Chega no próximo dia 20 às livrarias a biografia de Vera Lagoa quando se cumprem vinte anos sobre a sua morte - escrita pela historiadora Maria João da Câmara.
Poucas mulheres marcaram tanto o século XX português como Vera Lagoa (Maria Armanda Falcão). De carácter destemido e opiniões fortes, a sua voz livre foi uma lufada de ar fresco no jornalismo português. Foi a primeira locutora da RTP. Na coluna Bisbilhotices, no "Diário Popular", comentou a sociedade do final do Estado Novo de forma atrevida, mordaz, indiscreta ao ponto de provocar o escândalo. No pós-25 de Abril, foi das raras vozes independentes, dissonantes, sem compromissos nem cálculo, que se atreveu a criticar os novos poderes instituídos.
Pela mão da historiadora Maria João da Câmara chega-nos finalmente a sua biografia. De uma menina marcada pela figura trágica do pai até à jovem precoce no trabalho, no casamento e na maternidade; de uma habitué dos ambientes intelectuais e artísticos sofisticados da Lisboa do pós-guerra - onde encontra Amália Rodrigues, Sttau Monteiro, Cesariny, Natália Correia, Ary dos Santos e José Manuel Tengarrinha, o amor da sua vida - à sua entrada nos meios oposicionistas e apoio à candidatura de Humberto Delgado, em 1956.
Da invenção por desespero do pseudónimo Vera Lagoa para o “Diário Popular” de Pinto Balsemão, à sua grande esperança, e posterior desilusão, com o regime democrático, registadas de forma corajosa e contundente no seu jornal “O Diabo”, "Vera Lagoa - Um diabo de saias” é o registo do percurso tão notável quanto acidentado de uma mulher à frente do seu tempo.
Fruto de uma pesquisa admirável com recurso a diversas fontes históricas, nomeadamente ao arquivo pessoal de Vera Lagoa e a entrevistas com familiares, amigos e colaboradores (entre os quais Miguel Alvarenga, director do "Farpas" e que trabalhou muitos anos com a famosa jornalista no semanário "O Diabo") que a conheceram de perto, através da história desta mulher, Maria João da Câmara dá a conhecer uma sociedade, se não desconhecida, pelo menos esquecida, que vale a pena conhecer: a sociedade portuguesa na segunda metade do século passado.
Maria João da Câmara escreveu também as biografias de João Núncio (2002), de Maria José Nogueira Pinto (2013) e de Sanches Osório (2019).