Sentidas palavras de Paulo Caetano escritas ontem na sua página da rede social Facebook como forma de homenagem ao amigo e companheiro Joaquim Bastinhas, que aqui reproduzimos com a devida vénia
Estava fora de Portugal quando recebi a triste notícia, mas naquele momento, a distância geográfica era indiferente. Estivesse onde estivesse, o cenário ao meu redor, teria ficado vazio.
Só o meu amigo e os muitos momentos que passámos juntos me faziam companhia. Os únicos pensamentos que me separavam dele, iam para a Helena, para o Marcos, para o Ivan, para os pequeninos e para as mães deles, para os seus pais, para os seus sogros, para todos aqueles que mais o amaram e acompanharam. A dor rompia o meu peito e fazia-me dobrar sobre o ventre, com os braços fechados ,como que a proteger as recordações. Curvado sob o peso do inexplicável, da incapacidade para entender, da sensação de irreversibilidade. Pensei no seu pai e no exemplo maravilhoso de senhorio, honradez e hombridade que passou ao seu filho e a todos os que com ele partilharam tantas horas e tantos medos de callejon. Uma ideia adoçou-me o coração, a do abraço com que terá recebido o seu filho, e o plano que, com ele, estará calmamente , como sempre foi seu timbre, a fazer, para aliviar o sofrimento e proteger as pessoas suas amadas que cá ficaram. Depois vieram as memórias do colega. Da paixão, do entusiasmo, da entrega com que viveu a sua arte. Da forma única, inigualável, como sentia e interpretava o toureio. Da exuberância natural, genuína , com que enchia de entusiasmo o seu público. Seu mesmo, seu de verdade. Da honestidade e da rectidão com que se relacionava com os companheiros e da alegria com que temperava os momentos de tensão.
Depois veio a lembrança do homem e do amigo. Da entrega e da lealdade. Da iniciativa e responsabilidade que punha em tudo o que construía. Do incondicional amor e dedicação á sua mais notável obra, a sua família. Da atenção e fidelidade que dispensava a todos os que o acompanhavam, na carreira e no trabalho. Do esmero com que cuidava da sua casa, da casa dos seus cavalos, das suas coisas, das searas, da terra que tanto amava. Do apuro com que preservava e respeitava os seus arreios, as suas maquinas e alfaias.
Então, percebi que tinha de me erguer. Olhei para o Céu e agradeci. Agradeci por ter tido o Bastinhas como amigo e companheiro. Percebi que não era de explicações que precisava mas sim, mais uma vez, da ajuda de Deus. De esperança , para poder aceitar , para seguir em frente, para secar este choro e ungir esta dor que o tempo não apagará mas que a Fé vai aliviar. Em cada Praça de Touros, em cada recanto do seu Monte, em cada esquina da nossa vida, o Joaquim Manel estará lá, com o seu sorriso a dar-nos força.
Homens assim, partem, mas não nos deixam.
Paulo Caetano
Fotos D.R. e Maria Mil-Homens