segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Montijo, 6ª feira: pouca parra e quase nenhuma história...

Ao início da corrida, o presidente da Câmara do Montijo
agraciou o cavaleiro Luis Rouxinol com a Medalha de Ouro
do Concelho
- honraria merecida e que o público reconheceu
com fortíssima ovação
O filho do saudoso forcado António Gouveia (vítima de colhida mortal há 25 anos
em Angra do Heroísmo), o cabo dos Amadores do Montijo, Ricardo Figueiredo, e
o presidente da Câmara do Montijo, Nuno Canta, no momento em que se
descerrava na entrada da Monumental a placa alusiva à triste efeméride
Luis Rouxinol conseguiu colocar importância em coisas que a não tinham. O seu
alto profissionalismo, a sua desmedida vontade e o seu imenso querer fizeram
impossíveis frente a toiritos ridículos, daqueles com que os toureiros não brilham.
Mas ele brilhou - por ser quem é, como é. Uma Figura!
Filipe Gonçalves (a tourear com o braço direito, o do ferro, engessado, mercê de
uma fractura do rádio) denotou uma vez mais estar a viver o melhor e mais
consolidado momento da sua carreira, já com 11 anos de alternativa, fruto de
uma experiência e de uma maturidade, bem como de uma excelente quadra,
que ele próprio vem construindo e edificando com tremendo valor
Grande lide de João Telles no terceiro toireco, um manso perdido de Paulino
que nem todos conseguiriam tourear como ele o fez. No último, o melhor da
corrida, de Jorge Mendes, Telles abusou das passagens em falso e isso retirou
algum brilhantismo ao que podia (e devia) ter sido uma grande actuação
Todos ao molho e fé em Deus. Não teve história a 1ª pega da noite, executada
à terceira por André Martins, do Grupo do Ribatejo
2ª pega da noite, por Luis Carrilho (Tertúlia do Montijo), à segunda
José Suiças (Amadores do Montijo) pegou à segunda o 3º toireco da noite,
da ganadaria de Paulino da Cunha e Silva
Rafael Costa, dos Amadores do Ribatejo, na 4ª pega da noite, a melhor, a um
toiro de Jorge Mendes 
A 5ª pega, do cabo Márcio Chapa (GFA da Tertúlia T. do Montijo), à segunda
tentativa; e, em baixo, a 6ª pega, de Ruben Pratas (Amadores do Montijo), boa


Miguel Alvarenga - Apesar de a Monumental se ter apresentado muito composta, com uma entrada de quase três quartos (o "sol", mesmo à noite, estava cheio), proporcionando um grande ambiente à festa, não teve história a corrida nocturna de sexta-feira no Montijo, a que era a segunda das tertúlias montijenses.
Particular significado teve, ao intervalo, no átrio de entrada da praça, a homenagem que se fez (descerramento de uma placa) à memória do saudoso forcado António Gouveia (que integrou os Amadores Lusitanos e morreu há 25 anos vítima de colhida na Ilha Terceira, quando honrava a jaqueta dos Amadores do Montijo, ao tempo comandados por José Luis Figeiredo). José Cáceres recordou a figura de Gouveia na presença de seu filho e do presidente da Câmara do Montijo, Nuno Canta, que fez questão de se associar ao acto.
Também ao início da corrida, o autarca agraciou na arena o cavaleiro Luis Rouxinol com a Medalha de Ouro do Concelho do Montijo - uma honraria ao toureiro e à Festa de Toiros, que o público reconheceu e agradeceu com fortes aplausos.
Artisticamente, os três cavaleiros - Luis Rouxinol, Filipe Gonçalves e João Ribeiro Telles - esforçaram-se por dar importância a uma coisa que a não teve. Quando não há toiros e falta emoção, o espectáculo tauromáquico cinge-se ao ridículo. E foi isso, precisamente, que ocorreu sábado à noite no Montijo.

Toirecos impróprios e sem importância

Anunciaram-se seis toiros da ganadaria de Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva e três foram reprovados pelo director de corrida Pedro Reinhardt, sendo substituídos em cima da hora por outros de Jorge Mendes. Os de Paulino que foram lidados eram pequenotes (anunciados com 400 e poucos quilos, sem contudo os terem...) e animaizinhos destes retiram o risco, o brilho, a verdade e a emoção -mas sobretudo a seriedade - que são os principais atractivos deste espectáculo. Os de Jorge Mendes, de melhor porte e apresentação, destacaram-se em "terra de cegos" e por isso foram "reis". O último, o mais toiro de todos, foi bom e permitiu a Telles uma actuação que podia ter ido mais além, não tivesse havido tantas passagens (desnecessárias) em falso.
Bem sei e já o referi inúmeras vezes, que nos tempos áureos do toureio em Portugal (os de Núncio, de Batista, de Veiga, de "Capea" e de Ruiz Miguel) os toiros tinham 3 anos e não pesavam muitos mais que 400 quilos. Tinham mobilidade e tinham "gatos na barriga", como os do Montijo. Mas a realidade é que o público, nos tempos que correm, se habituou ao toiro-toiro e não perdoa deslizes como este. O que aconteceu sábado no Montijo foi uma vergonha - daquelas que queimam e deitam uma praça ao fundo. E, mais grave que isso - daquelas que em nada prestigiam e muito menos, antes pelo contrário, dignificam a Festa.

Lides sem brilho, pegas sem emoção

Posto isto, não me alongarei em grandes apreciações - porque onde faltou brilho, sobrou vergonha e nenhuma importância. E a Festa de Toiros é, foi sempre, um espectáculo de e com importância.
Rouxinol foi o profisisonalão de sempre; Filipe Gonçalves reafirmou o grande momento que atravessa, fruto de uma experiência e uma maturidade fortemente consolidadas; e João Telles foi autor de uma grande actuação frente ao terceiro toireco da noite, um Paulino que se fechou em tábuas. Lide esforçada e conseguida. Não é qualquer um que toureia um toiro daqueles como João o toureou. É preciso estar em grande forma e ter grandes cavalos - como com ele acontece. Foi pena que o director Pedro Reinhardt não tenha reconhecido isso e não lhe tenha concedido música. Face à pouca importância que tiveram as lides (e as pegas) pela ridícula falta de presença dos toirecos, esta teria sido a mais bem concedida das honras (música) da noite. Mas...
No que às pegas diz respeito, houve de tudo, mas houve sobretudo uma pouco brilhante presença dos forcados dos três grupos diante dos toiros. Tornaram, em alguns casos, difícil aquilo que não tinha dificuldade. Em suma, raramente estiveram bem com os toirinhos...
Pelos Amadores do Ribatejo pegaram André Martins (à terceira, sempre mal com o toirinho) e Rafael Costa (bem, à primeira); pelos da Tertúlia do Montijo foram caras Luis Carrilho (à segunda) e o cabo Márcio Chapa (à segunda); e pelos Amadores do Montijo, pegaram José Suiças (bem, à segunda) e Ruben Pratas (à primeira).
Corrida sem história, direcção acertada de Pedro Reinhardt, exceptuando a falta de música a Telles no seu primeiro oponente, em suma, uma noite que em nada prestigiou a Festa e muito menos a importância (que a teve e muita) da Monumental do Montijo. Por outras palavras e para ser mais directo: assim se queima uma praça. Depois, queixem-se de que isto vai mal...

Fotos Maria Mil-Homens