O novo empresário "entrou a matar": aposta sobretudo no toiro-toiro, quer Graves na primeira corrida e nada de "nhoc-nhoc's" ou "borregos", como referiu. Primeiro os toiros, depois os toureiros (cavaleiros, no caso).
Respondeu afirmativamente quando Hugo Teixeira - que passou a noite a confundir-lhe o nome e a chamar-lhe Francisco... - alvitrou que "então, acabou em Portalegre o reinado dos Mouras e dos Caetanos", pois agora só virão os que "tourearem toiros-toiros". Foi a primeira asneira da entrevista.
Sem querer - ou de propósito - "abriu guerra" a dois clãs da terra. Hugo também não foi propriamente feliz quando insinuou que os Mouras e os Caetanos são "toureiros de nhoc-nhoc's" e por isso não cabem neste projecto da nova empresa, que se chama "Toiros +"...
Por outro lado, no tema dos forcados, assegurou, como convém, a presença dos Amadores de Portalegre nas duas corridas, defendendo que devem sempre entrar dois grupos porque é necessária a competição. "Três são demais e um é de menos", disse. Na primeira corrida entra o Grupo de Lisboa. Pode também não ser uma medida muito acertada e pouco populista excluir, à partida, outros grupos da região.
Outra asneira da entrevista: ter afirmado que "como começou em Portugal (como empresário taurino), começou em Portalegre; se começasse em Espanha, começava em Madrid". Ou seja, comparou a praça "José Elias Martins" à... Monumental de las Ventas, como se fosse a primeira e mais importante praça de Portugal. Henrique Gil quis agradar aos portalegrenses, entende-se e é legítimo que o tenha feito. Estava a fazer a sua política. Mas caíu no ridículo. E deixou muita genta a rir...
É um homem com boas ideias, educado, pouco humilde, utilizou um discurso demasiado triunfalista e quanto a mim pecou por se pretender apresentar como "salvador da pátria". Mais ou menos, disse que estava tudo mal e ao contrário, na nossa Festa - e que vinha para endireitar as coisas. Nos últimos 30 anos, já ouvimos várias vezes esse tipo de discurso e já apareceram na Festa vários "salvadores da pátria". Uns acabaram na ruína, outros pior ainda...
Confirmou "estar interessado" noutras praças, nomeadamente nas de Almeirim, de Alcácer, de Vila Franca e na espanhola de Don Benito. Praças "de que se fala" e que Hugo Teixeira referiu como possíveis "alvos" do novo empresário. "São praças que interessam ao nosso projecto", garantiu. E prometeu "novidades" para finais deste mês... Não disse que lhe interessava o Campo Pequeno, a Moita, Évora e outras... porque Hugo as não referiu. Provavelmente se tivessem sido referidas, teria também confirmado que eram praças "de interesse"...
Resumindo e concluindo, Henrique Gil é um homem que está "fora do baralho". Tem uma visão perfeccionista, isso é verdade, do que devia ser a Festa - mas uma visão de aficionado. Que não é o mesmo do que deve e tem que ser a visão de um empresário.
Disse que na primeira corrida, em Julho, será cabeça de cartaz uma primeira figura do toureiro, mas não do Alentejo. Pode estar a correr um risco. Pode ainda não se ter apercebido da "pérola" que tem nas mãos. Manuel Gonçalves realizou em Portalegre uma Corrida TV com os Moura e Joaquim Bastinhas e foi um desastre. Os Tendeiro conseguiram reunir no mesmo cartel, ao fim de muitos anos, os Mouras e os Caetanos... e a praça não encheu, apesar de ser a praça ideal para cenário dessas pazes. Por fim, montaram na última Feira das Cebolas que organizaram um cartel com Ventura, Rui Fernandes e Moura Jr. e a praça também não encheu. Pablo Hermoso já toureou com Salgueiro em Portalegre e também foi uma ruína. Há qualquer coisa que "não bate certo" em Portalegre - e Henrique Gil, provavelmente, ainda não terá tido a verdadeira consciência disso. A fórmula para mudar as coisas pode não ser tão simples como ele julga e anunciou: oferecer um quarto bilhete por cada três comprados...
Não se pode dizer que tenha desiludido nesta primeira "aparição pública". Falou bem, falou até demasiado bem - mas muito ao jeito de político em campanha eleitoral. Utilizou um discurso demasiado triunfalista e também demasiado "negativista" em relação aos demais empresários nacionais, estilo "isto está tudo mal e eu venho para salvar a pátria". Como já houve tantos que disseram o mesmo, acaba por ser menos convincente do que pensa que foi e acaba também por não ter o efeito positivo que pretendia. Fica o benefício da dúvida a um homem - e uma Mulher - que chegou (chegaram) cheio(s) de boas intenções. Resta saber se chegou ao mundo certo. E na hora certa. Ou se vem enganado para um meio que não é o seu, que não conhece a fundo e de que tem uma visão pouco real. O futuro o dirá.

Fotos Emílio de Jesus e Rita Barreiros