Muito cimento e quase ninguém ontem na Monumental do Montijo... |
Algum público na sombra... |
Quase ninguém ao sol... público não correspondeu à chamada dos Forcados da Tertúlia do Montijo, que pretendiam com este festival angariar verbas para o seu Fundo de Assistência |
Miguel Alvarenga - Primeiro, um homem
não é de ferro. Segundo, a paciência tem limites. Terceiro, se seis toiros, às
vezes, incomodam muita gente, sete toiros incomodam muito mais. Quarto, só mesmo um
herói, com direito a estátua (protegida, para que não a roubem), aguentaria
ontem até ao fim a seca que foi aquele festival na Monumental do Montijo. Irra,
que é demais!
Saí a meio do sexto. E não saí antes
porque tinha curiosidade de ver o que se ia passar com o regressado Filipe Ferreira
(quinto toiro), após quatro anos afastado das arenas por motivos (graves) de
saúde, de que felizmente se encontra totalmente recuperado.
Não fui ver o Benfica (não gosto de
futebol), nem fui comemorar, mesmo atrasado, o 1º de Maio (nunca comemorei
essas coisas...). Fui embora porque fui. Não aguentava mais. E como eu, foram
muitos espectadores embora. Quando entrou em cena, a jovem Mara Pimenta (hei-de
vê-la noutra ocasião, estou com imensa expectativa) já quase não tinha
espectadores na bancada...
Do festejo, que já vinha adiado e com o
qual se procurava angariar fundos para a assistência aos Forcados da Tertúlia
do Montijo, lembro-me de quase nada. O que quer dizer que uma chatice daquelas
nem merece uma crónica alongada.
Houve toiros de toda a espécie, uns
melhor apresentados que outros, uns mais colaborantes que outros; houve um
fatal (o de José Palha, pequenote, mauzão, impróprio para consumo); houve
toureiros empenhados e a tentar mostrar que, embora secundários, têm um papel a
desempenhar; houve forcados valentes. O que não houve foi público. A Monumental
do Montijo apresentava ontem um desolador quarto das bancadas preenchido, menos gente
que naqueles célebres festejos de forcados no final do ano passado.
Vi Ana Batista inspirada, renovada,
alegre, cheia de classe, frente a um toiro de Fernando Palha que permitiu lide
desenvolta, destacando-se a toureira com o cavalo "Obélix" nos
segundo e quarto ferros; vi Pedro Salvador a dar a volta ao distraído toiro de
João Ramalho, cravando com acerto, exibindo o cavalinho que se deita, em
permanente contágio com o público; vi Marcelo Mendes "vingar" o
desaire de Samora, agora uns pontos acima, a brilhar com o cavalo
"Único" numa lide que foi de valor diante do pior toiro da tarde, o
de José Palha; vi Tiago Martins a ir "a mais" com o toiro de
Prudêncio (com pouca chama), a tentar tudo por tudo para agradar e mostrar
que mereceu entrar no cartel a substituir António d'Almeida (ausente "por motivos de força maior", dizia-se no aviso por cima das bilheteiras...); vi Filipe Ferreira
cravar o melhor ferro da tarde, apesar de no conjunto não ter tido a lide sonhada,
começou mesmo com alguns desajustes e depois melhorou diante do toiro de Santos
Silva (que se deixou lidar), falta-lhe traquejo e rodagem, mas é natural,
esteve quatro anos sem tourear, há que não desanimar e ir em frente, que bom
cavaleiro é ele; ainda vi Verónica Cabaço toda desenrascada frente a um toiro
pequenote de Luis Rocha, a cravar a ferragem com acerto e a assinar uma lide
limpa; e já não vi Mara Pimenta com o bem apresentado toiro de Passanha, mas
acredito no que escreveu Patrícia Sardinha, que voltou a evidenciar ganas, que
desenhou bem as sortes, que esteve bem nos remates, que tem sentido de lide,
bons cavalos e que chega às bancadas, que "é cheia de intenções". E
acredito que vai dar que falar. Tem "gancho", como dizem nuestros
hermanos. Tem bons professores. E, acima de tudo, tem raça de toureira.
Estiveram em praça sete grupos de
forcados. Houve emoção nas pegas, houve competição e houve sobretudo honradez e
dignidade nas sete intervenções. Ninguém desonrou ou deixou mal vista a nobre arte
de pegar toiros. Um olé para os sete grupos.
Pegaram, por esta ordem: Pedro Coelho
(Amadores do Ribatejo, à terceira); Fábio Silva (Amadores da Moita, à primeira,
conquistando o prémio que estava em disputa); Iuri Gomes (Tertúlia do Montijo,
à segunda); Hugo Abreu (Amadores de Azambuja, à segunda); Luis Ventura
(Amadores de Arronches, à segunda); Luis Fortes (Amadores de Monsaraz, à
segunda); e João Encarnação (Amadores da Arruda, à primeira). No conjunto, nada
a apontar aos ajudas.
O festival foi bem dirigido por Pedro
Reinhardt, contou com a presença de muita gente do toiro, mas pecou por nada de
importante se ter passado num desfile arrastado e monótono de artistas a mais.
O toiro de Prudêncio levou mais de meia hora a sair da arena, acabando
empurrado por um oportuno e eficiente forcado do grupo de Azambuja (o grande
triunfador da tarde, afinal de contas!), depois de mil e uma tentativas dos
campinos e dos bandarilheiros para o fazer sair de cena...
Já a seguir: não perca a reportagem fotográfica do festival e as fotos dos famosos!
Fotos M. Alvarenga