quinta-feira, 27 de junho de 2013

José Maria Cortes: Presente!



Miguel Alvarenga - É sempre estúpida a morte, mas há mortes mais estúpidas que outras. José Maria Cortes, um jovem de 29 anos, na flor da vida, forcado dos melhores deste país, deixou fugir a vida numa briga, esfaqueado no coração, depois de a ter "posto em causa" tantas e tantas vezes, nas arenas, frente aos toiros - que sempre soube vencer mercê da sua técnica, da sua força, da sua experiência e do seu estoicismo. Morreu sem pena nem glória - brutalmente esfaqueado. Não na cara de um toiro. Onde morrem os heróis.
Apetece escrever tudo, gritar tudo e chorar tudo. Apetece - mas não consigo.
A hora é de luta. E é de raiva. Apetece pôr em causa, como sempre, as libertinagens conquistadas neste triste "país de Abril", a insegurança em que (sobre)vivemos, o perigo e a ansiedade que sentimos sempre que os nossos filhos saem à rua - sem sabermos se voltam.
Morreu o Zé Maria Cortes. Morreu a dois meses da sua anunciada despedida das arenas. Mas os Homens como ele não morrem - permanecem para sempre na nossa recordação. Presentes.
Ele sabia do meu "diferendo" (infeliz) com os forcados. Não propriamente com os forcados. Apenas e só com o presidente da Associação de Forcados - por coincidência, antigo forcado do grupo que ele agora comandava. Mas isso jamais o impediu de me sorrir, de me cumprimentar, de me falar com a cordialidade que o caracterizava. Quinta-feira passada, no Campo Pequeno, dirigia-me com a Ana para a entrada da praça e cruzei-me com ele. Vinha sózinho, forcado na mão, barrete no ombro, rumo à porta dos cavaleiros, por onde haveria de entrar para fazer a última - e grande, enorme! - pega da sua vida (foto de cima). Um aperto de mão, um sorriso, um beijo à Ana. "Sorte. Zé Maria! Para vocês todos!". "Obrigado, Miguel", respondeu-me. E seguiu. Porra. Se soubesse que nos estávamos ali a despedir, ter-te-ia abraçado, ter-te-ia beijado, Zé Maria! Puta de vida, como diz o Miguel Esteves Cardoso. Puta, mesmo!

Fotos Emílio de Jesus e D.R.