A mesma voz, a mesma raça, o mesmo tom! Carlos do Carmo cantou e encantou no último sábado no Campo Pequeno! E o resto, são cantigas... |
Raça até dizer chega! Raquel Tavares, uma grande Fadista, a digna sucessora da grande Beatriz da Conceição |
Drª Paula Resende, seu marid, Rui Oliveira e filha, com Filipa Trigo e seu marido, José Rafael |
Manuel Jacinto, responsável pela Área Comercial do Campo Pequeno |
Dr. António Manuel de Moraes, autor do livro publicado aquando do centenário do Campo Pequeno, e sua Mulher |
Músicos e Fadistas na apoteose final com a praça de pé a aplaudi-los |
No final do concerto, a administradora do Campo Pequeno ofereceu a Carlos do Carmo e a Raquel Tavares o livro comemorativo dos 125 anos da emblemática praça de toiros de Lisboa |
Dr. Paulo Pereira, Relações Públicas do Campo Pequeno, com sua Mulher |
Miguel Alvarenga - Sou um apaixonado pela Música, passo horas a ouvir Música. E adoro o Fado. Há quem nasça e seja Fadista e quem pense que é Fadista. E o Fado não tem côr, não tem ideologia, tanto se me dá que quem o cante, desde que o cante bem, seja de Esquerda ou de Direita.
Vou, por isso, colocar todos os pontos nos iis a propósito do facto de a Administração do Campo Pequeno ter eleito Carlos do Carmo para a Gala de encerramento das comemorações dos 125 anos da praça, que sábado a encheu de um público entusiasta, amante do Fado e que fosse de Esquerda ou de Direita, pouco importa.
Sou completa e claramente insuspeito para abordar este assunto, que suscitou os mais díspares comentários, antes e depois, nas redes sociais, com uma esmagadora onda de revoltados indignados pelo facto de o Campo Pequeno ter escolhido “um comunista” para ali cantar o Fado.
Os que me conhecem - e os que não conhecem, passam a saber - sabem do meu passado de Direita, mais que isso, de Extrema-Direita, e da forma como combati, com todas as minhas forças, essa praga do Comunismo, nos tempos difíceis do PREC, onde se não brincava, quer no ELP, quer nos liceus (apelidavam-me de “nazi dos liceus”), quer no Movimento “Maria da Fonte” do meu saudoso amigo Paradela de Abreu, o editor do célebre livro “Portugal e o Futuro” do General Spínola.
Lutei, andei em Madrid, andei no terreno - e nesse tempo, nunca lá vi muitos dos agora direitistas que nas redes sociais se revoltaram contra a presença de Carlos do Carmo no Campo Pequeno. Onde estavam eles no 25 de Abril e nos tempos que se seguiram, como perguntava o grande Baptista Bastos?
Tanto se me dá, como se me deu, que Carlos do Carmo tenha tido uma onda vermelhusca a seguir à abrilada. É e continua a ser um grande Fadista. Como sábado se viu. E ouviu. Mais que isso: é uma das maiores referências do Fado nos últimos cinquenta anos.
Quando um Forcado pega um toiro, alguém se lembrou de lhe perguntar a que clube de futebol pertence ou qual a sua ideologia política?
Bem sei que há tradições que são muito mais próximas da Direita que da Esquerda. Como o Fado e como as Touradas. Mas a Arte nunca teve côr política. Nem pode ter.
Hemingway e Picasso, por exemplo, alguma vez foram de Direita? Não me consta. Por isso, e por tudo, considero que são de uma primária e arrepiante falta de nível - e de cultura - as críticas que li nas redes sociais à presença de Carlos do Carmo no Campo Pequeno.
Foi de Esquerda a seguir ao 25 de Abril? Ainda é de Esquerda? E que me importa, se canta o Fado tão bem? Sempre gostei muito e gosto de cantores como José Afonso, Sérgio Godinho, Moustaki e tantos mais. E eles nunca foram, como eu, de Direita. Sou amigo e admiro o Carlos Alberto Moniz e até costumamos brincar quando falamos da sua célebre canção “Força, força, companheiros Vasco”.
Carlos do Carmo canta muito bem o Fado. Sempre o cantou. Sábado, encantou o público que encheu o Campo Pequeno. Cantou todos os fados antigos e alguns novos. Com a mesma voz, com a mesma garra e no mesmo tom de sempre. Como só ele sabe.
Raquel Tavares, confesso, nunca a tinha ouvido cantar. Encarna o espírito, a voz, a garra e até tem um xaile dela, da grande Beatriz da Conceição. Tem uma raça do outro mundo, enche uma sala, e é Fadista dos pés à cabeça. Foi, para mim, uma grande revelação.
Os duetos que fizeram foram fantásticos. Os músicos que os acompanharam foram magníficos. E o Fado aconteceu , escutado em silêncio, ao longo de duas horas que foram um espanto.
Melhor era impossível. Quem não foi, não sabe o que perdeu. E o resto, o resto, meus amigos, são cantigas…
Grande Carlos do Carmo! E grande Raquel Tavares!
Grande - e digna do acontecimento, o final da comemoração da efeméride dos 125 anos do Campo Pequeno - a escolha da Administração da primeira praça de toiros do país. Fado é Fado e não tem côr política, meus senhores!
Na primeira fila, vi o presidente da Câmara de Lisboa. E só lamento que não tenha estado também presente - como se impunha! - em nenhuma das corridas da temporada dos 125 anos do emblemático Campo Pequeno, monumento histórico e cheio de História, da cidade a que ele preside. É a única crítica que tenho a fazer - e que não vi ninguém fazer nas redes sociais…
Tenho dito. Viva o Fado! Viva o grande Carlos do Carmo e a revelação Raquel Tavares. E obrigado por tão bem o terem cantado no sábado. Não esqueço tão cedo.
E como adoro Fado, dia 7 de Dezembro lá estarei também no São Luiz a comemorar os 50 anos de carreira de João Braga - que, em termos ideológicos, está muito mais próximo de mim. Mas que importa isso? Repito: a Arte, o Fado não têm, não têm que ter, côr política. Só tem que ser bem cantado. Como Carlos do Carmo o cantou no sábado no Campo Pequeno.
E mais nada!
Fotos Emílio de Jesus