sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Honra aos Graves nas alturas e paz na terra aos toiritos de "boa vontade"...

Joaquim Grave: ganadeiro merecia ter saído ontem em ombros pela porta grande
do Campo Pequeno!
Desta forma e através desta brilhante reportagem de Maria João Mil-Homens,
aqui prestamos homenagem aos seis fantásticos toiros de Murteira Grave
que ontem foram os triunfadores-maiores da 52ª Corrida TV em Lisboa!
Seriedade, competência, rigor e aficion: Rogério Jóia dirigiu ontem a Corrida TV
Luis Rouxinol, António Telles e Marcos Bastinhas: 52 ª Corrida TV merecia
ter tido praça cheia! Mas para conseguir isso, vamos ter Pablo Hermoso na
próxima corrida... 
António Ribeiro Telles - a primeira lide foi uma lição de cátedra, de classe e
maestria. Quem sabe, sabe e com os Graves nem todos podem. Ele pôde sempre!
Os Graves não são toiros "para meninos". Luis Rouxinol é um profissionalão
de alma e corpo inteiros. Demonstrou ontem por que vai ficar na História como
um toureiro de época
Atitude, decisão e emoção marcaram as vibrantes actuações de Marcos
Bastinhas
ontem na Corrida TV do Campo Pequeno
Representante da Casa do Pessoal da RTP entregou a José Maria
Bettencourt
, cabo do Grupo do Aposento da Moita, o merecido
troféu para a melhor pega; em baixo, a administradora do Campo
Pequeno entregando a Rouxinol o prémio da melhor lide... que a
meu ver era de António Telles, mas...


Miguel Alvarenga - Os seis belíssimos toiros da emblemática, temida e prestigiada ganadaria Murteira Grave deram ontem à noite no Campo Pequeno um autêntico festival de bravura, de codícia e de casta. Foram toiros que pediram contas, que impuseram emoção, que mudaram do avesso o rumo à temporada. Fica gravado, para já, como o melhor curro de 2016. Talvez até dos últimos anos, não só deste. Não vai ser fácil voltar a ver tão cedo uns toiros assim. O que ontem aconteceu em Lisboa, na 52ª Corrida TV (que merecia praça cheia e não a teve, roçando a meia lotação forte) foi uma verdadeira e emotiva corrida de toiros. Um curro homogéneo, toiros muito bem apresentados, autênticas estampas de pintura, com mobilidade, com entrega, sempre a pedirem e a darem mais e mais, sempre e virem acima, a mostrar que isto, afinal, é uma arte séria, de risco e de rasgada emoção - e que não é coisa “para meninos”, é coisa para quem sabe, para quem pode. Para quem é capaz de lhes fazer frente. Os Graves marcam sempre a diferença. E ontem marcaram-na como se estivessem a fazer notar que há toiros e toiros, eu não queria ir tão longe, mas pode mesmo dizer-se que há hoje em dia toiros e depois há os Graves, que são (e foram) outra loiça.
Joaquim Grave foi à praça receber aplausos no final da volta de cavaleiro e forcado no quarto toiro da noite - e depois foi justamente premiado com volta à arena no quinto. O terceiro foi um toiro de bandeira, o melhor que este ano se viu em Lisboa. Também se impunha que o ganadeiro tivesse recebido as ovações na arena. Por mim, tinha-o premiado no fim com a saída em ombros pela porta grande. O êxito dos toiros de ontem justificavam em pleno essa honraria ao ganadeiro-referência que nos continua sempre a encher de orgulho e a honrar e dignificar toda uma história e toda uma memória escritas pelo Senhor seu Pai, o sempre lembrado e glorificado Engº Joaquim Murteira Grave. Olé! Um Olé que chegue aos céus!

Tirem o chapéu ao António!

Nem sempre os toureiros estiveram, como se usa dizer, “por cima dos toiros”, mas há que aplaudir a primeira lide de António Ribeiro Telles ao maior toiro da noite (640 quilos!), que foi uma das mais bonitas lições de maestria e de classe que se viram esta temporada, é preciso que todos tirem o chapéu à passagem do António e se ponham de pé a aplaudi-lo, como eu fiz e quase toda a praça o fez, porque daquilo não se vê todos os dias.
Esta foi a grande lide da noite, a que merecia o prémio da Casa do Pessoal da RTP, que dizia respeito à melhor lide e não ao conjunto das duas lides e aí, sim, estaria o prémio bem entregue, como o foi, a Rouxinol. Que esteve enorme, ninguém duvida, mas não igualou em nenhuma das suas actuações a magistral e catedrática actuação de António Telles - que depois no quarto toiro, o que menos força demonstrou, não conseguiu repetir aquela lição única, que, por ser única, é e será mesmo irrepetível. Andou António ao seu bom estilo, mas foi apenas e só mais uma actuação. A primeira, essa, foi um sonho.

Rouxinol marcante… pares, para que vos quero?

