Triunfo importante de Francisco Cortes no regresso à praça da sua cidade marcou a corrida de sábado em Estremoz |
Miguel Alvarenga - Destacado, notável e merecido (por tudo e mais alguma coisa e por todos os lamentáveis episódios que em anos anteriores impossibilitaram o que sábado finalmente aconteceu) triunfo de Francisco Maldonado Cortes, no sábado, no seu regresso à praça da sua cidade, a de Estremoz, onde não entrava há anos por obra e (des)graça de um conflito sem sentido com o presidente da Câmara local.
Francisco Cortes demonstrou e provou ter arte e atributos mais que justificados para estar nos grandes cartéis e nas grandes praças neste ano em que assinala o 20º aniversário da sua alternativa e, embora estejamos mesmo na recta final da temporada, seria importante - e aconselhável - que as grandes empresas se dignassem dar-lhe o lugar que merece. Cortes, pela sua desenvoltura, pela sua extraordinária equitação e valor para dar a volta a qualquer toiro, como se viu em Estremoz - ou não fosse ele filho de um Mestre que foi exemplar na forma como pôde com todos os toiros e "em qualquer cavalo" - merece lugar nos grandes palcos nacionais. E ainda vamos a tempo de o ver em algumas das importantes e referenciais praças.
Muito bem frente ao toiro de Ascensão Vaz (de excelente nota), em que galvanizou o público sobretudo nos "quiebros" e na forma como lidou e bregou, foi no último, um bom e sério exemplar de Canas Vigouroux (que deu emoção e era um toiro dos que põem tudo no seu lugar), que obteve o triunfo da tarde com uma lide muito bem conseguida e onde toureou a gosto, cravando ferros de muita verdade e recriando-se, no final, com dois palmitos em terrenos de dentro. Foi, no contexto das duas lides, um emotivo e triunfal regresso de Francisco Cortes a Estremoz, evidenciando a grande preparação em que se empenhou a fundo no último mês e a excelente resposta dada pelos seus cavalos, confirmando que, como acontecia com os antigos, não é preciso, às vezes, ter uma quadra numerosa para chegar onde chegam os melhores. Francisco Cortes deu a verdadeira dimensão do seu valor, da sua arte e dos patamares onde pode chegar, ombreando com as primeiras vedetas da actualidade sem defraudar ninguém. Foi importante e era preciso que isto acontecesse.
Brindou a primeira actuação, visivelmente emocionado, a sua Família - sua Mulher, Nídia Cortes, seus Pais, Mestre José Maldonado Cortes e Bina Maldonado Cortes e seus filhos Francisco e Pepe - e a segunda ao seu bom apoderado Fernando Canto, o único que se apresentava na trincheira bem vestido, à antiga, de fato e gravata, como um dia recomendou João Salgueiro. Na segunda lide, dedicou um ferro ao presidente da Câmara, Luis Mourinha, com palavras de simpatia e reconhecimento (chama-se a isto educação e isso marca sempre a diferença) por, finalmente, lhe ter permitido comemorar os seus 20 anos de alternativa na sua praça.
O público - que preenchia mais de metade da lotação, naquela que foi a mais povoada corrida desde a reabertura da praça estremocense - esteve com Francisco Cortes e recebeu-o, quando entrou para lidar o seu primeiro toiro, com uma significativa e calorosa ovação. Moura e Telles brindaram as suas primeiras lides a Mestre José Cortes, que assistiu na bancada e não quis protagonismos na trincheira (super apinhada de muitos curiosos...), pondo em evidência, caso alguém o tivesse esquecido, a importância desta Família Toureira na cidade de Estremoz. A Cortes o que é de Cortes! E, aliás, foi sempre, por mais injustiças que a classe empresarial lhe tenha feito - e continue a fazer. Lamentável. Abram os olhos, senhores: este Toureiro tem valor e justificou em Estremoz merecer maior atenção.
A corrida de sábado ficou ainda agradavelmente marcada por uma lide à antiga de João Moura frente ao primeiro toiro da tarde, de Prudêncio, o mais pequeno dos seis, mas bravo, com mobilidade e que permitiu ao Maestro abrir o livro e mostrar como se toureia.No seu segundo, um manso de Romão Tenório que andava a passo, fez o que podia e o que sabe - que é muito. Mas a lide não teve, por falta de matéria prima, o brilho da primeira. Essa foi enorme.
António Ribeiro Telles, inspiradíssimo, triunfou forte nos seus dois toiros, o primeiro de Cunhal Patrício e o segundo de Torre de Onofre, havendo que destacar este, um toiro sério e encastado a revelar o regresso em força de uma ganadaria histórica, agora reconduzida por João Augusto Moura. António Telles andou ao seu melhor nível e o público entusiasmou-se com a verdade do seu toureio clássico, sempre ao gosto de quem sabe ver tourear a sério.
As pegas foram executadas pelos Amadores de Santarém e pelos Amadores de Alcochete. Sem desprimor para ambos, dois dos nossos melhores grupos de forcados, não se entendeu muito bem as razões que levaram a empresa a não incluir nesta corrida um único grupo alentejano...
David Romão saíu a cabo dos Amadores de Santarém, por ausência de Diogo Sepúlveda devido a motivos da sua vida profissional. Não despindo a jaqueta, por "não ser homem dessas coisas", como ele mesmo nos informou, David Romão teve nesta corrida a sua última actuação como Forcado - que passou por outros grupos, nomeadamente o de Portalegre, consagrando-se nos últimos anos no de Santarém, como grande rabejador e ajuda. Executou com Luis Assis (um forcado estremocense já retirado das lides) uma valente pega de cernelha ao toiro de Ascensão Vaz (terceiro da ordem). As restantes pegas dos Amadores de Santarém foram executadas por Francisco Graciosa (à primeira) e Ricardo Moura Tavares (à segunda), que também se despediu das arenas, ele que foi um grande rabejador e um forcado completo. Olé!
Pelos Amadores de Alcochete, há a destacar a grande pega de João Pedro Sousa, ao segundo intento, mas de um valor enorme e grande técnica, no segundo toiro da tarde. As duas outras pegas estiveram a cargo de jovens forcados do grupo, Gonçalo Catalão (à terceira tentativa) e Lourenço Barbosa (à quarta).
Agostinho Borges esteve notável na direcção da corrida, como está sempre, aliás, tendo nesta tarde sido assessorado pela médica veterinária Drª Ana Isabel Gião Veiga Romão, Mulher do forcado David Romão.
A lamentar: a falta de qualquer alusão nos próprios programas e cartazes da corrida à comemoração do 20º aniversário da alternativa de Francisco Cortes (que acaba por ser a base e a justificação desta corrida), a quem a empresa Aplaudir não se lembrou de prestar qualquer homenagem ou sequer fazer referência, por mais simples que fosse...
E ainda o inacreditável esquecimento por parte da empresa de que anunciara (isso sim, nos cartazes) um Concurso de Ganadarias... por mais incrível que pareça, a empresa Aplaudir esqueceu-se disso e no final, público e ganadeiros ficaram estupefactos quando a corrida terminou e não houve a entrega dos troféus "bravura" e "apresentação", nem qualquer menção ao anunciado concurso. Foi como se nada tivesse sido anunciado e denota uma gritante ausência de profissionalismo empresarial por parte de um empresário - João Pedro Bolota - com provas dadas e responsabilidades sempre assumidas. Menos desta vez...
Não perca, mais logo, todas as fotos de Emílio de Jesus desta corrida.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com