Instalada a polémica - como se já não houvesse tantas... - em torno do caso do estado das enfermarias das praças de toiros, incendiada após a recente morte do Forcado Fernando Quintella por declarações à agêncua Lusa do empresário, ex-cabo dos Forcados de Lisboa e vice-presidente da Associação Nacional de Grupos de Forcados, José Luis Gomes (foto da esquerda), a que prontamente respondeu, pondos vários pontos nos iis, o médico cirurgião e também antigo forcado Dr. António Peças (foto da direita).
Hoje, na rede social Facebook, José Luis Gomes veio finalmente responder ao Dr. António Peças. E o Dr. António Peças apressou-se a responder a José Luis Gomes. Dois esclarecimentos para meditar - que aqui reproduzimos com a devida vénia.
Esclarecimento
Sr. Dr. António Peças,
A minha resposta foi algo demorada, pois respeitei as exéquias fúnebres do Fernando.
Relativamente às insinuações que fez no seu apontamento, nas quais também é referido o meu nome e das minhas organizações taurinas, aqui desminto as suas afirmações no que me diz respeito, pois em todas as minhas organizações cumpri totalmente o estipulado no Regulamento Tauromáquico em vigor.
A título de exemplo, recordo-lhe o mais recente evento taurino na Praça de Toiros do Sobral Monte Agraço, de que sou empresário, como sabe e que esclareço:
1) foram devidamente contratados o médico cirurgião ortopedista Dr. Pedro Campos (com formação e experiência no suporte avançado de vida no trauma) e o enfermeiro Sérgio Reboredo (também com formação e experiência no suporte avançado de vida no trauma);
2) estavam também à porta da Praça, duas ambulâncias de emergência do tipo B, embora o Regulamento em vigor obrigue apenas a uma!
Lamento que me tenha acusado com falsidades, bem como não tenha entendido as minhas reflexões, publicadas em entrevista.
Aproveito para lhe confessar a minha preocupação, ao vê-lo misturar generalidades com os elogios que faz em (sua) causa própria, como se apenas aos seus serviços dependesse o cumprimento das obrigações regulamentares que a todos dizem respeito, seja a troco de “300 ou 400 euros” … como refere em jeito de velada (e desnecessária) publicidade…
Este meu esclarecimento e depois de reflectir o que lhe transmiti ao telefone, decidi torná-lo público, pois em toda a minha vida, quer pessoal, quer profissional e como Forcado Amador que fui perante o adversário e a adversidade.
José Luís Gomes
Resposta ao
Esclarecimento
Do Sr. José Luis Gomes recebi hoje, por correio, um "esclarecimento" sobre aquilo que aqui escrevi no dia 18/9/2017 relativamente às enfermarias das praças de touros. Como o referido Sr. afirma que decidiu tornar público o referido "esclarecimento" tomo a liberdade de tornar pública a minha resposta.
Exmo. Sr. José Luis Gomes, boa tarde.
Antes de mais permita-me agradecer a sua grandeza de espírito ao ter tomado a iniciativa de responder ao comentário por mim publicado na rede social Facebook no dia 18/9/2017.
Louvo o facto de ter repensado a sua decisão de “não se expor”, como inicialmente me comunicou durante a conversa telefónica tida entre nós no dia seguinte (19/9/2017).
Confesso que, no momento em que ouvi aquelas suas palavras, fiquei estupefacto! Não conseguia entender que a primeira pessoa a prestar declarações públicas sobre o assunto, e logo à agência Lusa, pudesse depois afirmar que “não se queria expor” no que à resposta à minha publicação dizia respeito.
Mas, como grande forcado que foi, como enorme ser humano que é e, principalmente, como grande baluarte da verdade que diz ser, terá repensado a sua decisão e decidido tornar público o esclarecimento que me enviou hoje por correio.
Tornando V. Exa. público este esclarecimento, permita-me que lhe responda também publicamente.
