Miguel Alvarenga - Emiliano Gamero marcou nitidamente a diferença nesta temporada nacional e, doa a quem doer (é para o lado que durmo melhor...) deu "dez a zero" às nossas figurinhas... que são sempre mais do mesmo e toureiam sempre da mesma maneira, até chega a enjoar. Leiam estas palavras. E depois falamos a seguir.
"Em termos taurinos, se tivesse nascido em Portugal e trajasse à Frederica, era mais um! Não tenho dúvida! Mas Emiliano Gamero não prescindiu do elemento que mais impactou aos olhos do nosso público: o flamante traje charro que sempre usou em praça, e muitas vezes, fora dela. Sem complexos! Com o seu descomunal sombrero, e à sombra deste, uma bigodaça de se lhe tirar... el sombrero! Orgulhosamente fiel às suas origens, genuíno e de trato agradável, com grande sentido do espectáculo e da conexão com as bancadas, depressa conquistou o coração dos nossos entusiastas que frequentam as praças de toiros".
"Claro que o toureio praticado por Emiliano Gamero tem as suas limitações, com primazia dada às 'habilidades' das suas montadas fora do toiro. Mas mesmo com o toiro por diante, e à medida que foi toureando entre nós, vi-lhe momentos em que se notou uma evolução no desenho das sortes, de forma mais ortodoxa, revelando que não é dos pensam que já sabem tudo, como muitos que por aí andam. Pelo contrário, deu mostras de querer evoluir, aprender, limar arestas e melhorar o seu desempenho. Uma coisa revelou Gamero em doses elevadas: uma forte personalidade! Chegou à Pátria do Toureio a Cavalo, ombreou sem complexos com os de Casaca e Tricórnio, sem se armar em vedeta, teve tempo para todos os que o quiseram saudar, espalhou simpatia, promoveu-se como nenhum português o faz, saíu do 'típico casulo dos toureiros portugueses' e apareceu por todo o lado, foi-se tornando popular. Nesse sentido, deu 'dez a zero' aos nossos, que até o tricórnio têm vergonha de usar!".
"Já regressou ao México e prometeu voltar em 2023. Se aos atributos que atrás referi, conseguir aprimorar o seu toureio, não vejo porque não há-de actuar, com toda a legitimidade, na nossa próxima temporada. Há por aí bem pior e sem animar as bancadas como Emiliano Gamero o faz. Viva México!".
As palavras que acabam de ler não foram escritas por mim - e ainda bem. Voltavam a acusar-me de estar a proteger Gamero, depois de eu ter sido, desde a primeira vez que o vi (no festival de início de temporada no Redondo), o primeiro a dizer que o homem era bom!
As palavras que acabam de ler foram escritas pela pena insuspeita de João Queiroz, incontestado número-um da crítica taurina nacional, no Editorial (Burladero do Director) da última edição da revista que dirige, a "Nova Burladero", esta semana surgida nos escaparates (capa em baixo).
Reconhecido defensor do toureio clássico português, João Queiroz não costuma embandeirar em arco com este ou aquele toureiro por dá cá aquela palha.
Aquilo que escreveu - e que subscrevo na totalidade - evidencia a justiça e o reconhecimento de um homem que sabe de toiros e que sabe escrever de toiros como poucos, perante um toureiro que foi, na realidade, um fenómeno e trouxe inovação nesta temporada de 2022.
Emiliano Gamero, quanto mais não fosse (mas foi muito mais), marcou a diferença, aos costumes disse nada e, como bem disse Queiroz, deu "dez a zero" (na forma como se promoveu e como marcou, de facto, a diferença... e que diferença!) aos nossos e, sobretudo, às nossas pseudo-figurinhas... "que até o tricórnio têm vergonha de usar".
Eu vou até um pouco mais longe que João Queiroz - e não tenho a menor dúvida em proclamar Emiliano Gamero como um dos maiores (se não mesmo o maior!) triunfadores desta temporada nacional.
Foi diferente, marcou a diferença, tornou-se um ídolo dos aficionados, mexeu com o público - a abanou as hostes.
E Portugal precisava há muitos anos de qualquer coisa diferente - como ele!
Fotos M. Alvarenga e capa "Nova Burladero"