A mestria de Joaquim Bastinhas - eterna! |
Rouxinol rubricou ontem uma das sua melhores actuações da temporada |
Arrojada lide de Sónia Matias frente ao toiro de Branco Núncio |
Moura Caetano e o cavalo "Temperamento": o temple no seu máximo expoente |
Classe na lide de Manuel Ribeiro Telles Bastos |
Incrível a actuação de grande valor de Marcos Bastinhas frente a um toiro duro de Veiga Teixeira |
Miguel Alvarenga - De um lado, João
Moura Caetano; do outro, Marcos Bastinhas. Dois jovens cavaleiros com estilos
antagónicos, mas que se completam e que podem, assim os senhores empresários o
entendam, protagonizar uma aguerrida e interessante rivalidade nos próximos
tempos, fazendo reviver, com as devidas distâncias, a última grande parelha do
nosso toureio equestre formada pelo saudoso José Mestre Batista e por Luis
Miguel da Veiga. A Festa precisa de competições e de motivos de interesse - que
escasseiam.
Moura Caetano é um toureiro de arte, um
toureiro de temple e de bom gosto. Um artista moldado ao estilo de um
Manzanares, de um Morante de la Puebla. Precisa do toiro
"colaborante", do toiro que lhe permita, como acontece com Pablo
Hermoso de Mendoza, desenhar as suas pinceladas de arte, deixar no ar o perfume
do seu eterno e apreciado temple.
Ao revés, Marcos Bastinhas está a
revelar-se um toureiro de luta, um toureiro de guerra. Próprio para toiros
duros e que "apertem", para toiros que lhe permitam deitar por todos
os poros o esforço da sua garra, as ganas do seu querer e da emoção que põe em
cada momento na arena.
Ontem, na Monumental de Santarém, foi
exactamente isso o que aconteceu. A corrida da União das Misericórdias, com uma
excelente moldura humana, tendo em conta as invulgares condições de lotação da
praça (a maior do país), tinha seis cavaleiros em cartel. Todos eles
triunfaram, cada qual ao seu estilo e frente a toiros de diversas ganadarias.
Mas o grande duelo foi travado entre Caetano e Bastinhas - e, uma vez mais, os
dois se distanciaram do pelotão e se perfilaram, como dois galos, pela luta em
prol do trono de Triunfador da Temporada.
João Moura Caetano lidou um toiro da
ganadaria de sua Avó, Guiomar Cortes de Moura, um toiro de imensa qualidade,
mas, como é apanágio da ganadaria, de escassa transmissão. Um toiro que
"obedeceu" ao mando e ao temple artístico do cavaleiro - que bordou o
toureio, primeiro com o novo craque "Belmonte" e depois com o
histórico e elástico "Temperamento". Foi uma beleza o bailado de
maravilha que nos proporcionou João Moura Caetano. Dentro desse estilo que é o
selo dos toureiros-artistas, a lide foi de sonho e teve pinceladas incríveis de
bom gosto. Caetano vingou finalmente a sua anterior passagem azarada (por falta
de toiros, não por falta do seu imenso mérito) pela Monumental de Santarém em
Junho. Brilhante!
Num tom contrário e distinto, Marcos
Bastinhas enfrentou um toiro duro de Veiga Teixeira, um toiro daqueles que
assustam e não permitem deslizes. O jovem cavaleiro de Elvas esteve arrojado e
decidido. Nos compridos, de praça e praça e atacando o oponente, que tardava a
investir, parou corações com três ferros de arrepiar. Nos curtos, rubricou uma
actuação de extrema emoção e de um mérito sem fim, vencendo com todos os
argumentos de que dispõe (excelente quadra de cavalos e uma moral acima da
média) as dificuldades que o toiro lhe foi impondo.
Triunfal qual deles? Triunfaram os dois,
cada qual no seu estilo. E deixaram antever, repito, uma aguerrida e emotiva
competição que as empresas deveriam aproveitar já nesta temporada - não se pode
perder tempo, meus senhores, que isto anda mesmo meio adormecido e estes dois
são toureiros para acordar de vez a malta!
De resto, a corrida de ontem em Santarém
teve grandes momentos e bons triunfos a cargo dos restantes cavaleiros. O
Maestro Joaquim Bastinhas foi autor de uma brilhante lide, com toda a sua
maestria, a um toiro de Vinhas que se deixou tourear; Luis Rouxinol teve uma
das suas grandes actuações deste ano, frente a um toiro de Veiga Teixeira que
"apertava" e ao qual deu a volta ao seu melhor e mais emotivo estilo;
Sónia Matias, com um toiro de Branco Núncio, reafirmou que está, de facto, no
melhor momento da sua carreira, com uma actuação meritória; e Manuel Ribeiro
Telles Bastos lidou da melhor forma, ao seu modo clássico e ortodoxo, o toiro
da ganadaria de seu Avô, Mestre David Ribeiro Telles, com ferros de muito
valor, tal como os livros ensinam e os antigos apreciam.
Não foi nada fácil o labor dos dois
grupos de forcados - Santarém e Aposento da Moita - havendo mesmo a registar
valente "sopa de corno". Valeu a valentia de todos os elementos para
a concretização das pegas. Por Santarém pegaram António Imaginário (à terceira,
a emendar Luis Sepúlveda, que se lecionou numa clavícula), Hugo Santana (à
quarta) e João Goes (à terceira). Pelo Aposento da Moita, foram à cara
Francisco Baltazar (à primeira), Bernardo Cardoso e José Henriques (ambos à
segunda tentativa).
A corrida foi bem dirigida por Ricardo
Pereira, na brega destacaram-se João "Belmonte" e Duarte Alegrete,
David Antunes e Josué Salvado, Ricardo Pedro e José Russiano, Pedro Paulino e
João Fera, João Ribeiro, António Telles Bastos e Ernesto Manuel, Ricardo
Raimundo e Gonçalo Veloso.
Ao intervalo, houve discursos e
lembranças da União das Misericórdias para todos os artistas, homenagens a
Joaquim Bastinhas (condecoração pelos seus 30 anos de alternativa) e ao forcado
Nuno Carvalho Mata - numa cerimónia que bem poderia ter decorrido nos corredores
da praça e forma mais célere, por forma a não maçar, como maçou, o público
presente nas bancadas. Estas coisas devem ser feitas mais em privado, sem
"chagar" quem paga o seu bilhete para ver tourear e pegar - e não
para assistir a discursetas e salamaleques...
Fotos Hugo
Teixeira/cortesia diariotaurino.blogspot.com