sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A esperada análise de Miguel Alvarenga aos 6 primeiros cartéis do Campo Pequeno

Atento ao anúncio dos primeiros cartéis: Miguel Alvarenga
ontem no Campo Pequeno com sua Mulher
Miguel Alvarenga analisa, um a um, os primeiros seis grandes cartéis 
da Temporada Extraordinária do Campo Pequeno
ontem apresentados oficialmente pela empresa.
1ª Corrida - 14 de Abril, Inauguração da Temporada, Concurso de Ganadarias em homenagem aos ganadeiros nacionais - 6 toiros de Veiga Teixeira, Ribeiro Telles, Pinto Barreiros, Murteira Grave, S. Torcato e Santa Maria para João Salgueiro, João Ribeiro Telles e Manuel Manzanares, Forcados de Moura (Real Grupo) e Aposento da Moita.

Era para estar Ventura, dias antes da apresentação oficial dos cartéis não houve acordo entre a empresa e os seus apoderados (Casa Lozano) e a verdade é que Rui Bento e a Administração do Campo Pequeno, num quase acrobático jogo de cintura, deram a volta por cima e conseguiram montar um elenco deveras aliciante e diferente, onde a base e o grande atractivo é, sem dúvida, o regresso às arenas do genial João Salgueiro (foto de cima). Cavalos, tem? "Tenho dois dos antigos e quatro novos... mas quando me estreei em Salvaterra também foi a minha primeira corrida e a primeira corrida dos meus cavalos. Estou confiante, estou tranquilo, o melhor cavalo sou eu e tenho a certeza de que qualquer coisa de diferente vai acontecer no Campo Pequeno na noite de 14 de Abril", disse-me ontem Salgueiro. E está realmente tudo dito. O génio falou, está falado, venha a Grande Noite!
Acompanham João Salgueiro o jovem João Ribeiro Telles, que já amanhã toureia em Lisboa no Festival LVida e que foi uma das mais destacadas figuras da última temporada; e o rejoneador espanhol Manuel Manzanares, também um toureiro jovem de créditos já firmados, pupilo de Pablo Hermoso e que já triunfou em praças portuguesas.
No campo da forcadagem pegam o Real Grupo de Moura e o Aposento da Moita, cujo cabo José Pedro Pires da Costa o comanda pela última vez na capital.
É um cartel atractivo, apelativo e diferente. Com uma peça-chave: a reaparição por que todos esperavam, a de João Salgueiro, motivo mais que suficiente para encher ou mesmo esgotar a praça.
2ª Corrida - 19 de Maio, 10º Aniversário da Reinauguração do Campo Pequeno - 6 toiros de Mário Vinhas  e Herdeiros de Manuel Vinhas para João Moura, António Ribeiro Telles e Rui Fernandes, Forcados de Santarém e Lisboa.

Data histórica, o alcance de uma meta e um cartel altamente simbólico que repete os mesmos cavaleiros que há dez anos reabriram a praça depois das grandes obras: João Moura, António Ribeiro Telles e Rui Fernandes. Uma década depois, estão ainda os três na luta e no mesmo plano de Figuras com que ali triunfaram na noite memorável de praça esgotada da reinauguração do Campo Pequeno.
Lidam-se toiros da mesma ganadaria que também reabriu o Campo Pequeno, a prestigiada divisa Vinhas e pegam dois dos grupos que também ali estiveram em 2006 na noite da reinauguração, os Amadores de Santarém e os Amadores de Lisboa.
3ª Corrida - 2 de Junho - 6 toiros de Santa Maria para Pablo Hermoso de Mendoza, João Moura Júnior e Lea Vicens (que confirma a alternativa), Forcados de Coruche e Alcochete.

É sempre uma sensação distinta e tem sido sempre um momento alto das temporadas lisboetas a corrida de apresentação de Pablo Hermoso de Mendoza no Campo Pequeno. É um dos raros ídolos da aficion lisboeta, como outrora o foram matadores como "Paquirri", Dámaso González, Ruiz Miguel ou "Niño de la Capea" - e o público da capital (e não só) está sempre pendente da vinda de Pablo Hermoso.
Volta a estar acompanhado pelo indiscutível triunfador da última temporada nacional, João Moura Júnior; e o cartel, também uma composição diferente, tem ainda como aliciante a estreia em Lisboa da rejoneadora francesa Lea Vicens, que abrirá praça por diante de Hermoso para fazer a (discutível, mas já institucionalizada entre nós) confirmação da alternativa.
A de Santa Maria é uma das nossas boas ganadarias e os dois grupos de forcados - Coruche e Alcochete, cujos respectivos cabos, Amorim Ribeiro Lopes e Vasco Pinto, os comandam pela última vez na capital, fazendo posteriormente as suas despedidas nas praças das suas terras - são também dois dos melhores. Por isso, a corrida tem tudo para esgotar o Campo Pequeno. E, uma vez mais, o elenco é imaginativo, é diferente e é apelativo a todos os níveis e por todos os ingredientes que contém.
4ª Corrida - 16 de Junho - Corrida Surpresa.

