quarta-feira, 1 de março de 2023

Triunfador maior do festival de ontem em Huelva: David de Miranda, figura em ebulição

Miguel Alvarenga - O matador local David de Miranda consagrou-se ontem como máximo triunfador do fantástico festival taurino realizado na bonita praça La Merced de Huelva, aproveitando ao máximo a belíssima qualidade do novilho-toiro de Albarreal (Domecq), protagonizando um artístico e variado tércio de capote e desenhando depois uma faena poderosa e templada com a muleta. Matou de certeira estocada e foi o único premiado com duas orelhas, dando uma pausada e aplaudida volta ao ruedo. Um nome a fixar, um toureiro com futuro.

A praça encheu, com um ambiente solene como só em Espanha acontece, numa tarde entretida e agradável em que se angariavam fundos para a notável obra social da Hermandad de Nuestra Señora del Rocío.

Ao início do festejo e a abrir o passeíllo, entraram em praça os típicos tamborilleros rocieros que interpretaram, sob calorosa ovação do público aficionado, a Salve Rociera e o Hino de Andaluzia. Ontem, celebrava-se naquela província espanhola o Dia da Andaluzia.

Desde manhã que se sentia o ambiente que depois se veio a viver durante toda a tarde, com as bancadas cheias e os habituais mirones que lá em cima, desde o monte, conseguem vislumbrar à borla grande parte do que se vai passando na arena (foto de baixo).

Os toureiros vinham dispostos a triunfar e todos eles se entregaram com rasgos de arte e valentia, sendo uns mais afortunados que outros na hora de matar. Alguns novilhos demoraram a cair e o último, de Albarreal, acabou por ser apuntillado por um bandarilheiro desde um burladero, depois de o jovem novilheiro (sem picadores) García Palacios se ter visto e desejado para o tentar matar.

Abriu praça o rejoneador Andrés Romero, que desfruta de grande ambiente entre os seus paisanos e foi em Agosto do ano passado grande triunfador na Feira das Colombinas quando ali alternou com Diego Ventura e o nosso Paco Velásquez, que tomou a alternativa. Na memória de muitos estava ainda essa tarde apoteótica de Romero nesta sua praça, pelo que o rejoneador foi recebido com uma grande ovação mal entrou na arena, apesar de, em tarde de matadores, estar ali a interpretar aquilo que antigamente se denominava como "el número del caballito". Diferente de estar numa corrida de rejoneio e em competição com outros...

Andrés Romero enfrentou um novilho de La Rosaleda sem muita presença e pouco colaborante, parado, sem transmitir. Bem se entregou Romero, apoiado na excelente qualidade da sua quadra de cavalos, para tentar sacar sumo onde ele estava em falta. Pisou terrenos de compromisso e logrou alguns ferros de muito boa nota, desenvolvendo excelente brega. Matou de um rojão certeiro, mas o novilho demorou a cair e perdeu pelo menos uma merecida orelha, agradecendo nos médios uma ovação do público, havendo a lamentar que se tivesse esquecido de chamar o forcado Nuno Vitória, dos Amadores de Beja, que ficou entre tábuas depois de ter concretizado uma brilhante pega ao primeiro intento. No final, o público não esqueceu o forcado e a pega e o grupo foi despedido com uma ovação de luxo.

Morante de la Puebla, com a solenidade e o toque de antiguidade que imprime a todas as suas presenças em praça, destacando-se o sombrero "à Gallito", o rei dos toureiros e seu ídolo, recebeu o segundo novilho da tarde, da ganadaria do empresário José Luis Pereda (que serviu e teve chama) com bonitas e templadas "verónicas" superiormente rematadas com a sublime arte pinturera que é apanágio maior da sua imensa classe.

Com a muleta, mandou e templou como só ele sabe, dando uma imensa lição de bom toureio. Esteve enorme, mas sem sorte a matar, sendo mesmo assim premiado com uma merecida orelha, a primeira das poucas (três apenas) que se cortaram ontem à tarde.

Juan Ortega, bom toureiro sevilhano, enfrentou o pior novilho do festival, sem chama e de pouquíssima entrega, deixando contudo detalhes muito bons com o capote e a muleta. Também sem sorte a matar, teve que descabelhar e foi no final aplaudido nos tércios.

Depois da grande surpresa que constituiu, pelo menos para mim (que nunca o vira ao vivo), David de Miranda (duas orelhas, como acima referi), toureou Pablo Aguado, outra estrela sevilhana, enfrentando um novilho de José Luis Pereda que teve mobilidade. 

Aproveitando as boas investidas do oponente, Pablo Aguado deu toques da sua arte com o capote e depois com a muleta desenhou uma faena templadíssima e artística daquelas que enchem as medidas a qualquer aficionado. Mas no fim falhou com a espada e as duas orelhas que tinha na mão acabaram por ser substituídas por uma calorosa ovação. Foi pena.

Fechou o festival o jovem novilheiro sem picadores García Palacios, que demonstrou muito querer e grande atitude, recebendo o novilho de Albarreal de joelhos em terra, mas que está ainda demasiado verde, como ontem aqui referi, para ombrear num campeonato destes ao lado de tão consagradas figuras. Mas todos têm que começar um dia por qualquer lado e García Palacios aproveitou ao máximo a oportunidade que aqui teve, procurando agradar, apesar de evidenciar ainda pouca confiança, alguns nervosismo e, como disse, muita verdura. Viu-se e desejou-se para matar o novilho, que acabou por ser apuntillado por um bandarilheiro desde um burladero.

Presença de luxo, notada por muitos, como ontem aqui referimos, a do Maestro Rafael de Paula, um figurão do século passado, que assistiu ao festival num burladero a convite de Morante.

Nota final para o grande e aplaudido puyazo do picador de David de Miranda, que mesmo depois de sofrer uma aparatosa queda recebeu do público uma estrondosa ovação quando regressava ao pátio de quadrilhas.

Fotos M. Alvarenga


Oa habituais mirones que assistiam (gratuitamente...) lá de
cima, no monte, a grande parte do que acontece na arena...
Praça cheia e enorme ambiente ontem em Huelva