Miguel Alvarenga - Já aqui o escrevi variadas vezes, mas insisto: não há memória, nos últimos anos, de um toureiro ter tido uma ascensão tão rápida aos primeiros patamares da glória em tão poucos anos de alternativa (quase cinco) como aconteceu, e continua a acontecer, com Luis Rouxinol Júnior.
Ontem em Alcochete estava, sem ter sido inicialmente anunciado, a substituir o ainda infelizmente lesionado Francisco Palha. E marcou a tarde. Como tem marcado esta temporada em todos os grandes palcos por onde tem passado, afirmando-se, consagrando-se, elevando cada vez mais alto a bandeira que conquistou - única e exclusivamente por seus méritos próprios. Nasceu para ser Toureiro - e dos bons!
Muito menos atípica que a anterior, mas ainda marcada pela pandemia, esta temporada registou um número de corridas até excessivo, com muitas em cima umas das outras, mas mesmo assim, é importante que se refira, quase todas com uma grande afluência de público dentro das limitações do uso das lotações - regra que finalmente acabou. As praças já podem estar a 100% e, para mal dos nossos pecados, é pena que não se tenham aprendido os exemplos que foram impostos pela pandemia e tudo tenha voltado à (a)normalidade do costume...
A meu ver, as cortesias estavam muito bem como estiveram nas restrições da pandemia. Curtas, leves, sem prolongamentos desnecessários. Há anos e anos que as cortesias são rigorosamente para os cavaleiros serem aplaudidos - e mais ninguém. Matadores, bandarilheiros e forcados permanecem ali a fazer figura de nada, enquanto os cavaleiros percorrem demoradamente a arena e recolher aplausos. Como se fizeram em 2020 e até há pouco tempo, estavam óptimas, a meu ver. Enfim...
As voltas à arena também podiam ter ficado pelos agradecimentos no centro da arena - e poupava-se tempo. E as trincheiras já estão de novo povoadas de curiosos, amigos dos toureiros, amigos dos amigos, enfim... Voltou tudo atrás. Esqueceram-se as regras que seria óptimo se tivessem vindo para ficar. Continuamos atrasados em relação ao futuro...
Voltando à corrida de ontem. Dizia eu que houve muitas corridas em 2021 (demais, até...). E nelas destacou-se indiscutivelmente João Ribeiro Telles, por muitos apontado, com todo o mérito, como o grande triunfador deste ano. Não tenho dúvidas. Mas...
E Luis Rouxinol Júnior? Andou como andou, a dar a cara e a triunfar em todos os palcos e em todas as tardes (e noites). Com o cavalo "Jamaica" tem tido actuações e ferros do outro mundo - como teve ontem. Não é de todo o mérito e de toda a justiça proclamá-lo já, também, como grande triunfador desta temporada? Claro que sim, claro que é. Sem que com isso se retire o título também conquistado por João Telles. E estes desafios são altamente positivos e engrandecedores para a Festa. A meu ver, está aqui uma parelha para guerrear no futuro. Gostava de ver, ainda este ano - a ver vamos se algum empresário tem tal ousadia - um mano-a-mano entre os dois. Esse sim, um mano-a-mano de valor, desejado e que se impõe.
Luis Rouxinol Júnior teve ontem, frente a um toiro de bandeira, bravo e nobre, da ganadaria Ribeiro Telles, um triunfo clamoroso. Os dois ferros que cravou com o "Jamaica" foram uma verdadeira explosão, a pisar todo o fogo da linha de fogo, sem hesitar face à investida repentina e franca do oponente, quarteando-se num palmo de terreno, cravando com verdade e emoção. O resto da lide foi portentosa e demonstrativa da maturidade e da já valorosa experiência do jovem cavaleiro de Pegões, um verdadeiro caso nos últimos anos.
Rouxinol Júnior conquistou esta temporada - e ontem, sobretudo - o direito a figurar nos primeiros grandes cartéis e nas grandes competições de 2022. E já não restam dúvidas a ninguém de que ele é, a par de João Ribeiro Telles, ex-aequo pode dizer-se, o grande e absoluto triunfador da temporada nº 2 da pandemia!
Querem fazer coisas diferentes os senhores empresários, para não andarmos eternamente a ver mais do mesmo? Façam como o grande Manuel dos Santos fazia no seu tempo: ponham estes dois galos à luta para ver, afinal, quem manda na capoeira. Só a Festa ganharia com isso.
