Moura Caetano concedeu ao toiro da ganadaria de seu pai todas as vantagens na cravagem dos compridos, que resultaram emotivos. Com os curtos, brilhou com o cavalo "Xispa" |
O quinto toiro, de Paulo Caetano, mais reservado e complicado, serviu para Moura Jr. demonstrar que tem argumentos de sobra para enfrentar desafios, adversidades e toiros de qualquer comportamento |
Palha no seu primeiro toiro, de Paulo Caetano, que lidou com garra e atitude |
Foi com esta verdade e esta emoção que Francisco Palha toureou o último toiro, da ganadaria de Irmãos Moura Caetano |
João Moura Jr. ganhou ontem pelo terceiro ano consecutivo o troféu "D. José Athayde" para a melhor lide em Alter do Chão. O prémio "Luis Saramago" para a melhor pega foi ganho pelos Amadores de Montemor.
Miguel Alvarenga - Vinte e cinco anos depois de ter iniciado a sua carreira empresarial ao leme da praça de toiros de Alter do Chão e de a ter elevado ao mais alto dos patamares mercê de organizações criteriosas em que impôs a sua aficion e a sua imensa seriedade, Jorge de Carvalho assinalou ontem a efeméride na “sua” tão tradicional corrida de 25 de Abril (que nunca teve nada a ver com a data da “revolução”, mas sim e apenas com o dia da festa local da Feira de São Marcos), pondo um ponto final na actividade - que para muitos foi inesperado e constituiu uma triste surpresa. A Festa precisa - e muito mais neste momento - de empresários como ele. Lamente-se o “corte de coleta”.
Com seu filho, foi à arena no início da corrida, visivelmente emocionado, para receber as homenagens da Banda Municipal Alterense e do público que enchia a praça e se levantou numa calorosa ovação com que quis traduzir o seu reconhecimento pelas mais de duas décadas em que ali esteve e deu a cara em prol de uma Festa melhor. Ao longo da tarde, recebeu também os brindes dos cavaleiros e dos dois grupos de forcados. A tarde foi sua - e foi a última. Obrigado, Jorge de Carvalho - e até sempre!
Artisticamente, em tarde de calor e praça cheia, houve grandes momentos de bom toureio e pegas emotivas. Estavam em disputa dois prémios - melhor lide e melhor pega - e foram ganhos por João Moura Júnior pela sua primeira lide (pelo terceiro ano consecutivo levou para casa o troféu “D. José de Athayde”) e pelos Forcados Amadores de Montemor, pela primeira pega da corrida, executada por Vasco Ponce ao primeiro intento (Troféu “Luis Saramago”).
Lidaram-se toiros das ganadarias de Paulo Caetano (primeiro, terceiro e quinto) e de Irmãos Moura Caetano (segundo, quarto e sexto), de distinta apresentação, sem peso excessivo, com mobilidade e de bom jogo, nobres, sem muita transmissão, mas a deixar-se tourear, alguns pedindo contas. Toiros ideais e, repito, sem carnes a mais, dentro da morfologia que se exige ao toiro bravo.
Moura Caetano/"Temperamento", dupla de sonho
João Moura Caetano deu a volta com sabedoria e arte ao seu primeiro toiro, da ganadaria de seu pai, brilhando com o “Xispa” a toda a prova e pondo emoção em todas as sortes, sem atingir contudo o clímax por falta de matéria prima. O toiro empregou-se, denotou nobreza, mas alguma falta de força e por isso não transmitiu o que se desejava para impor um maior impacto à boa lide do cavaleiro.
No seu segundo, da sua própria ganadaria, Moura Caetano excedeu-se em raça e arte com o elástico cavalo “Temperamento”, desenhando verdadeiros quadros de bom toureio em brega vistosa e ferros que resultaram na perfeição. Bordou o toureio, o que é norma usual sempre que em praça se exibe esta história dupla Moura Caetano/“Temperamento”. Por fim, trouxe o “Hip-Hop”, uma das novas estrelas da quadra, que pisou terrenos de compromisso na cravagem de um último e grande ferro.
A importância de se chamar... João Moura
João Moura Júnior marcou, como tem marcado sempre, a diferença. A sua primeira lide, a um toiro empenhado de Irmãos Moura Caetano, teve o cunho inimitável do fulgor do toureio mourista. Recortes de maravilha, ferros a bater o piton contrário, remates de arte como que se o cavalo fosse um capote romerista no cantar de uma faena de sonho na Maestranza sevilhana. Fantástico, único mesmo, o pormenor com que, no centro da arena, improvisou um quiebro e se recortou na cara do toiro num momento de uma investida inesperada, saindo airosamente do que normalmente se denomina “um aperto”.
O seu segundo toiro, de Paulo Caetano, era mais reservado, esperava e arrancava-se a cortar terreno. João Moura valeu-se da sua experiência, das suas preciosas montadas e de todas as mais valias do momento grande que atravessa para dar a volta ao oponente e vencer a partida, impondo a sua técnica e a sua arte às dificuldades do toiro. A lide não resultou tão brilhante como a primeira, mas valeu pela atitude e os argumentos que pôs à prova. Moura sem parança e cada vez mais distanciado do pelotão. Como seu pai, vão passados quarenta anos.
Francisco Palha e os ferros de parar corações
Francisco Palha vive um momento alto de afirmação e que é já também de consagração. Está mais toureiro que nunca e está moralizado e montado para enfrentar e vencer todos os desafios.
Primeiro com um toiro de boa nota de Paulo Caetano e depois com outro que pedia contas de Irmãos Moura Caetano, Francisco Palha pôs em prática o seu toureio “atrevido”, de verdade e de risco. Deu prioridade ao oponente nos compridos e depois nos curtos, em ambas as lides, entrou pela cara dos toiros deixando ferros de forte emoção, daqueles que páram corações. Nota mais destacada para a última actuação, em que muitos porfiou, aguentando barbaridades parado na cara do toiro, provocando a investida e quarteando-se depois num palmo de terreno para deixar os ferros de alto a baixo com a verdade que ensinam os livros antigos.
Mais uma tarde importante de afirmação/confirmação de Palhinha, a prometer temporada de muitos triunfos. Acredito que ninguém protestaria se também ele tivesse sido ontem contemplado, nem que fosse "ex-aequo", com o prémio para a melhor lide. Pela sua última brilhante actuação.
Pegas rijas de Montemor e Alter
Nas pegas, os toiros entraram pelo seu caminho, com força e ganas, mas sem derrotar em demasia. Nota alta para os dois grupos, Montemor e Alter do Chão. Pelos montemorenses pegaram Vasco Ponce, justo vencedor do troféu, ao primeiro intento; João Calisto também à primeira; e José Maria Vacas de Carvalho à segunda, após ter sido derrotado quando na primeira tentativa foi buscar o toiro aos seus terrenos. Na generalidade, o grupo esteve sempre bem a ajudar.
Pelos forcados da terra, foram caras Filipe Ribeiro à segunda; Diogo Bilé à primeira; e Jorge Nagk à primeira também. O grupo demonstrou igualmente forte e oportuna coesão nas ajudas.
Bem, como é seu costume, esteve Agostinho Borges na direcção da corrida, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Guerra.
O intervalo foi curtíssimo, o tempo suficiente para arranjar a arena a a corrida decorreu em bom ritmo e sem tempos mortos, exceptuando a recolha do primeiro toiro, que acabou por ser laçado.
Fotos Maria Mil-Homens