sexta-feira, 3 de novembro de 2017

João Telles: "Há pouca união e muito pouco profissionalismo na Festa!"



Esta é a primeira de várias entrevistas que aqui vamos publicar ao longo do defeso com os mais destacados triunfadores da temporada. João Ribeiro Telles abre o ciclo, em vésperas de comemorar os seus 10 anos de alternativa e depois de um ano triunfal a que só faltou a presença no Campo Pequeno. Mas mesmo sem Lisboa, ele marcou o ano tauromáquico de 2017. João Telles por ele próprio. Já a seguir.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- 2017 foi o teu ano… mas faltou Lisboa, o Campo Pequeno. Vamos começar por aqui. Não houve mesmo nada a fazer para que te apresentasses, numa temporada tão intensa, na primeira praça do país?
- Verdade, sem dúvida que foi o meu ano, e também verdade que só o que faltou foi o Campo Pequeno. Felizmente foram várias as vezes que a empresa teve interesse em contratar-me,o que me deixa muito satisfeito, sinal que o que fiz nas outras corridas foi bastante positivo para esse interesse da empresa. Todos já sabemos e já foi muito falado porque não toureei no Campo Pequeno este ano, não há mais a dizer…
- Mesmo faltando Lisboa para que a temporada fosse completamente redonda, que maiores triunfos recordas e em que praças?
- Felizmente foi uma época em grande. Prefiro falar em primeiro lugar de duas ou três corridas que correram menos bem, Alcochete, Abiul e meia parte da corrida da Moita… Em todas as outras corridas senti-me muito a gosto e com os cavalos a responderem muito bem, triunfei forte em várias corridas, destaco algumas actuações, como as de Évora, Salvaterra, Idanha-a-Nova, Montemor, Coruche, Chamusca, Vila Franca, Moura… todas corridas muito importantes e com casas cheias, algumas mesmo esgotadas.
- Como te sentes no fim desta temporada? Dever cumprido?
- Quero sempre mais, mas acho que foi uma temporada que marcou a diferença, acabando com belíssimas corridas em  Évora, Vila Franca e Chamusca, que foi a cereja em cima do bolo.
- Na próxima temporada cumpres dez anos de alternativa, podemos já saber que projectos existem para comemorar a efeméride?
- Quero fazer uma época ainda mais especial, sou um toureiro de tourear poucas e boas, mas na próxima época quero muitas datas especiais e diferentes no meu calendário. Estamos a preparar tudo.
- Continua a dizer-se e ainda agora o veio dizer em público o presidente da Associação de Empresários, Paulo Pessoa de Carvalho, que faltam hoje ídolos para arrastar gente às praças. O que te falta a ti para ser um ídolo, João?
- Falta-me muita coisa e tudo o que tenho acho sempre que é pouco, mas acho que sou dos que estou no caminho mais perto para aí chegar...
- Embora não haja ainda dados oficiais, as previsões apontam para um número igual de corridas este ano, ao do ano anterior, cerca de 190. Achas que são corridas a mais? Ou a menos?
- Penso que se fazem muitas corridas só porque sim, e continuo a defender que grandes cartéis e as datas tradicionais têm muita gente mesmo, foi o exemplo este ano. Sempre que toureei e em todas as corridas importantes que vi, as casas foram muito fortes e em muitos casos esgotadas mesmo. Tive a sorte de tourear várias esgotadas.
- Como vês o actual panorama taurino em Portugal?
- Muito sinceramente não é o melhor, acima de tudo pouca união e muito pouco profissionalismo…
- O público enche as grandes corridas, mas não acorre a muitas que são “mais do mesmo”. O que se poderia fazer para revitalizar a Festa?
- Apenas as grandes corridas serem realizadas, todas as outras de que me está a falar, penso que para os dias que correm eram escusadas. Tem de se dar categoria à nossa Festa, porque a verdade é que somos muitos os apaixonados e aficionados.
-  “Nené” é o apoderado certo no momento certo?
- Se não fosse não estaria ao meu lado..,
- Um artista, por norma, nunca está satisfeito. O que te falta fazer, João? Que metas tens ainda por atingir?
- Falta-me fazer muito mais do que aquilo que fiz, aliás, acho que ainda fiz muito pouco para aquilo que quero… Quero ficar na História e marcar uma época, ou seja, ser máxima figura do toureio. Acima de tudo, o que me falta e mais desejo é entrar nas grandes feiras espanholas.
- És um homem de Fé? Pensas na morte quanto entras na arena? Superstições, tens?
- Sou um homem de muita fé, claro que penso na morte e em tudo, sei que é uma profissão de alto risco, mas a minha paixão pela profissão ultrapassa qualquer coisa… Sou muito supersticioso!
- Quem foram os teus ídolos no mundo dos toiros?
- Muitos! Vejo muitos vídeos e acima de tudo muitas corridas, só penso mesmo nos cavalos, nos toiros e nas corridas, sonho todos os dias com isto, logo tenho vários ídolos… Acima de tudo e todos, o meu pai, e a minha família, depois todas as grandes figuras e gosto muito de muitas coisas em vários, desde o João Moura, o João Salgueiro, o Pablo Hermoso, o Diego Ventura… acho que são referências para todos os que gostam do bom toureio e o de verdade, o toureio com que me identifico...
- O que podem os aficionados esperar em 2018 de João Ribeiro Telles?
- Sempre a maior dedicação e querer triunfar todos os dias, mas acima de tudo um ano diferente, os 10 anos de alternativa.
- Quem é o teu maior rival? João Moura Jr.?
- Todos os meus colegas de cartel o são, mas sem dúvida que o João é dos maiores, por toda a competência que nos fazem em redor! Mas há vários...
- Confirmar a alternativa em Madrid continua a ser um dos teus sonhos maiores?
- Como disse atrás, é mesmo o meu maior sonho, a única coisa que vejo positiva é que cada ano que passa estou mais maduro e preparado, mas não vejo essa hora chegar, sonho com isso todos os dias... Mas como tenho fé e muita dedicação não tenho uma dúvida que esse dia, mais tarde ou mais cedo, está a chegar.
- Ser toureiro é…
- É algo diferente, especial e muito apaixonante. Muito espírito de sacrifício e muito difícil, mas ser toureiro é muito mais fácil que ser figura do toureio e eu levanto-me e preparo-me todos os dias para ser figura do toureio, isso sim, ser figura é...

Fotos D.R./@João Ribeiro Telles