Tudo pode acontecer. À semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, mas sobretudo porque se espera um acordo final com a Casa Lozano (apoderados de Ventura e também de "El Juli"), esta data fica com cartel em aberto.
Rui Bento disse ontem que pode ser a repetição do sensacional "mano-a-mano" Ventura/"El Juli", mas que também pode ser outra surpresa. A seu tempo se saberá, sendo para já apenas certa a presença nesta corrida dos Forcados Amadores de Vila Franca. O resto do elenco a seu tempo será divulgado. E uma boa dose de suspense faz sempre bem...

5ª Corrida - 30 de Junho - Morante de la Puebla com 4 toiros (a anunciar), como único espada, num espectáculo que terá também componentes de Fado e de Flamenco.

Pedro Marques, o mais morantista dos aficionados lusos, teve um papel decisivo na realização deste cartel, como ontem Rui Bento fez questão de frisar e de lhe agradecer.
Morante de la Puebla (que já actuara em Lisboa antes das obras e depois das mesmas ali toureou de novo "mano-a-mano" com António Telles, não tendo essa corrida tido um grande sucesso de bilheteira) é uma das mais credenciadas - e mais geniais - figuras do toureio actual. Regressa ao Campo Pequeno num espectáculo invulgar e diferente que constitui uma grande e corajosa aposta da empresa em quebrar a monotonia, em apresentar uma noite distinta das outras e, trocando por miúdos, em "dizer nada aos costumes".
É um risco, é, sim senhor. Tem que ser muito bem trabalhado, muito bem promovido e muito bem explicado. É um espectáculo para aficionados, onde além do toureio genial do sevilhano Morante, haverá Fado e Flamenco, a cargo de grandes nomes dessas respectivas artes. Mas é também um espectáculo para outros públicos, para todo o tipo de público.
Há que levar a cabo (a empresa) um excepcional e bem cuidado "trabalho de casa" para fazer ver a todos que vai valer a pena ir ao Campo Pequeno nesta noite - pela diferença dos moldes em que a "corrida" vai decorrer (Goyesca, ainda por cima, isto é, com os artistas trajados à maneira antiga, com as vestes desenhadas por Goya para as antigas corridas de toiros em Espanha), pela presença de uma das maiores Figuras do toureio mundial, mas também pela preciosa envolvente das mais tradicionais formas de expressar e sentir a musicalidade nos dois países, o nosso Fado e o Flamenco deles.
É uma noite única e um espectáculo que marca a diferença - mas vai ser preciso, vai ser necessário e vai ser sobretudo urgente que o expliquem atempadamente ao público. E não apenas ao público aficionado. Portugal tem que ficar a saber, de norte a sul, que na noite de 16 de Junho vai acontecer Morante no Campo Pequeno, vai acontecer Fado, vai acontecer Flamenco.
A aposta é muito boa. E também muito arriscada. Rui Bento e Paula Mattamouros Resende têm que ser aplaudidos pelo arrojo e pela ousadia. E têm que ganhar. Vão ganhar. Vamos todos ganhar. Promete ser uma noite grande.
6ª Corrida - 14 de Julho, Corrida Mista - 7 toiros de Varela Crujo para Luis Rouxinol e Luis Rouxinol Júnior, Forcados do ABV de Alcochete e os matadores Juan José Padilla e Juan del Álamo.

Este ano e como ontem fez questão de frisar Rui Bento, não haverá "ausentes" na Temporada do Campo Pequeno. Manuel Dias Gomes, o novo matador de toiros nacional, vai fazer a sua apresentação em Lisboa na segunda metade do abono. E assim fica desde já explicada, para que não haja más interpretações, a razão de não estar nesta primeira corrida mista do ciclo.
É um cartel muito bem rematado. Luis Rouxinol é um triunfador por natureza, seu filho Luis Rouxinol Júnior é, não duvido, um dos mais promissores cavaleiros da nova vaga, a par de Parreirita Cigano (que também estará na segunda metade da Temporada); os Forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete são um dos grandes grupos nacionais e a sua cotação veio por aí acima por obra e graça do histórico pegão do seu cabo Marcelo Loia na Corrida TV do ano passado; e no que respeita aos matadores, Padilla é um caso - um caso de força, de afirmação, de luta e de coragem - e Juan del Álamo (ambos nas fotos de cima)perfila-se para ser um novo ídolo do público da capital. No ano passado triunfou no Campo Pequeno, amanhã vai estar no Festival LVida.
A ganadaria de Varela Crujo proporciona garantias de sucesso e esta primeira corrida mista tem um cartel muito bem rematado. Num momento em que o toureio a pé renasce em Portugal, por obra e graça, precisamente, do empenho e da vontade da empresa do Campo Pequeno, das noites memoráveis de "El Juli" e também de Juan del Álamo e do aparecimento de novos toureiros como Manuel Dias Gomes e, entre outros, os jovens Peseiro e "Juanito", a fórmula da corrida mista volta a despertar o interesse dos aficionados. E esta primeira montagem da Temporada lisboeta com matadores reúne nomes de peso e Figuras de nomeada para atrair público às bancadas. Como atractivo principal, está Juan José Padilla, um toureiro que todos querem sempre ver e que, depois da Moita e de Mourão, vem ainda a Serpa e está a viver um momento de força em Portugal.

