"A Festa está adulterada por culpa das comodidades dos toureiros" - quem é diz é o prestigiado ganadero espanhol Victorino Martín (na foto ao lado, no ano passado, na praça de Coruche) numa lúcida e bem polémica entrevista à agência Efe, dada ontem à estampa, com manchete de primeira página, no jornal diário "Hoy" de Badajoz (em cima).
Recentemente galardoado pelo governo de Espanha com a Medalha de Ouro das Belas Artes, o famoso ganadero pôe o dedo na ferida e diz:
"Está tudo muito mal montado. Tenta-se enganar o aficionado com corridas de toiros que o não são e, além disso, os toureiros de hoje buscam um astado cómodo, fácil, muito distanciado do que deveria ser o toiro bravo, exigente e emocionante, esse que todo o bom aficionado quer ver na praça".
E acrescenta:
"Para que a Festa persista há que amá-la e respeitá-la e não jogar com mentiras, começando pelo toiro, sua bravura e integridade, e depois os toureiros deveriam fazer aquilo que se fez toda a vida, isto é, tourear encastes de todo o tipo. O próprio Domingo Ortega tomou a alternativa com os meus toiros (anunciados com o ferro original de Juliana Calvo) em Barcelona".
"O meu trabalho foi constante - diz ainda - Nunca procurei alterar o meu tipo de toiro, nem refrescar a ganadaria com outros encastes. Isso jamais me passou pela cabeça, porque sou fiel aos meus princípios e aos da Festa, cuja integridade há que defender, a partir do seu principal protagonista, o toiro".
Victorino Martín assinalou ainda que, "nos últimos anos, 'El Cid' foi dos que melhor entendeu os meus toiros e, historicamente, recordo Ruiz Miguel, Paco Camino e Andrés Vásquez, entre outros".
Não que Victorino Martín tenha dito nesta entrevista nada que não soubéssemos já. Mas vindas de quem vêm, há que ter em conta as sábias palavras de tão famoso ganadero. A Festa está como está, lá como cá, porque os toureiros de hoje exigem "comodidade" e aos poucos se foi desvirtuando a verdadeira essência do que é o toiro bravo. Por outras palavras: porque aos poucos se foi perdendo a emoção nas arenas...
Foto Emílio de Jesus/Arquivo