Vamos então por partes:
a) afirma V. Exa. que “relativamente às insinuações que fez no seu apontamento, nas quais também é referido o meu nome e as minhas organizações taurinas aqui desminto as suas afirmações no que diz respeito, pois em todas as minhas organizações cumpri totalmente o estipulado no Regulamento Tauromáquico em vigor. A título de exemplo, recordo-lhe o mais recente evento taurino na Praça de Toiros do Sobral Monte Agraço, de que sou empresário, como segue: 1) foram devidamente contratados o Médico cirurgião ortopedista Dr. Pedro Campos (com formação e experiência no suporte avançado de vida no trauma) e o enfermeiro Sérgio Reboredo (também com formação e experiência no suporte avançado de vida no trauma); 2) estavam também à porta da praça, duas ambulâncias de emergência do tipo B, embora o Regulamento em vigor obrigue apenas a uma!”
No que à matéria acima diz respeito começo por pretender deixar claro que eu não fiz “insinuações”, Sr. José Luis Gomes. Fiz afirmações!
Depois gostaria de questionar V. Exa. sobre o seu real e efectivo conhecimento do Regulamento. É que V. Exa. refere-se à equipa médica e às ambulâncias mas no que à questão relevante diz respeito nem uma palavra: a enfermaria, Sr. José Luis Gomes!! A enfermaria! Do anexo a que se refere o n.º 4 do Regulamento do Espectáculo Tauromáquico fazem parte sete tabelas, todas elas divididas em conhecimento e competências e equipamento e material – Tabela 1 (via aérea), Tabela 2 (ventilação), Tabela 3 (circulação), Tabela 4 (alterações de consciência), Tabela 5 (extremidades), Tabela 6 (outros) e Tabela 7(fármacos). Afirma peremptoriamente V. Exa. que todo o material exigido nas referidas tabelas se encontrava presente na enfermaria da praça de Sobral de Monte Agraço?? E que o Artigo 15º do RET foi respeitado?? Passo a esclarecê-lo: “posto de socorros e assistência médica: 2- O posto fixo de socorros deve considerar: a) duas divisões contíguas e comunicáveis entre si, com uma dimensão mínima de quatro por quatro metros cada; b) pavimento e paredes revestidas por material próprio, lavável e impermeável; 3- numa das divisões destinada a primeiros socorros deve existir um mínimo de duas macas, uma marquesa e uma mesa para estabilização e prestação de primeiros tratamentos de urgência ou emergência, designadamente intervenções de pequenas cirurgias, para o que deve dispor de iluminação adequada”. Quando V. Exa. afirma “em todas as minhas organizações cumpri totalmente o estipulado no RET em vigor” teve o acima descrito em consideração?? É que “cumprir totalmente o estipulado no RET em vigor” é uma afirmação deveras compremetedora”! Não falte à verdade e não brinque com assuntos sérios, Sr. José Luis Gomes…!!
Sr. José Luis Gomes, “contratar devidamente” uma equipa médica e não lhe fornecer o material exigido no RET para desempenhar adequadamente as suas funções é quase tão grave como possuír todo o material exigido na enfermaria e não “contratar devidamente” a equipa médica! Uma obrigação não exclui a outra, Sr. José Luis Gomes!! Ou seja, não se trata de situações mutuamente exclusivas (aquelas que não podem ocorrer em simultâneo), como parece pretender insinuar!
Sem qualquer relevância, mas revelador do seu carácter, deixe-me apenas referir que V. Exa. falta novamente à verdade quando afirma “estavam também à porta da praça, duas ambulâncias de emergência do tipo B, embora o Regulamento em vigor obrigue apenas a uma!” O que estava à porta da praça, Sr. José Luis Gomes, era uma ambulância tipo B e outra de transporte de doentes não urgentes. Ponto!
Afinal, Sr. José Luis Gomes, quando afirma “lamento que me tenha acusado com falsidades” o que é que V. Exa. desmente relativamente ao que afirmei??
b) afirma V. Exa. “aproveito para lhe confessar a minha preocupação, ao vê-lo misturar generalidades com os elogios que faz em (sua) causa própria, como se apenas aos seus serviços dependesse o cumprimento das obrigações regulamentares que a todos dizem respeito, seja a troco de 300 ou 400 euros… como refere em jeito de velada (e desnecessária) publicidade…”.
