"Para muitos, morreu hoje o Capitão de Abril, para outros o responsável máximo do Copcon, para mim morreu o homem que mandou matar o meu Pai" - palavras de Manuel Castelo-Branco (foto de cima), hoje na sua página da rede social Facebook, a propósito da morte de Otelo Saraiva de Carvalho, de 84 anos, ocorrida esta manhã no Hospital Militar, em Lisboa, onde estava internado.
Manuel Castelo-Branco, ligado ao CDS-PP, onde foi um dos mais próximos da ex-líder Assunção Cristas, é filho de Gaspar Castelo-Branco, que era Director-Geral dos Serviços Prisionais quando a 16 de Fevereiro de 1986 foi assassinado a tiro à porta de sua casa em Lisboa pelas FP-25 de Abril (recorte do semanário "Expresso" em baixo).
Escreve Manuel Castelo-Branco:
"Quando alguém morre, costuma-se enaltecer os seus feitos, sua coragem, a força da sua personalidade e o bem que fez aos outros. Costuma-se ouvir elogios públicos e lembramo-nos da família de luto e de todos os que deixou. Sentimos que, mesmo o maior monstro, se torna humano e a dor e sofrimento que causaram à sua passagem, quase são relativizadados. Hoje morreu o Otelo e não consigo pensar assim. Para muitos, morreu hoje o Capitão de Abril, para outros o responsável máximo do Copcon, para mim morreu o homem que mandou matar o meu Pai e mais 14 vitimas inocentes, um bébé, o Nuno de apenas 4 meses, o Henrique, o Diamantino, o Alexandre, o Álvaro, o Adolfo, o Agostinho, o Fernando, o José, o Evaristo e o Rogério".
E acrescenta:
"Durante muitos anos pensei como reagiria, se sentiria a mesma alegria que ele terá sentido quando soube que tinham assassinado o meu Pai ou o Pai, o marido, o filho de tantos outros. Talvez me alegrasse, talvez viesse a ser um dia feliz para mim. Pensei que iria abrir uma garrafa de champanhe, que poderia sentir realizado um qualquer sentimento de vingança. Hoje o Otelo Saraiva de Carvalho morreu, e não sinto não fiz nem farei nada disso. Pelo contrário - é mais um dia de sofrimento, mais um dia em que me lembro de toda dor que este homem causou, sem que alguma vez tivesse cumprido a pena e 17 anos a que foi condenado e perdoado sem nunca se arrepender. Morreu hoje um homem mau, o dirigente e fundador das Forças Populares 25 de Abril. É o capítulo final de um livro de dor e sofrimento, que marcou toda a minha vida que se encerra. Que Deus lhe perdoe, o que ele nunca se arrependeu e eu não fui capaz de esquecer".
Fotos Manuel Castelo-Branco/Facebook e "Expresso"/Arquivo