terça-feira, 16 de setembro de 2014

Moita, ontem: pior era impossível...

"Parrita" colhido, sem consequências, quando toureava de capote o seu primeiro
toiro no degradante espectáculo que ontem abriu a Feira da Moita


Miguel Alvarenga - Cada vez me convenço mais - e raramente me engano - de que a nossa sorte é mesmo a desatenção dos anti-taurinos aos descalabros que vão ocorrendo na Festa por obra e graça dos próprios homens da Festa e, na maioria das vezes, mercê da sua escassa inteligência e quase nula visão. O que ontem aconteceu na Moita foi um verdadeiro quadro de miséria que, se aproveitado pelos antis (andam a dormir, só pode...), dava pano para mangas para pôr de rastos muitos dos mitos (e desmitos) de que vive a nossa gente.
Primeiro: a aficion da Moita ao toureio a pé é uma daquelas mentiras que se alimentam há não sei quantos anos e nada têm, mesmo nada, de realidade. Lembro-me sempre da praça vazia naquela tarde em que Pedrito fez um festival para que o ajudassem a pagar a multa pela morte de um toiro naquela mesma arena. Os mesmos que no dia da estocada tinham enlouquecido com o seu acto, não puseram o pé na praça no dia em que ele precisou que o ajudassem. A Moita é uma terra aficionada ao toureio a pé? Eu vou ali e já venho, mas não pensem que gozam com a minha inteligência...
Segundo: João Pedro Bolota é um empresário experiente. Não acredito que alguma vez tivesse imaginado que a "salganhada" do elenco de ontem ia, alguma vez, em tempo algum, levar gente às bancadas da Moita. Por amor da santa... Alguém  o influenciou mal, porque não acredito que a experiência empresarial do João Pedro, ainda para mais aliado agora a Possidónio Matias (um homem que sabe disto), o levasse a acreditar que aquele cartel pudesse suscitar o interesse de quem quer que fosse...
Terceiro: "Parrita" esteve seis anos sem tourear na "sua" Moita e, pelos vistos, ninguém tinha saudades dele, ninguém o foi ver, pode estar mais seis anos sem lá ir, ou seja, pode regressar em 2020...
Quarto: João Augusto Moura continua a ser bom e a ter "pinta" toureira, mas não chega. E os bonitos toiros da sua ganadaria também não servem.
Quinto: Duarte Pinto é um jovem super-educado (teve berço) e isso só lhe fica bem. Ontem, pôs muitos ferros e agradeceu imenso, fartou-se de dizer "obrigado" às pessoas e isso é bonito.
Sexto: os Forcados de Coruche fizeram duas pegas, a primeira à segunda tentativa por João Peseiro (que brindou a Fernanda Barata Gomes) e a segunda à quinta tentativa por José Marques, com uma fantástica e oportuna ajuda do cabo Amorim Ribeiro Lopes, que foi, para mim, o momento alto da degradante tourada de ontem à noite. Marques "dobrou" Pedro Galamba (que brindara a Fátima Peseiro, a aficionadíssima Mulher do não menos aficionado José Peseiro), que saíu da arena de maca, inanimado, pela forte pancada que sofreu na cara quando tentava pegar à segunda intervenção. Também José Marques saíu lesionado da cara do toiro (um exemplar da ganadaria de Fernandes de Castro que deu água pela barba aos forcados), juntando-se ao companheiro na enfermaria.
Sétimo: tomaram a alternativa os bandarilheiros João Goilão (concedida por "Parrita") e Tiago Santos (concedida por Rodolfo Barquinha), que lidaram bem de capote e bandarilharam com acerto. E houve dois bons pares de bandarilhas, respectivamente de Fábio Machado e Pedro Paulino "China".
Oitavo: as bancadas estavam completamente vazias, um ambiente desolador e confrangedor, frio, chuva e tudo o mais que não deve ter o glamour e o colorido de uma tourada.
Nono: a maior ovação da noite, merecida, justíssima, foi para o matador Luis "Procuna" quando João Augusto Moura o chamou à arena e lhe brindou a sua primeira faena, que depois não chegou a acontecer porque o toiro se encostou às tábuas e não teve um passe...
Décimo: a tourada foi dirigida por João Cantinho e no início guardou-se um minuto de silêncio que ninguém explicou por quem era, mas que descobrimos ter sido em memória dos dois homens que morreram vítima de cornadas na primeira largada das festas locais.
Resumindo e concluindo: não há aficionado que resista a uma seca como a de ontem. Entre o mete e tira burladeros, o entra não entra o(s) toiro(s), o espeta e não espeta ferros, o diz e não diz "obrigado", o dá e não dá muletazos, o apanha e não apanha cagalhões, o alisa e não alisa a arena, estivemos a gramar quase três horas de um degradante "espectáculo". Nem os toureiros, nem a Festa e muito menos a Feira da Moita sairam beneficiados com uma coisinha tão má, má de mais para ser verdade.
Por fim, deixo um conselho de amigo aos anti-taurinos: procurem videos, fotos, escritos da tourada de ontem na Moita e gozem à farta com isso. Pode ser que os homens dos bois aprendam de uma vez por todas (não aprendem, mas...) e se mentalizem que, para isto não acabar de repente e de vez, há que cuidar mais das coisas e ter mais respeito por eles próprios e pela história e cultura que envolvem, há tantos anos, a corrida de toiros. Que não tem nada a ver, mesmo nada, com a fita degradante a que ontem assistimos. Tive vergonha, confesso, de ser (já nem isso consigo ser...) aficionado. Isto está mesmo a chegar ao fim.
Mais dramático, mais gritante, mais confrangedor e mais degradante que a trágica tourada de ontem na Moita, insisto, só mesmo as imagens (ao lado) dos jornalistas degolados por terroristas islâmicos. Que coisa horrível!

Não percam, hoje: a fotoreportagem de Emílio de Jesus.

Fotos Fernando Clemente/www.parartemplarmandar.com e D.R.