Relativamente a este ponto, caro Senhor, vou ter que começar por lhe dizer que “se apenas aos meus serviços dependesse o cumprimento das obrigações regulamentares que a todos dizem respeito” as enfermarias há muitos anos estariam a funcionar como exigido no RET! É precisamente por a tauromaquia continuar a ser parasitada por indivíduos da sua estirpe que esta situação se mantém há anos tal e qual como foi por mim descrito.
Saiba V. Exa. que, ao contrário do que pretende maldosamente insinuar, nunca foi a questão monetária que me moveu. A médica da praça de toiros da Moita do Ribatejo poderá esclarecê-lo relativamente ao número de corridas em que ali prestámos assistência graciosamente nos últimos anos, tendo sido o empresário António Manuel Barata Gomes o único que até hoje se disponibilizou a contratar os nossos serviços naquela praça.
Honra seja feita à actual empresa da praça de touros de Coruche e, mais recentemente, ao Sr. António Manuel Cardoso (empresário da praça de Évora), que tomaram a iniciativa de contratar os nossos serviços.
Aliás, quando V. Exa. afirma que “foram devidamente contratados o Médico… e o Enfermeiro” imagino que esteja a referir-se a algum tipo de compensação monetária…! Ou pensará V. Exa. que este tipo de trabalho deva ser exercido graciosamente?? Ou que, tal como genericamente afirmei, 300 ou 400 euros são alguma exorbitância quando divididos por Médico, Enfermeiro e TEPH (tripulante de emergência pré-hospitalar)??
Se V. Exa. se comprometer a disponibilizar todas as condições e todo o material exigido no RET talvez este valor seja justo. Enquanto for a minha equipa a adquiri-lo permita-me dizer-lhe que 300 ou 400 euros não passam de uma pechincha!!!
Depois, Sr. José Luis Gomes, permita-me esclarecê-lo de que não fiz, nem necessito de fazer, elogios em causa própria. Ultrapasso as competências exigidas no RET e, mesmo antes de o Regulamento ter sido publicado (em 11/6/2014), já a minha equipa e o material que hoje transportamos para as praças de touros funcionavam precisamente nos mesmos moldes. Os meus doentes – até mesmo aqueles a quem nas enfermarias prestei assistência – certamente não permitirão que V. Exa. coloque o meu desempenho em causa.
Se relativamente ao percurso de cada um de nós e à influência no meio taurino não me atrevo a comparar o nosso curriculum, também não admito a V. Exa. que o faça relativamente às minhas competências, conhecimentos e práticas clínicas.
Para finalizar, permita-me a mim “confessar a minha preocupação” (citando-o) não apenas por aquilo que escreve mas, sobretudo, pela imagem que, obrigatoriamente, faz transparecer.
Afinal qual foi (enquanto cabo do GFA de Lisboa), qual é (enquanto dirigente da ANGF e empresário tauromáquico) e qual irá ser (vá-se lá saber em que cargo) o seu contributo para a real melhoria das condições existentes nas enfermarias das praças de touros em Portugal??
Hoje, acusa-me de vaidoso e publicitário. Não me lembro de me o ter referido de todas as vezes que, desinteressadamente, fui visitar o seu filho ao hospital de São José… E olhe que o tema era precisamente o mesmo! E já passaram anos mais do que suficientes para V. Exa. ponderar que, na praça do Sobral ou noutra praça qualquer, um artista (seja forcado, cavaleiro ou bandarilheiro) ou, até, o público que lhe compra os bilhetes possa ter direito, por Lei, a uma assistência médica dignificante.
É precisamente disso que se trata, Sr. José Luis Gomes: dignidade!! E talvez seja por esse motivo que V. Exa. “não tenha entendido as minhas reflexões”!
Para terminar permita-me, então, publicitar a minha vaidade: parece que o público (ao contrário de V. Exa.) recebeu muito bem e agradeceu os meus “apontamentos”, que muitos artistas se congratularam com o exposto e que alguns empresários (não o Sr., obviamente) já começaram a inverter a tendência reinante do incumprimento do RET.
Despeço-me com os melhores cumprimentos pessoais e, tal como refere na sua carta, também “sempre a dar a cara perante o adversário”,
António Ponte Peças
Fotos Maria Mil-Homens e D.R./@António Peças/Facebook