Um aspecto da assistência, esta manhã, no salão da praça do Campo Pequeno |
Patrícia Sardinha, presidente do Grupo Tauromáquico "Sector 1", hoje, na abertura de mais uma sessão do I Fórum Nacional de Cultura Taurina |
Duarte Pinto, João Salgueiro e o Dr. Paulo Pereira esta manhã no colóquio na praça de toiros do Campo Pequeno |
Vai passar a haver mais veterinários nas
praças para assegurar o bem estar dos cavalos e dos toiros. E, como acontece
noutras modalidades, vai começar a haver controlo de doping aos cavalos. João
Salgueiro e Duarte Pinto puseram esta manhã em público o dedo na ferida,
disseram que quando isso acontecer, muitas corridas vão deixar de se poder
efectuar e 75 por cento dos cavalos podem ser impedidos de entrar na arena. A
bomba rebentou esta manhã durante um colóquio na praça do Campo Pequeno. Há
doping nas arenas - dizem eles!
A Direcção-Geral de Alimentação e
Veterinária vai incrementar medidas, numa acção conjunta com as empresas das
praças de toiros, a começar precisamente pela do Campo Pequeno, em Lisboa, que
visam garantir o bem estar dos animais intervenientes nas corridas,
nomeadamente dos cavalos (durante o decorrer do espectáculo) e dos toiros (após
a corrida). Esta louvável acção foi anunciada esta manhã por uma médica
veterinária da DGAV durante o colóquio sobre a evolução e o estado actual do
toureio a cavalo, que decorreu num dos salões da praça de toiros do Campo
Pequeno, integrado no I Fórum Nacional de Cultura Taurina organizado pelo Grupo Tauromáquico "Sector 1" e em que participavam os cavaleiros João Salgueiro e Duarte Pinto, bem
como o Dr. Paulo Pereira, Relações Públicas da empresa.
Esta medida passa pela presença nas
praças de toiros, em dia de corrida, de um ou mais médicos veterinários da
Direcção-Geral, independentemente da habitual intervenção nos espectáculos do
veterinário delegado para assessorar o director de corrida. Esses veterinários
passarão a inspeccionar e assegurar-se do estado de saúde de todos os cavalos
que vão intervir na corrida, podendo não autorizar a actuação de animais
"que não estejam em perfeitas condições de saúde".
"Um cavalo, como uma pessoa, pode
estar com febre, pode estar doente e pode não se encontrar em condições
perfeitas para tourear", explicou a veterinária.
Quanto aos toiros, compete aos mesmos
veterinários, nestas novas acções que vão ser levadas a cabo ainda este ano,
acompanhar os seus tratamentos após as corridas e assegurar o bem estar dos
animais nas horas que se seguem ao final das corridas.
"É importante que isso aconteça,
sobretudo no que aos cavalos diz respeito. Mas aviso desde já que se isso fôr
para a frente, duvido muito que alguma corrida mais se volte a
realizar...", afirmou João Salgueiro, pondo o dedo numa ferida por norma
"tabú" e por hábito intocável. E disse mais: "Era importante que
começasse a haver um controlo de doping aos cavalos de toureio, antes e depois
das corridas, assim como o há noutras modalidades equestres. No mundo dos
toiros isso nunca aconteceu e era bom que passasse a acontecer...".
E Duarte Pinto reforçou: "Se isso
passar a ser feito, 75 por cento dos cavalos vinham embora das praças e não
eram autorizados a tourear... pela simples razão de que muitas vezes não estão
em condições de tourear e mesmo assim toureiam e ninguém dá por isso. Quem
manda é o público e seria bom que o público fosse entendido para pôr muita
coisa na ordem e protestar contra o uso de gamarras, serretas, etc.".
Lançada a "confusão" e trazido
para a mesa um assunto que vai a partir de agora fazer correr muita tinta, João
Salgueiro explicou depois ao "Farpas", já no exterior da praça e,
como sempre, sem papas na língua:
"Os casos de doping nos cavalos não
acontecem apenas nas outras actividades e modalidades equestre. Nos toiros, há
muitos anos que isso sucede e que isso se pratica, mas ninguém diz nada,
ninguém denuncia nada e tudo ocorre dentro da habitual impunidade pela simples
razão de que não há qualquer espécie de controlo aos animais. Se passar a
haver, vai cair o Carmo e a Trindade... e, como eu disse, muitas corridas não
se vão chegar a realizar".
E especificou melhor:
"As pessoas não se apercebem, mas
muitas vezes, muitas mesmo, dão-se substâncias aos cavalos, sobretudo àqueles
que actuam muito, para aguentarem a pressão e continuarem a tourear. É por isso
que às vezes morrem cavalos sem se perceber porquê... São coisas demasiado
graves que sucedem e que era importante acabar com elas".
Não vamos acreditar que, depois de
dizerem o que esta manhã disseram em público no colóquio do Campo Pequeno, os
cavaleiros João Salgueiro e Duarte Pinto sejam chamados a uma Comissão de
Inquérito na Assembleia da República para explicarem melhor aos senhores
deputados da Nação o que é isso do doping nas arenas, mas que o caso, a partir
de hoje, vai fazer correr muita tinta, disso não tenhamos dúvida alguma. E pode mesmo fazer grandes estragos!
Fotos M. Alvarenga e D.R.