sábado, 1 de fevereiro de 2020

António Manuel Cardoso "Nené": dois anos de saudade



Miguel Alvarenga - Rabujava, não chegava bem a discutir, às vezes amuava mas nunca se zangava de verdade - mas era um tipo fantástico, um amigo fora de série. Dois copos punham sempre fim a qualquer uma das brigazinhas que às vezes arranjava. Era são. E muito puro.
Foi um forcado enorme, um cabo extraordinário dos seus meninos, os Amadores de Alcochete - e foi sobretudo um dos grandes e mais sérios empresários tauromáquicos deste país. Primeiro, há tantos anos, em sociedade com o seu querido amigo Rogério Amaro - e eu guardo para sempre a grande memória de ter jantado com os dois e recordado tanta coisa desse tempo poucas semanas antes dele morrer - e depois sózinho, ajudado por seus filhos António e Margarida, que tão bem souberam nestes dois últimos anos dar continuidade à obra que ele criou com tanto amor, tanta dedicação e tanta aficion. Foi também empenhado apoderado de grandes figuras do toureio nacional e nos últimos anos de João Ribeiro Telles e do jovem António Prates e ai de quem discordasse daquilo que ele opinava e sentia pelos seus toureiros. Vestia sempre a camisola e ia até ao fim, contra ventos e marés, a defender a sua razão - que muitas vezes era mesmo a verdadeira.
Éramos amigos de verdade. E há uns bons quarenta anos. E nos últimos anos fiz tantas vezes com ele aquele caminho. Vínhamos de qualquer corrida no Alentejo com o Carlos Ferreira até Évora e aí apanhávamos o seu carro, que ali deixara e vinha-me deixar em casa, em Lisboa, rumando depois à sua terra sagrada, Alcochete. Naquele dia não fui. E ele morreu, quando vinha de Mourão, num desastre de automóvel quando já estava mesmo a chegar a casa. Faz hoje dois anos.
Estejas onde estiveres, "Nené", toma lá um abração. E não preciso de te dizer quanto gostava de ti, quanta falta nos tens feito a todos. Tu sabes isso tudo.

Fotos Maria Mil-Homens, Hugo Teixeira e Emílio de Jesus/Arquivo