Os novilheiros Leonardo Passareira, Eric Olivera, Filipe Martinho e Duarte Silva. Público deixou as bancadas da praça da Moita às moscas e, uma vez mais, virou as costas ao futuro... |
A parte equestre esteve a cargo dos praticantes António Núncio e Ricardo Cravidão |
António Núncio abriu ontem praça com uma lide acertada e com bonitos pormenores de interpretação clássica da arte de bem tourear a cavalo |
Triunfo e mais um importante passo em frente de Ricardo Cravidão, cavaleiro praticante que continua a dar nas vistas e a marcar a diferença |
Forcados Amadores da Moita brilharam na sua terra. João César foi o autor da primeira pega, bem consumada ao primeiro intento, estando o grupo muito bem a ajudar nas duas intervenções |
A segunda pega, também à primeira, foi executada por David Solo |
Leonardo Passareira confirmou o que dissera em Lisboa: é um toureiro sóbrio e seguro e aponta futuro risonho |
O espanhol Eric Olivera demonstrou ganas, rodagem e muita pinta torera |
Filipe Martinho, com uma faena de muleta muito templada, foi ontem o grande triunfador no que aos novilheiros disse respeito. Lidou um bom novilho de Palha |
Valos, entrega e muito querer do poderoso Duarte Silva |
Sectores de sol vazios e os dois de sombra com muito pouco público... |
Muito pouco público ontem na Moita, outrora uma aficion tão adepta do toureio a pé, para assistir à bem montada novilhada de oportunidade aos novos valores. Foi pena, como o fora já em Lisboa, porque o espectáculo foi interessante e se voltou a provar que a Festa tem futuro. E bom
Miguel Alvarenga - O público da Moita ficou ontem em casa, provavelmente a ver a bola, primando pela ausência nas bancadas - despovoadas - da bem cuidada praça "Daniel do Nascimento", pese embora o esforço e o empenho da nova empresa liderada por Ricardo Levesinho (que por questões da sua vida profissional se viu ontem também obrigado a não estar no espectáculo).
E nem mesmo a repetição dos três valorosos novilheiros triunfadores do Campo Pequeno - Leonardo Passareira, Filipe Martinho e Duarte Silva - convenceu os (ditos) aficionados do toureio a pé a deslocarem-se à Moita. Foi pena.
Lidaram-se quatro novilhos de Palha, um de Oliveiras Irmãos e outro de Núncio, embora estivessem anunciados também dois de Lampreia, que não vieram. Todos os novilhos evidenciaram qualidades e boa nota, exceptuando o último, mais brusco e reservado.
As lides a cavalo estiveram a cargo dos praticantes António Núncio e Ricardo Cravidão. Para Núncio, que abriu praça, saíu um novilho de Palha bem rematado e que proporcionou ao jovem cavaleiro de dinastia uma lide acertada, no seu estilo clássico e de bom tom, com bonitos pormenores de brega, a lidar bem e a cravar ferros de excelente nota. Voltou a deixar óptima impressão.
Ricardo Cravidão voltou a apontar detalhes de bom toureio numa lide desenvolta e emotiva, a medir bem os terrenos, a entrar pelo novilho dentro e a cravar ferros de muita emoção em terrenos de compromisso. O novilho da ganadaria Branco Núncio tinha qualidade, investidas francas e Cravidão lidou-o na perfeição, subindo ontem mais uns degraus depois de tudo o que já deixou patente nas temporadas anteriores. É um toureiro de valor, está bem montado e pode finalmente este ano dar um passo em frente e entrar em cartéis com profissionais. Está apto para "entrar na guerra".
Os Forcados Amadores da Moita brilharam na arena da sua praça com duas pegas à primeira executadas por João César e David Solo, com o grupo a ajudar bem nas duas intervenções.
No toureio a pé houve bons momentos, mas sobretudo muita entrega, muito ofício e atitude por parte dos três referidos toureiros lusos e do espanhol Eric Olivera, aluno do antigo matador Luis Reina na Escola de Tauromaquia de Badajoz.
Leonardo Passareira, jovem novilheiro de Nave de Haver, aluno da Escola de Salamanca, brindou a sua lide ao emblemático cavaleiro seu conterrâneo Manuel André Jorge e, frente a um novilho codicioso de Palha, voltou a dar excelente nota da sua interpretação sóbria e artística da arte de bem tourear. Esteve variado com o capote, recebendo o novilho com uma afarolada de joelhos e com a muleta desenhou uma faena de entrega e brio pelos dois lados. Tem valor e está rodado.
O espanhol Eric Olivera tem pinta torera. Bonito no tércio de capote (em cada novilho alternaram em quites os companheiros seguintes), esteve decidido e valoroso com a muleta diante do único novilho com o ferro de Oliveiras Irmãos, ganadaria também pertencente a João Folque (Palha), que era exigente e com o qual o jovem toureiro demonstrou ter argumentos de sobra para levar o barco a bom porto.
Filipe Martinho, o novilheiro da Moita, foi ontem o maior triunfador no que ao toureio a pé diz respeito. Com um excelente novilho de Palha, deu com o capote o mote para o que viria a ser uma tarde de êxito, bandarilhou com poderio e arte e na faena de muleta deliciou o seu público com bonitas e lentas séries pelos dois lados, templando e mandando como os eleitos. Uma faena de arte e de bom gosto a que o público correspondeu, entusiasmado, com vibrantes e calorosas ovações.
Duarte Silva, aluno da Escola de Vila Franca, enfrentou um novilho também de Palha mais reservado e algo brusco de investidas, que pedia contas e não lhe facilitou a vida. Toureiro poderoso, destacou-se no capote com cingidas verónicas, voltou a exibir o seu valor com as bandarilhas e realizou depois uma faena de muita entrega e ofício, arrimando-se, sofrendo uma voltareta quando lidava de joelhos em terra, mas nunca virando a cara. Faena dura, que evidenciou uma vez mais o valor deste jovem toureiro.
Os quatro demonstraram atitude e muito querer, picaram-se nos quites de capote, procuraram estar por cima uns dos outros, houve competição.
Com as bandarilhas, nos novilhos de Passareira e de Olivera, estiveram muito bem João Viegas e Fernando Fetal. A lidar, evidenciaram-se João Ferreira e Cláudio Miguel.
Nota negativa, apenas, para o mau estado do piso da arena, que provocou escorregadelas, felizmente sem quedas, nas lides equestres de Núncio e Cravidão. Há que ver isso para a corrida desta tarde.
Nota positiva para a boa direcção do espectáculo, que ontem esteve a cargo de um dos novos directores de corrida, Fábio Costa. Competente e com rigor a exercer a função.
E a grande incógnita rodeia a corrida desta tarde. Cartel atractivo, toiros sérios, a estreia de Levesinho e o objectivo de devolver à praça da Moita o carisma de outros tempos. Vai o público desta vez corresponder? Oxalá que sim. Mais logo, teremos a resposta.
Fotos M. Alvarenga