Toiros de Verdade - grande triunfo da ganadaria Charrua ontem no Campo Pequeno |
Justificada chamada à arena do ganadeiro Gustavo Charrua, com os triunfadores Marcos Bastinhas e Francisco Montoya |
Maestria de Rui Salvador foi ontem um dos grandes destaques da nocturna de Lisboa. Sempre em forma e sempre em grande. Os anos passam, Salvador continua igual a si próprio: Grande! |
Filipe Gonçalves voltou a subir degraus e justificou em pleno em Lisboa os triunfos de Santarém, que motivaram a justa atitude da empresa de o incluir no cartel de ontem |
Marcos Bastinhas esteve ontem enorme no último toiro da corrida (foto de baixo), depois de também ter rubricado uma grande actuação no seu primeiro |
Miguel Alvarenga - Ontem à noite no
Campo Pequeno, o triunfo maior, para além da heróica actuação dos três grupos
de forcados - S. Manços, Amadores da Chamusca e Aposento da Chamusca - coube à
ganadaria de António Charrua, que regressava a Lisboa depois de não ter ainda
ali lidado desde que a praça foi reinaugurada. E em boa hora vieram os toiros
da histórica divisa alentejana, pois proporcionaram uma noite de tremenda
emoção, na senda do que tem acontecido nas últimas corridas do Campo Pequeno e
também em outras praças. Parece que finalmente ficou para trás o tempo dos
toirinhos "nhoc-nhoc", regressando de vez a arenas lusas o
toiro-toiro, o toiro da verdade e também o toiro que põe, dispõe e, algumas
vezes, descompõe... Por outras palavras, regressando a emoção - que outrora era
apanágio de uma Festa de bravos.
Em algumas ocasiões, ontem no Campo
Pequeno, os toiros estiveram mesmo "por cima" dos toureiros e dos
forcados - mas há que reconhecer, com inteira justiça, que isso aconteceu
apenas, mesmo, em algumas ocasiões. Na generalidade, os três ginetese os três
grupos de forcados puxaram dos seus galões e venceram as dificuldades impostas
por toiros que não permitem deslizes e pedem contas a valer.
No final - até devia ter sido antes - o
jovem representante da ganadaria, Gustavo Maria Charrua, neto do saudoso
António Coelho Charrua, foi chamado à arena e aplaudido pelo público, mercê da
extraordinária apresentação, da codícia, da nobreza e do excelente jogo que
tinham dado os seus seis toiros. Toiros de Verdade!
No que aos cavaleiros diz respeito e
depois de já aqui ter analisado em pormenor as intervenções dos forcados que
disputaram este Concurso de Pegas, há a registar a enorme maestria de Rui
Salvador no primeiro toiro da noite, a actuação valorosa de Filipe Gonçalves no
segundo e a magistral exibição de Marcos Bastinhas no último.
Rui Salvador realizou no primeiro toiro a
sua melhor lide dos últimos tempos. Foi de frente ao toiro, venceu o piton
contrário com a ousadia que é a alma dos seus triunfos, fez-se grande,
agigantou-se e toureou como se aquilo fosse fácil um toiro que apresentava
dificuldades e não facilitava a vida a ninguém. A maestria de Rui Salvador veio
acima numa actuação que marcou a corrida e deixou a parada bem alta para os
dois jovens que se lhe seguiram.
No segundo toiro do seu lote, o
cavaleiro de Tomar voltou a evidenciar a sua experiência e os argumentos de que
dispõe para lidar toiros de verdade. Teve, em suma, uma passagem triunfal e
altamente destacada na noite de ontem em Lisboa.
Filipe Gonçalves vinha ao Campo Pequeno
justificar os triunfos de Santarém que motivaram a aficionada e justa atitude
da empresa em o colocar nesta corrida - e não defraudou quem nele acreditou.
A sua primeira lide arrancou fortíssimos
e permanentes aplausos do público. Filipe esteve brilhante a bregar, ladeando,
mudando de mão, interpretando o estilo "inventado" por Pablo Hermoso
e que muitos portugueses seguiram. É só pena que os cavaleiros portugueses
inovem tão pouco e se limitem a "copiar" o que Pablo e outros vieram
trazer de novo. Mas isso não minimiza o triunfo de Filipe Gonçalves - que foi
grande e foi importante.
O cavaleiro do Algarve vem-se destacando nas últimas
temporadas e nesta está mesmo "a ponto" de alcançar de uma vez por
todas a primeira fila. Por seus méritos próprios.
No seu segundo toiro, a lide (brindada ao Maestro José Lupi) foi talvez
menos brilhante e pode mesmo dizer-se que Filipe, aqui, não esteve totalmente à
altura do fantástico oponente que tinha pela frente, mas a actuação valeu pelo
brilhante par de bandarilhas com que fechou a sua intervenção, cravado de
frente, de poder a poder, com a verdade e a emoção que tal sorte requer.
Marcos Bastinhas é, repito o que aqui dele tenho escrito, um sério
candidato, este ano, ao trono de "Triunfador da Temporada". E, pelo
andar da carruagem, tudo indica que não vai querer perder tal honraria.
Ontem em Lisboa, depois de uma actuação
que deixou enorme sabor, ao terceiro toiro da corrida e depois dos triunfos de
Salvador e Filipe, teve o seu maior momento no último da noite.
No seu primeiro, terceiro da corrida,
Marcos entendeu na perfeição o "valor" do Charrua que tinha pela
frente e deu-lhe a lide adequada, com a usual alegria e a habitual emoção que
herdou de seu Pai, o Maestro Joaquim Bastinhas, e com que vem contagiando e
galvanizando o público em todas as praças. Não era fácil, repito, a tarefa do
jovem Marcos, depois dos sonoros êxitos dos seus dois antecessores, mas ele
esteve à altura e a primeira parte do espectáculo terminou com três grandes
triunfos dos três cavaleiros.
No último, um toiro imponente e que
impôs respeito e seriedade desde que entrou na arena, perigo mesmo, Marcos
Bastinhas esteve enorme. A sua actuação, brindada ao cavaleiro Rui Fernandes, é daquelas que se não esquecem. Ferros
de parar corações, brega arriscada ladeando a milímetros da cara do toiro,
remates de euforia. Foi uma actuação tremenda de verdade e entrega - uma
actuação que fica na história desta temporada e que marca, de forma
importrante, a carreira deste cavaleiro.
A corrida iniciou-se com um minuto de
silêncio em memória do ganadeiro Isidoro de Oliveira (Cunhal Patrício) e foi
dignamente dirigida por Tiago Tavares, um dos novos directores de corrida.
Aplausos para todos os bandarilheiros
pelas suas também brilhantes intervenções frente aos poderosos toiros de
Charrua. Olés bem altos para José Bartissol e Adriano Marques, Duarte Alegrete e Cláudio
Miguel, Ricardo Raimundo e João "Belmonte".
O Campo Pequeno registou uma das
melhores casas desta temporada, com muito mais de metade das bancadas preenchidas, o
que confirma o interesse do público pelo cartel - atractivo e bem rematado -,
pelo regresso dos toiros de Charrua e pela arte de pegar toiros, já que
decorria um Concurso de Pegas.
Quem sabe se o tão badalado e tão
contestado programa "Olé" da SIC não terá dado o seu contributo para
este enchente...
Afinal, há males que vêm por bem, não
é?...
Fotos Fernando Clemente/cortesia www.parartemplarmandar.com