           



7ª Corrida - 28 de Julho, Homenagem aos 50 anos de alternativa de Mestre Luis Miguel da Veiga - 7 toiros de Ribeiro Telles para João Moura, Rui Salvador, Brito Paes, Manuel Telles Bastos, Duarte Pinto, Salgueiro da Costa e António Núncio, Forcados de Montemor.

Luis Miguel da Veiga (foto) merece isto e tudo o mais. É um Figurão incontornável da História da Tauromaquia Portuguesa e recebe esta honrosa homenagem exactamente na data (28 de Julho) em que, há meio século, recebeu a alternativa nesta mesma praça das mãos de David Ribeiro Telles.
Por sugestão dele próprio, o cartel engloba toureiros representativos das mais emblemáticas dinastias de cavaleiros nacionais que, por uma razão ou outra, estiveram íntimamente ligados à sua histórica e gloriosa carreira. E os Forcados de Montemor, a sua terra. E os toiros de Ribeiro Telles, a mesma ganadaria da noite da sua alternativa.
Mestre Luis Miguel participará nas cortesias. E se isso de proporcionar (era segredo, mas não resisto em revelá-lo...), ainda pode ser que o vejamos cravar um ferro a um dos toiros da noite!

Em suma: feitas as contas, os seis primeiros cartéis da Temporada Extraordinária (extraordinária, mesmo!) do Campo Pequeno, acrescidos no cartel-surpresa de 16 de Junho, são, na verdade, sensacionais, primam pelo arrojo, pela corajosa aposta empresarial na diferença e fogem à costumeira repetição e ao "mais do mesmo" que costumam, infelizmente, caracterizar alguma falta de imaginação de muitos (com honriosas excepções, ressalve-se) organizadores de touradas em Portugal.
Aqui, há diferença em todos os elencos anunciados, todos os cartéis reúnem motivos de interesse e contêm ingredientes a que ninguém fica indiferente.
Dez anos depois, está patente em todos eles o dedo, a aficion e o elevado profissionalismo de Rui Bento - que nunca hesitei, mesmo nos tempos em que andámos por corredores opostos ou, pelo menos, que não eram os mesmos, em referenciar que é, de facto e na verdade, o homem certo no lugar certíssimo.
Paula Mattamouros Resende foi uma sorte para a Festa e para a aficion de Portugal. Administradora de um complicado processo de insolvência, nomeada pelo Tribunal, podia ter tido uma atitude negativa em relação a tudo. Mas não a teve. Antes pelo contrário. Enquadrou-se na perfeição num ambiente que não era o seu e que desconhecia - e elevou-o e engrandeceu-o sempre com uma atitude positiva, também de alto profissionalismo e elevada competência, mas sobretudo de compreensão, de bom senso e de vontade de levar o barco a bom porto, respeitando a tradição, a cultura e os costumes.
O Campo Pequeno tem a equipa ideal. A Tauromaquia só ganhou com isso.
Não há, como Rui Bento ontem destacou, toureiros ou grupos de forcados ou ganadarias ausentes na Temporada do Campo Pequeno. Há seis cartéis apresentados - e em seis elencos, não podem estar todos. Ninguém está excluído, muitos do que agora ainda não estão, estarão na segunda metada do abono.
Rui Bento fez ontem questão de manifestar publicamente a homenagem da empresa ao Maestro Joaquim Bastinhas (que estava para tourear na corrida inaugural), fazendo votos para que recupere rapidamente - porque faz falta.
E pronto. A Temporada do 10º Aniversário da Reinauguração do Campo Pequeno está em marcha, já amanhã é importante que todos manifestem a sua solidariedade e esgotem a praça para assistir ao grandioso Festival Taurino a favor da Fundação LVida - e dia 14 de Abril lá estaremos de novo para iniciar mais um ano tauromáquico cujo epicentro promete voltar a ser Lisboa.

Fotos D.R., Emílio de Jesus, Maria Mil-Homens, Juan Andrés H. Mendoza/Farpas, Frederico Henriques/@Campo Pequeno e Marques Valentim