Foi interessante, construtivo e até didáctivo o debate de ontem no site "Tauronews" entre quatro dos mais destacados empresários nacionais, como aqui referimos enquanto estava a decorrer. Apontaram algumas soluções para a retoma da actividade, mas nem todos estiveram de acordo com as touradas sem público
Miguel Alvarenga - Luis Miguel Pombeiro, que a determinada altura do debate chegou a ser apresentado como Ricardo Levesinho (foto ao lado), foi o único dos quatro empresários que ontem no debate promovido pelo site "Tauronews" "não bateu" nos políticos. Criticou-os pela subida do IVA no espectáculo tauromáquico, mas chegou mesmo a aplaudir o Executivo de António Costa pela forma como tem gerido a crise da pandemia, lembrando os muitos elogios que do exterior têm sido feitos a Portugal. E sobre as restrições que o Governo e a Direcção-Geral de Saúde irão apresentar para o reinício das corridas, Pombeiro lembrou que "ainda são desconhecidas, pelo que é cedo para estarmos a fazer críticas".
Sereno, com fotos de Mestre Batista, Zoio, Joaquim Bastinhas e Duarte Pinto como pano de fundo na estante de sua casa, considerou que se as medidas restritivas foram prejudiciais e inviabilizarem a realização de espectáculos, "mais vale termos um ano sabático" e recomeçar em grande só na próxima temporada.
Mais optimista quando ao retomar da actividade, Ricardo Levesinho defendeu que "é preciso fazer alguma coisa" e manifestou-se favorável à realização de algumas corridas sem público e transmitidas pelas televisões. "É preciso que os toureiros não sejam esquecidos e que de alguma forma consigam manter a esperança e não desanimem. Se não fizermos nada, quando recomeçarmos vai haver menos ganadeiros e menos toureiros, que entretranto desistirão pela falta de incentivo", disse o carismático empresário da praça de Vila Franca e de outras.
José Luis Gomes, que foi emblemático forcado e agora gere uma única praça de toiros, a de Sobral de Monte Agraço, considerou-se um "empresário modesto" que encontrou nesta actividade a forma de continuar a fazer algo pela Festa quando se despediu como forcado. Também defendeu, como Pombeiro, que "mais vale esperar-se cinco, seis, sete meses, o tempo que for preciso, para então regressar em grande", considerando que touradas sem público são "uma coisa sem sentido nenhum".
José Manuel Ferreira Paulo (Cachapim), um dos mais antigos empresários taurinos nacionais, hoje apenas ligado à praça de toiros de Beja, de que é co-proprietário, também se mostrou contra as corridas sem público e, como José Luis Gomes e Levesinho, foi crítico em relação aos políticos e nomeadamente em relação ao Governo que "está a marginalizar o sector tauromáquico" e em relação também ao Presidente Marcelo (a quem escreveu aqui no "Farpas" há duas semanas uma dura Carta Aberta), que "foi aos toiros quando estava em pré-campanha e depois nos virou completamente as costas".
Em relação ao momento actual da tauromaquia em Portugal, Ferreira Paulo, polémico e frontal como sempre, foi o mais crítico dos quatro empresários: "A Festa hoje não tem emoção nenhuma. Digam-me um toureiro que crave ferros à Batista ou à Zoio... não há um único. Não há 'guerra' (competição) entre eles. Não há um único, dos novos, que nos faça levantar da bancada. Eu quando vou aos toiros gosto de me assustar, de me emocionar, não basta vibrar. E hoje não há nenhum toureiro como o Batista ou como o Zoio que nos assustem, que dêm emoção ao espectáculo".
No final e quando convidados a recordar quem foram os grandes empresários tauromáquicos deste país, os empresários falaram dos saudosos Manuel dos Santos e Manuel Gonçalves, entre outros de antigamente. Só Pombeiro lembrou António Manuel Cardoso "Nené" e Rui Bento, que não sendo propriamente empresário por conta própria, "fez um trabalho louvável nos catorze anos que esteve à frente do Campo Pequeno".
Fotos D.R.