Sérgio dos Santos "Parrita" vai comemorar o 10º aniversário da sua alternativa na tarde de 25 de Abril na praça de Alter do Chão. 21 anos depois da sua estreia como novilheiro no Cacém, o matador de toiros da Moita anunciou esta semana que se retira das arenas. Fomos saber por quê e passar com ele em revista os momentos que mais o marcaram nesta sua vida pelas arenas.
- Comemoras esta temporada 10 anos de
alternativa, 21 de toureio e anuncias a despedida das arenas - porquê,
"Parrita"?
- Assinalo os 10 anos de alternativa no
dia 25 de Abri e irei comemorar a efeméride na corrida forte do Alto Alentejo,
em Alter do Chao e apresentei-me de novilheiro com 14 anos numa corrida
realizada no Cacém. Esta decisão de me retirar vem pela situação actual do
toureio a pé, que em Portugal não está nada bem. A escassez de corridas e a
falta de oportunidades por parte das empresas actuais fazem com que nenhum
matador de toiros em Portugal possa desfrutar da sua profissão, viver em
profissional, sustentar-se e viver a sua vida em toureiro! Para estarmos nesta
profissão temos que dedicar-nos a ela 24 horas por dia, mas isso é impossível
cá e ir para Espanha neste momento e vingar é quase um milagre devido à
situação actual em Espanha. Por tudo isso e aproveitando os meus 10 anos de
alternativa e achando que de há dois anos para cá amadureci muito como
profissional e por considerar que estou no melhor momento da minha carreira,
aproveito esses pontos para me ir embora no meu pleno de faculdades e de
experiência para que me possa ir com alguma dignidade e, por todas essas
coisas, achei por bem dar por terminada a batalha! Chegou ao fim!
- Em traços muito breves, qual o balanço
que fazes da tua carreira? Valeu a pena?
- Sem dúvida, valeu mesmo muito a pena,
por todos o momentos que vivi na Festa, os amigos, o mundo que conheci e porque
possivelmente a maiores experiências que vivi na vida foram graças a esta
profissão! Penso que fui um toureiro que tive muitos partidários desde o
início, mas custou-me muito entrar no panorama geral! Mas o balanço para mim é
positivo, fiz o que gostei sempre de uma forma muito própria e muito minha, por
isso não fui bem compreendido, só pelos mais sensíveis!
- O que emendarias, "Parrita"?
O que faltou fazer?
- Penso que fiz tudo o que podia e
consegui, mais não me posso exigir mais, fui um lutador à minha maneira e o que
emendaria era ter feito tudo o que fiz nos últimos anos um pouco mais cedo e,
se calhar, teria conquistado mais, mas é assim, só poderemos viver aquilo que
alcançamos! Eu vivi intensamente o que alcancei, para muitos foi muito pouco,
mas para mim foi muito, vou feliz e sem amarguras, travei muitas lutas durante
a minha carreira por mim, pelos meus companheiros e pelo toureio, chega, este
ano é para desfrutar!
- Chegaste a ter como apoderado o grande
e saudoso Fernando Camacho, que nesse tempo preconizou ter em mãos " um
novo Pedrito"... o que falhou?
- Falhou que quase me puseram num altar
e eu ainda não chegava lá... foi tudo demasiado precoce e, a meu ver, sem
cabeça, o ambiente que tive deveria ter sido um par de anos depois, era muito
novo, tinha 14 anos e nem numa muleta sabia agarrar, puseram-me em muitos
sítios, como em Lisboa e na Moita, não defraudei, mas também não explodi como
deveria ter explodido, enfim, acho que foi um cartucho gasto em vão!
- Tudo começou na Moita. Recordas com
saudade esses tempos da escola do maestro Armando Soares?
- Claro que recordo, foi onde comecei,
na escola da minha terra, tempos em que ainda se vivia o toureio a pé
intensamente, como deveria ser hoje, hoje perdeu-se essa mística e essa afición
pelo toureio a pé, os empresários eram outros e havia 20 novilheiros e 10
matadores no activo, hoje há 1 ou 2 matadores e os mesmos novilheiros...
- Certamente que no último ano como
matador gostarias de pisar arenas como as do Campo Pequeno e da Moita... vai
ser possível?
- Acho que sim, penso que tenho o
direito de me despedir, principalmente, na minha terra, junto dos meus
conterrâneos; despedir-me em Lisboa era um sonho, pelas inúmeras vezes que
pisei aquela arena como novilheiro; e outras praças que tanto carinho tiveram
por mim, tantas, como Albufeira, Alcochete, Abiúl, Vila Franca e muitas outras,
sempre fui acarinhado em todo o lado. Mas gostava principalmente de me despedir
na terra que me acolheu, aquela onde vivo e espero continuar a viver, Alter do
Chão.
- No ano passado, houve polémica na Moita
com um dos empresários... não se sabe ainda que empresa vai gerir a praça. Se
for a mesma, achas que essa "tormenta" pode ser ultrapassada?...
- A polémica que houve foi com um membro
da empresa, o sr. Caçoete, porque simplesmente me senti injustiçado por não ter
sido contratado, tenho algum carinho por um dos membros da empresa, o sr.
António Barata Gomes, que sempre me ajudou e sempre nos demos muito bem ao
longo da vida. Se a empresa se mantiver na praça da Moita, penso que tudo
poderá ser ultrapassado, sobretudo se a mesma quiser, não sou rancoroso e até
posso ter o coração muito perto da boca... mas depois sigo e não guardo mágoas.
Confesso que ficaria bastante triste de me ir embora desta profissão sem pisar
o ruedo da praça da minha terra, mas tudo é possível, aguardaremos...
- Há dois anos, anunciaste que te
retiravas e passavas a bandarilheiro. Vai ser esse, agora, o teu futuro?
- Não tenho esses planos. A ideia é não
me vestir mais de luces, mas não sei, a vida dá muitas voltas, a ideia é
desfrutar de outras coisas da vida, dedicar me a outra função profissional, à
minha família e acompanhar a Festa de outra forma, como aficionado.
- E a escola de toureio de Alter,
continua?
- Claro que sim, esse projecto é uma das
coisas a que me irei dedicar mais a fundo. Depois de me retirar, como já disse,
irei estar na Festa de outra maneira, porque com a afición que tenho era
impossível abandonar este mundo, vou contnjar a vivê-lo, mas de outra
prespectiva.
- Sentiste-te alguma vez injustiçado
pelos empresários?
- Claro que sim, muitas vezes! Mas por
não querer mais sofrer essas injustiças e querer viver harmoniosamente e com
alguma paz, e para não pensar mais nisso e na falta de verdade, não me vou
querer vestir mais de luces e assim vou... muito feliz.
- O toureio a pé ainda tem futuro em
Portugal?
- Claro que tem, essa foi sempre a minha
luta na Festa, a corrida mista é o futuro da nossa Festa e com o tempo tudo
chegará lá, a verdade vem sempre ao de cima!
- Uma última palavra,
"Parrita"...
- Amigo Miguel, a última palavra que lhe
posso dar agora é agradecer o carinho que sempre teve por mim e o que tem feito
pela nossa Festa, agradecer ter sido também um dos meus partidários... porque a
última palavra darei no final da temporada, porque ainda durante esta temporada
se vai falar de mim muitas vezes!
Fotos Vítor Besugo/@Sérgio Santos Parrita e D.R.