Uma lúcida e nuito clara análise de Luis Miguel Pombeiro, empresário, apoderado e director do jornal "Olé!", dada à estampa na página oficial do semanário no Facebook, sobre a realização de touradas sem público, um tema que está a agitar o meio taurino nacional
Ouvi antentamente o que os representantes das Associações disseram ontem na Tauronews. Pela ANGF a disponibilidade. Paulo Pessoa de Carvalho pela APET não se comprometeu. João Santos Andrade pela Associação de Criadores de Toiros de Lide garantiu que vão haver corridas com ou sem público e que os ganadeiros em vez de mandarem os toiros para o campo sempre "recebem qualquer coisinha". Nuno Pardal, presidente da Associação de Toureiros, também garante corridas sem público.
Há uns anos um antigo cavaleiro dizia numa entrevista que as corridas são lindas, que fazem-se as casacas, provam-se, treinam-se os cavalos no picadeiro e no tentadero, treinam-se à tourinha, todo um manacial de situações bonitas. Terminava dizendo, com alguma ironia: "mas quem é que inventou ter de sair o toiro?". Agora parece que alguns senhores dizem: mas para que precisamos de público?
1º - Corridas sem público são inadmissíveis! Ponto de partida. Tudo o que se faz é para o público. Sejam as empresas, os toureiros, os forcados, os ganadeiros. Falta de respeito é apenas o que quero dizer, para não alongar ainda mais.
2º - Na noite de ontem não convidaram a Associação das Tertúlias que representam os aficionados. Falha grave ou propositada? Só por isso, mas não apenas, aquilo que poderia ter sido uma noite de esclarecimento foi uma desilusão.
3º - Toiros de borla ou quase, toureiros também a ajudar, com toda a certeza que as taxas da Prótoiro e da Associação de Toureiros também estarão isentas. Ou não? Faltaram as perguntas directas e objectivas.
4º - Quais as empresas que já aderiram a esta situação das coridas sem público? Importa saber quem e porquê. É que ficou bem patente que já está tudo organizado e que irão apresentar o projecto brevemente.
5º - Soube ainda que quem anda a falar com os cavaleiros é o presidente da Associação de Toureiros contactando directamente sem sequer dar cavaco aos apoderados. Nuno Pardal disse ter uma empresa de eventos e assim sendo irá ser ele o organizador das corridas sem público?
6º - A razão apresentada para que se dessem corridas sem público seria para não perder a ligação, seria para ajudar os ganadeiros, os toureiros. Mas se começaram por dizer que todos reduziriam os custos... Não se percebe. Afinal quem é que ganha com isso?
7º - Dizia o Nuno Pardal a certa altura que esta foi a pior situação pela qual se passou desde o 25 de Abril... No 25 de Abril morreram 7 pessoas. Agora já morreram mais de 1.000, por isso é com toda a certeza uma situação pior. Mas comparar o 25 de Abril com a pandemia ou com aquilo que estamos a viver hoje é incompreensível. Desculpem a minha burrice mas não vislumbro o porquê dessa afirmação.
8º - Já no passado, com menos gravidade porque não era um vírus de humanos mas de equinos, tivemos a Peste Equina Africana. Cancelaram-se corridas, fecharam-se fronteiras. Prejudicou, mas voltámos mais fortes. Temos primeiro de erradicar o Covid e esperar que tudo volte à normalidade. O exemplo de corridas sem público é mau demais, prejudica a imagem da Tauromaquia e parece uma brincadeira de mau gosto. Não alinho nesta situação. Estou completamente contra. Comigo não contam.
Por fim, faltou-me questionar o seguinte: a Prótoiro aderiu ao lay-off?
Gostava de saber...
Luis Miguel Pombeiro/"Olé!"/Facebook
Foto Emílio de Jesus/Arquivo