sábado, 4 de junho de 2016

A tourada da TV na Chamusca: triste vai a nossa Festa...


Miguel Alvarenga - Ontem estive na Chamusca. Não sei bem porquê. Mas fui. Podia ter ficado pacatamente em casa a ver a corrida no sofá, tinha sido mais cómodo, menos chato e, se calhar, até mais giro. Mas fui. Cheguei a casa eram três da manhã. Um homem sofre para cumprir a sua missão. A corrida foi como foi, todos a viram pela RTP, penso que é escusado e seria repetitivo contar aqui como foi uma coisa que todo o país já viu. Mas enfim, eu conto, pronto.
Mas volto atrás. Fui à Chamusca, fora de data, não sei o que lá fui fazer, mas acho que fui para apoiar, era preciso apoiar. Não propriamente a Chamusca, a Festa. Numa semana em que no Parlamento se tentou uma vez mais dificultar a vida aos taurinos, um dia depois de no Campo Pequeno ter invadido a arena um desses doidos pagos com dinheiros internacionais para fazer propaganda anti, acho que devíamos todos ir a uma corrida que era televisionada para mostrarmos a nossa força - mas ninguém foi. Nem temos força nenhuma para mostrar ou deixar de mostrar, a verdade é essa.
Os ditos taurinos (mentira!) ficaram em casa. A Festa está como está - e como estava ontem na Chamusca. Meio vazia, meio inoperante, meio sem jeito, anda por andar. Estúpida. Ainda há touradas em Portugal, apenas porque ainda há. Um dia vai deixar de haver pela falta de militância dos que se dizem taurinos e nunca o hão-de ser. Ontem, a praça da Chamusca tinha que ter estado cheia. E não estava.
Lidou-se um aceitável curro de toiros (novilhos, diga-se, que eram todos nascidos em 2013 e com três anos um toiro é novilho ainda, não nos atirem areia aos olhos que não somos todos tão estúpidos como parecemos...) de Francisco Romão Tenório, grandes, enormes, de soberba apresentação, menos bons o primeiro de Moura (segundo da noite) e o último, os outros lidáveis, de boa qualidade o primeiro e o terceiro.
António Ribeiro Telles esteve melhor no primeiro, algo desconcertado no segundo, com velocidade a mais e ferros que ficaram, por esse excesso, muito atrás. João Moura Júnior fez o que pôde com o seu primeiro e esteve magistral no segundo, grande mesmo, enorme, uma verdadeira e emotiva lição de boa brega, de bom toureio. Duarte Pinto deu um alerta, disse que existe e que não pode andar tão esquecido. No conjunto das duas lides, foi o melhor. Andou pelo caminho da verdade, toureou como os eleitos, houve emoção em todos os momentos, esteve muito bem.
Os novilhos de Tenório não facilitaram a vida aos forcados. Pelos Amadores da Chamusca pegaram Nuno Marecos (cabo) à primeira, Luis Isidro à segunda e João Oliveira à quarta. Pelo Aposento, foram caras Francisco Souto Barreiros Andrade à segunda, com uma grande ajuda do cabo Pedro Coelho dos Reis e Francisco Montoya à primeira. O último toiro era para ser pegado de cernelha, foi uma carga de trabalhos para o agarrarem, deu-se a (evitável) cena do pega-não-pega, ainda bem que a televisão deixou de transmitir tão degradante cena, o cabo acabou por salvar a honra do convento,  mas com coisas assim acaba por não se salvar mesmo nada, foi, apenas e só, degradante.
Lourenço Luzio foi aquilo a que se pode chamar um director de corrida resistente. Resistiu aos apelos de Telles para cravar mais um ferro quando já excedera e muito o tempo que lhe é concedido; resistiu depois à triste cena dos forcados com condescendência e boa educação. Sem braço de ferro, sem chamar, como lhe competia, a polícia a actuar. É um homem de bem. Foi desrespeitado. Não se quis dar ao respeito por estarmos numa corrida televisionada. Esteve bem, estando mal, não fazendo valer a sua autoridade. A Festa está como está e a tourada de ontem na Chamusca  deixou bem claro que as coisas não vão mudar tão cedo. Temos, se calhar, o que merecemos... E por isso, é deixar andar.
Ah, esquecia-me! Morreu um Senhor Toureiro, mexicano, vítima das consequência de uma colhida em praça, chamava-se Rodolfo Rodríguez, todos o conheciam por "El Pana". A tourada de ontem na Chamusca foi a primeira que se realizou depois da sua morte. Não merecia ele um minuto de silêncio? Merecer, merecia-o. Os homens dos bois (é mesmo o que escrevi, não me enganei, isto é um mundo de bois...) é que não mereceram fazê-lo. Se calhar, nem merecem ser respeitados. E eu, cada vez mais, dou mais razão de ser aos anti-taurinos. Esta gente é tão baixinha e tão estúpida que vai acabar por se matar a ela própria sem ser preciso eles intervirem... O Parque Mayer acabou, lembrem-se disso, não foi por política ou outra razão qualquer., foi porque as pessoas deixaram de ir ao teatro de revista, como um dia vão deixar de ir aos toiros, onde tudo é sempre mais do mesmo e onde ninguém se sabe dar ao respeito.
Tenho dito. E se não gostaram, paciência, comam menos. Eu vou jantar bem!

Foto Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com