segunda-feira, 24 de maio de 2021

Recitais de arte em tarde grande de rejoneio ontem em Cantalejo


Miguel Alvarenga - João Moura Caetano bordou o toureio e desenhou aquela a que se pode chamar a lide perfeita no seu primeiro toiro, um magnífico exemplar da sua própria ganadaria (Irmãos Moura Caetano, tal como os restantes) premiado com ovação no arraste e protagonizou depois no segundo, de menor qualidade, uma boa actuação, sobretudo com o cavalo "Campo Pequeno", mas com menos brilhantismo que o conseguido na anterior, mais pela escassez de matéria prima (toiro) do que pelo seu empenho e profissionalismo que, para primeira corrida do ano, foram notáveis. Foi assim ontem na praça espanhola de Cantalejo, na província de Segóvia, um moderno tauródromo inaugurado no ano de 1991 por Pedrito de Portugal numa tarde em que repartiu cartel com "Espartaco" e "El Juli".

Moura Caetano, que abria ontem a sua temporada, para agora se apresentar em Portugal no próximo domingo, dia 30, na Azambuja e no dia 6 de Junho em Beja, teve ontem um duplo triunfo, já que como ganadeiro viu três dos seus toiros - primeiro, terceiro e sexto - terem honras de fortes ovações nos arrastes. Bem apresentados, com mobilidade, mas pouca transmissão e a escassa emoção habitual dos "Murubes", mais próprios para exibições de arte do que propriamente para as aflições e os calafrios que provocam nas bancadas os toiros ditos duros, os seus exemplares "serviram" para os recitais de arte e, como atrás referido, três até tiveram honras merecidas de aplausos no arraste.

O cavaleiro de Monforte perdeu as orelhas no primeiro toiro, que à partida estavam mais que garantidas, pelo mau uso do rojão de morte. Cravou dois e matou depois de um certeiro descabelho. Foi aos médios receber a justa ovação do público que reconheceu o valor e a arte, a maestria, o temple e o sentimento com que lidou, bregou e toureou o primeiro toiro da corrida - enquanto que no final da lide do quarto da ordem foi silenciado.

Guillermo Hermoso de Mendoza foi ontem o grande triunfador da corrida de Cantalejo, cortando quatro orelhas e tendo ainda, no último, petição de rabo, que a presidência não lhe concedeu.

Imparável, a somar êxitos de corrida em corrida, nota-se no jovem Guillermo uma progressão notável. No ano passado não o vimos tourear, mas este ano está um toureiro muitos pontos acima daquilo que lhe tínhamos visto há dois anos. Deixou em definitivo de ser "o filho de Pablo Hermoso" para ser agora uma nova figura do rejoneio, com um estilo muito próprio e sem pretender, o que seria natural e aceitável, imitar o pai.

Tem cavalos (alguns partilhados com o progenitor, outros seus) para todas as situações, está com um sítio tremendo, toureou ontem com uma arte e um temple sublimes os dois toiros - ambos de nota alta - do seu lote e "desorelhou-os" muito meritoriamente. Um triunfo importante e marcante do jovem Guillermo, que corre a passos largos para o podium do rejoneio actual e não está longe de depressa o alcançar. Fascinou.

A francesa Lea Vicens é uma toureira de raça, tem "gancho" com o público e está "feita" nas grandes feiras e nos principais cartéis, liderando por norma o escalafón anual do rejoneio. É valente e aguerrida. E tem bons cavalos.

Não esteve brilhante na lide do seu primeiro toiro - teve o pior lote, diga-se em abono da verdade -, apesar de alguns ferros de frente que emocionaram e dos ladeios aguentando ao máximo as investidas do toiro na garupa do cavalo. Matou mal e não cortou troféus. O seu segundo, quinto da ordem, foi um toiro de melhor qualidade e maior mobilidade. Lea lidou-o com recortes de brilhantismo e adornos de classe nos remates dos ferros. Com o público na mão pela sua graça e pela sua raça, foi - exageradamente - premiada com as duas orelhas, mesmo sem ter morto à primeira. No primeiro recebera carinhosa ovação. Saíu em ombros com Guillermo.

Exibiu-se ontem ao mais alto nível nesta corrida em Espanha a grande qualidade dos bandarilheiros portugueses, com a curiosa particularidade de ontem terem estado em (esmagadora) maioria a coadjuvar as lides: Pedro Paulino "China" e João Prates "Belmonte" na quadrilha de Caetano; Joaquim de Oliveira na de Lea Vicens; e José Franco "Grenho" e Ricardo Raimundo na de Hermoso de Mendoza. Um olé nem alto para os nossos toureiros de prata... que valem ouro!

Com primorosa organização do empresário Julian Alonso e o escrupuloso cumprimento das novas regras de segurança sanitária, mas sem o rigor que tem rodeado as corridas em Portugal (poucas indicações no exterior da praça sobre o distanciamento social, etc.), com voltas à arena e saídas em ombros afinal já permitidas, a praça registou ontem uma boa enchente de cerca de três quartos no que à lotação permitida (50%) diz respeito. Ao início do "passeíllo", guardou-se um minuto de silêncio pelas vítimas da pandemia e depois soou o Hino Nacional espanhol.

Fotos M. Alvarenga

Já a seguir, não perca os melhores momentos das actuações dos três cavaleiros e todas as fotos dos Famosos ontem em Cantalejo.