Jaime Amante (foto de cima), que ao tempo era moço de espadas do cavaleiro Afonso Correia Lopes, recorda ao "Farpas" como decorreram em 1985 na praça de toiros do Campo Pequeno as filmagens do célebre episódio da série "Barco do Amor" - depois de ontem aqui termos evocado essa corrida de toiros, a propósito da morte do actor Gavin MacLeod, que interpretava o papel de comandante do famoso barco de cruzeiro, série que fez história na RTP nos anos 70.
"Lembro-me bem dessa corrida. À época, era moço de espadas do Afonso Lopes. Poucos eram os cavaleiros que nesse tempo tinham um moço de espadas", lembra Jaime Amante. E conta:
"No dia anterior fomos ao Hotel Ritz para um cocktail onde foi apresentado o argumento do episódio, compareceram o realizador e os actores César Romero e Lorenzo Lamas. No dia da corrida chegámos à Praça um hora ou uma hora e meia antes do seu começo. O Vasco Taborda e o Afonso Lopes foram para uma dependência onde estava montada a caracterização. Num ápice eram 'gémeos' de César Romero e Lorenzo Lamas. As cortesias tiveram a participação dos dois artistas americanos que previamente tinham estudado a respectiva movimentação. Recolheram e as mesmas montadas foram utilizadas pelo Vasco Taborda (que dobrava Cesár Romero) e pelo Afonso Lopes (que dobrava Lorenzo Lamas). No entanto no pátio de quadrilhas, na troca, a montada do Vasco empinou-se e caiu sobre ele. Lesionou-se seriamente numa perna sem que isso invalidasse a sua participação normal na corrida. O Vasco por certo recorda-se".
E acrescenta:
"No dia seguinte e aproveitando o sobrero realizaram-se as filmagens da colhida e queda do Cesár Romero. Primeiro filmou-se a queda com o Sá Guimarães, que era duplo e dobrava o actor, a 'ser colhido' ainda um punhado de vezes. Era a sua profissão. Tinha uma quadra de cavalos preparados para este número. Participou na dobragem de vários actores em filmes de cowboys filmados na zona de Almeria - Espanha, idêntico negócio teve inicialmente Manuel Vidrié, que mais tarde se tornou em máxima figura do toureio a cavalo/rejoneio".
"Mas para que o momento da queda e colhida fosse mais 'verdadeiro', a Produção instalou no centro da arena uma espécie de jaula com uma parte almofadada que estava virada para a porta dos curros. Dentro da jaula colocou-se um cameramen para filmar o impacto da investida do toiro. O toiro saiu embolado e com bandarilhas postas, mas de bicos pequeninos. Foi recebido pelos bandarilheiros que estavam vestidos com os mesmos trajes do dia anterior. O toiro rematou contra a jaula várias vezes até que a produção entendeu que o material existente servia. O toiro recolheu, retirou-se a jaula e o respectivo cameramen e o toiro voltou a sair para o Grupo de Forcados Lusitanos efectuar várias pegas para juntar às que tinham realizado no dia anterior na corrida. Nesse dia à noite fomos visitar o navio que estava ancorado na Rocha de Conde de Óbidos", acrescenta Jaime Amante, a terminar.
Foto Emílio de Jesus/Arquivo