Luis Rouxinol Júnior foi o grande triunfador de Alcochete, em conjunto com os gloriosos Amadores de Alcochete (de que já aqui deixei tudo dito) e com a ganadaria Ribeiro Telles. Nas duas triunfais voltas à arena que deu com os forcados Vasco Pinto e João Rei, acompanhou-o também João Telles na qualidade de representante da ganadaria e com todo o mérito - pela bravura do terceiro toiro da tarde. E não deixou de ser curioso vê-los aos dois, juntos, aclamados pelo público. Triunfadores máximos da temporada (foto de cima).
Os toiros de Ribeiro Telles, de apresentação irrepreensível, proporcionaram ontem bons êxitos a todos os cavaleiros. O primeiro foi um grande toiro e com ele Luis Rouxinol alcançou também um triunfo notável, destacando-se sobretudo quando montou o célebre "Douro". Rouxinol já nos habituou há muitos anos a que está sempre bem. É um verdadeiro campeão no que à regularidade de triunfos diz respeito. Soma e segue todas as tardes. É um figurão!
O segundo toiro coxeava levemente, mas parecia apontar excelente qualidade. Destinado a Gilberto Filipe, acabou por ser recolhido, quanto a mim algo precipitadamente por decisão do médico veterinário e do director de corrida. Gilberto actuou depois em quinto lugar com o toiro sobrero, que lidou superiormente, reafirmando a moral altíssima que este ano lhe deu aquela célebre e triunfal corrida no Montijo ao lado de Rouxinol e Pablo Hermoso. Finalmente as empresas estão a reconhecer o imenso valor de um toureiro que insjutiçaram durante muitos anos. Já era tempo de isso acontecer. Gilberto merece ser visto com outros olhos. É um grande equitador e um toureiro de imenso valor.
Para lidar o segundo toiro, também de boa nota, esteve em praça Filipe Gonçalves. Toureiro de luta e de valor, tem construído uma carreira sólida e consistente. Toureou ontem a gosto, esteve bem a lidar e a bregar e cravou com eficiência e emoção, levantando o público dos seus lugares. Extraordinário o par de bandarilhas.
António Prates é outro jovem em tempo de afirmação. Ousado, atrevido, bem montado e moralizado, já conquistou o público de Alcochete pelos triunfos que ali tem obtido. É, digamos, um toureiro da casa a que o entendido público desta praça não regateia aplausos e por quem nutre um carinho especial. Ali tomou a sua alternativa. Prates ontem não teve sorte com o toiro. O quarto exemplar de Ribeiro Telles era manso e por diversas vezes procurou a fuga, acabando mesmo por saltar a trincheira. António demonstrou experiência e muita entrega, mostrando que os mansos também se lidam. Arrimou-se que nem um leão, esteve superior, mandão, dominador. Um triunfo diferente, mas de grande valor porque lhe faltou matéria prima para brilhar e ele brilhou na mesma, mercê da sua entrega e do seu grande profissionalismo. Subiu pontos, quanto a mim, pelo acrescido valor que teve esta sua lide.
Terminou a tarde o jovem e promissor praticante Tristão Ribeiro Telles Guedes de Queiroz, o mais recente produto de uma dinastia que fez História e continua a fazê-la. Estreava-se ontem de casaca e com um toiro a sério, depois da prova de praticante em Vila Franca. Teve algumas falhas, nomeadamente o facto de por mais que uma vez citar o toiro com ele atravessado, o que teve como resultado alguma imperfeição nas reuniões. Mas foram precipitações de um principiante, que se aceitam nesta primeira fase da ainda jovem carreira de Tristão. Voltou contudo a demonstrar intuição e muita raça. Acredito nele desde o princípio. É só pedalar mais um pouco e vai ao sítio - porque ninguém tem dúvidas de que é bom.
Estiveram bem e sem exageros de capotazos os bandarilheiros das quadrilhas dos seis cavaleiros. Os de Rouxinol Jr. mal chegaram a intervir, foi tudo por conta do cavaleiro.
Música houve para todos, mas se o rigor fosse perfeito, Luis Rouxinol Júnior teria sido acompanhado por uma Orquestra Sinfónica, marcando a diferença dos demais. João Cantinho dirigiu com acerto, com condescendência e ao ritmo da festa que se celebrava ontem.
Foto M. Alvarenga