Luis Rouxinol é um profissionalão, uma figura consolidada, um toureiro seguro e que inspira tranquilidade por estar superiormente bem montado e super motivado para triunfar sempre e nunca desiludir. Ontem foi autor de duas lides enormes, em crescendo, a galvanizar o público de ferro em ferro, de pormenor em pormenor, de momento em momento.
Não vale a pena estar agora aqui a descrever tudo aquilo que todos viram e reviram em directo na RTP, aliás, escrever a crónica de uma corrida que foi televisionada é um acto que considero quase desnecessário. Direi apenas, em jeito de balanço, que Rouxinol esteve ontem tão bem, tão bem mesmo, que até se deu ao luxo de não fechar as lides com o habitual e sempre solicitado par de bandarilhas, a sua grande imagem de marca e, durante anos, o maior segredo do seu sucesso.
Pois ontem, Rouxinol abdicou desse sempre garantido êxito final, retirou esse efeito-estrela das suas actuações apoteóticas, assim como quem diz e proclama que não precisa de recorrer a tal “adorno” para dali sair triunfador. E assim foi. Mesmo sem os pares de bandarilhas, Lisboa consagrou ontem Luis Rouxinol - que está mesmo a tornar-se, como poucos, um toureiro de época. Marcante.

Ganas inquietas de Bastinhas

Marcos Bastinhas é um dos grandes valores da nova geração de cavaleiros. Ontem voltou a reafirmar as ganas, a inquietude, a irreverência com que continua a lutar pelo pelo triunfo. É um dos filhos-toureiros que mais se assemelha e defende em praça a imagem (única e inesquecível) de seu pai, que ontem assistiu à corrida na bancada e não fosse o brinde do Marcos no último toiro, poderia até ter passado despercebido, mais ninguém se lembrou de o brindar, de o louvor, ele que está agora impedido de prosseguir a sua gloriosa carreira, mercê de um brutal acidente sofrido há precisamente um ano. Olé, Joaquim Bastinhas! Grande e eterno.
Marcos iniciou as sua suas actuações evidenciando atitude e decisão, mandando os bandarilheiros para dentro e esperando os seus dois Graves com valentia à porta dos sustos. Teve inícios empolgantes, bregando e lidando com emoção, mas depois aliviou-se na cravagem dos compridos, as sortes foram concretizadas muito “ao largo”, demasiado à tira, só voltando a recuperar energias nos ferros curtos, aí sim, com verdade e valor, arriscando em terrenos de compromisso. Foi melhor a primeira actuação, mais irregular a segunda, mas o jovem Bastinhas não deixou passar em branco esta oportunidade (que outros recusaram…) de se mostrar ao mundo naquela que era, outrora, a mais desejada corrida onde todos os toureiros sonhavam um dia entrar.

Aposento da Moita triunfa

Sobre a actuação dos dois grupos de forcados - Santarém e Aposento da Moita - já aqui ficou há pouco tudo dito e escrito. Acrescente-se que o triunfo coube ontem aos moitenses e muito por obra e graça do seu valente cabo José Maria Bettencourt, vencedor do troféu que consagrou a melhor pega da corrida - decisão justa e indiscutível.
Mais discutível - mas em tauromaquia nem sempre existe consenso e nem sempre todos veêm as coisas de forma idêntica - foi a atribuição do prémio para a melhor lide a Luis Rouxinol. No conjunto das duas, repito o que disse no início, foi ele o melhor e o mais destacado. Mas se este troféu dizia respeito, apenas e só, à melhor lide e não ao cúmulo das duas lides, quem o devia ter ganho era o António Telles - pela lição que deu a lidar o primeiro Grave da noite, que foi o maior e, por isso mesmo, o mais sério.
Assistiu à corrida o presidente do Conselho de Administração da RTP, Gonçalo Reis, a quem brindaram o cavaleiro Rouxinol e o cabo dos Forcados de Santarém, João Grave.
As bancadas deviam estar mais preenchidas - nestas coisas de transmissões televisivas, e ainda por cima são tão poucas, apenas quatro este ano, era preciso maior afluência de público para demonstrarmos em directo ao país e ao mundo a nossa força. Pena…
Rogério Jóia foi o homem certo no lugar certo - é sempre - a dirigir esta corrida, que teve ritmo, bom compasso e terminou até meia-hora antes do que estava acordado e acertado com a RTP. O director esteve assessorado pelo conceituado veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva e o cornetim serviço foi o veterano José Henriques, por várias vezes aplaudido pelas suas inspiradas intervenções. Rogério Jóia exerceu ontem a direcção com a aficion, o rigor e a simpatia com que o faz sempre, dignificando e dando ritmo ao espectáculo e valorizando os seus intervenientes - como deve ser.
Uma nota, apenas: nunca ninguém entende o que diz ao microfone o Dr. Paulo Pereira. Há que rever o sistema sonoro da praça, se não ficamos sempre todos na mesma. Ele fala e nós não entendemos.
A abrir o espectáculo, actuou o grupo musical “Sangre Ibérico” - bom, ritmado, boas vozes, bons músicos e a trazer acima a junção do fado com o flamenco, espécie de união ibérica a anteceder a competição que agora se anuncia para 8 de Setembro no Campo Pequeno, ibérica também, entre Hermoso e os Mouras.
Ontem, a noite valeu sobretudo pelos toiros - e se eles assim fossem todos os dias, em todas as corridas, grave estaria a vida por muitos dos toureiros e dos grupos de forcados que ainda por aí resistem e sobrevivem à custa de quase nada, ou à custa de toiros que não têm, nem de perto, nem de longe, a raça, a codícia, a bravura e a casta dos Murteira Grave. Se a tivessem, já há muito que estava cada qual en su sítio. Honra a Grave nas alturas e paz na arena aos toiritos de "boa vontade". Olé, Joaquim, devias ter saído da Catedral ontem em ombros pela porta grande! O lugar dos que triunfam - e triunfaste por cima de tudo e de todos!

Fotos Maria Mil-Homens