Não posso estar mais de acordo com o concurso lançado ontem pela nova empresa de Álvaro Covões para a adjudicação de seis datas para a temporada de 2020 no Campo Pequeno. Manuel dos Santos fazia igual: as Fabulosas Corridas de Verão também se iniciavam em Junho. E nos tempos que correm, seis corridas chegam e bastam!
Miguel Alvarenga - A empresa Plateia Colossal de Álvaro Covões anunciou ontem na página web do Campo Pequeno a realização do esperado concurso para adjudicação das datas (seis) para a promoção de touradas na primeira praça do país.
Plenamente de acordo. Seis corridas chegam e sobram. E mais vale seis grandes corridas de praça cheia (assim se espera) do que dez ou doze a meio gás. Quem as fizer, vai ter que dar tudo por tudo, sem cartéis de meias tintas, para encher o Campo Pequeno - e não perder dinheiro, dignificando a Festa.
São poucas corridas, dirão alguns. Eu acho que chegam e que sobram. Há vários anos que defendo, contra ventos e marés e apesar de me chamarem nomes feios, que a temporada tauromáquica portuguesa se deveria resumir, em todas as praças, a trinta ou quarenta corridas, nunca mais. Encheriam todas e acabava-se de uma vez por todas com os cartéis de mais do mesmo. Tocava guitarra só quem tivesse unhas. Os tempos mudaram. E separava-se de uma vez por todas o trigo do joio. E Manuel dos Santos (exemplos ao lado) começava precisamente as Fabulosas Corridas de Verão em finais de Junho e iam até Setembro. Tudo o que Covões agora propõe.
A Álvaro Covões só critico a hora tardia a que veio por fim clarificar as coisas. Podia já ter falado há mais tempo, escusavam os aficionados de ter andado com esta dor de cabeça causada pela indefinição e pela incerteza em que todo o mundo andava sobre se haveria ou não touradas em Lisboa e se ele iria ser ou não o "Coveiro" da Festa.
O anúncio do concurso, inteligente, coerente e muitíssimo bem estruturado, começa por pôr de parte a hipótese de que seriam alugadas datas ao "deus dará", uma a esta empresa, outra àquela. Covões propõe adjudicar seis datas a uma só empresa, o que é bom e faz todo o sentido.
Mais importante: o anúncio do concurso tem uma cláusula, que considero deveras importante e demonstrativa dos bons propósitos e intenções do novo gestor da praça, que afirma que "sempre no intuito de privilegiar a Tauromaquia Nacional, só serão admitidas a concurso empresas com mais de 3 anos de existência e com inequívocas e reconhecidas provas dadas na organização de eventos do género em Portugal".
Ou seja, o empresário acautelou, como se refere numa cláusula anterior, "a dignidade e a qualidade que se exige" numa "praça de primeira". "O preço base por corrida e respectivos serviços que fazem parte do caderno de encargos será de 29.850,00 €, acrescidos do respectivo IVA à taxa legal em vigor", lê-se no anúncio, que prevê a realização das seis corridas de toiros "entre a última quinzena de Junho e a primeira semana de Setembro".
O caderno de encargos pode ser levantado no Campo Pequeno a partir de amanhã, 5 de Março, apenas e só "pelos representantes das empresas devidamente habilitadas para o concurso" e as propostas financeiras em carta fechada deverão ser entregues até às 17h00 do próximo dia 20. A abertura das mesmas ocorrerá meia hora depois do términus do prazo de entrega das mesmas, perante todos os representantes legais das empresas admitidas a concurso.
A vencedora será "a melhor proposta financeira", isto é, quem oferecer mais, e a decisão será anunciada até ao dia 23.
Ora bem. Antes de mais, há que aplaudir Álvaro Covões por, embora tardiamente, ter acabado de uma vez por todas com a expectativa e a ansiedade dos aficionados: afinal, sempre vai haver touradas no Campo Pequeno. Depois, há que voltar a aplaudir Álvaro Covões pela seriedade e a dignidade com que anunciou o concurso, relevando "o intuito de privilegiar a Tauromaquia" e de manter e assegurar "a dignidade e a qualidade" que se impõem numa praça como esta. E há ainda que ressalvar a exigência de que só possam concorrer empresas com mais de três anos de existência e com "inequívocas e reconhecidas provas dadas na organização de eventos do género em Portugal", afastando assim a possibilidade de aparecer por aí algum páraquedista endinheirado com apetência pela gestão da primeira praça do país.
Por fim, aplauda-se o facto de o empresário assegurar a realização da temporada por uma só empresa, em lugar da hipótese, que estava de pé pela falta de informação, de que poderiam ser alugadas datas a vários empresários.
Estamos por fim no caminho certo, com o número de corridas suficientes e nos meses ideais para as realizar. Podem todos finalmente dormir descansados. O negócio de Covões não é os toiros. Mas ele também não será o "Coveiro" da Festa.
Fotos D.R.