Miguel Alvarenga - Há exactamente 43 anos, na tarde de 18 de Outubro de 1980, fui espectador privilegiado da actuação na Real Maestranza de Sevilha do matador mexicano Alfonso Ramírez "El Calesero", já com mais de 60 anos, mas que quis cumprir o sonho de voltar a pisar aquela sagrada arena, onde toureara um dia sem ter sorte.
Na foto de cima, ficou precisamente retratada a história desse dia célebre, no jantar da Cadena Ser onde depois fomos todos, um grupo fantástico: o Dr. Fernando Teixeira, o Fernando Camacho (que espreita atrás de "El Calesero"), o João Queiroz e o Manuel Andrade Guerra.
Como hoje mesmo recorda o site "Aplausos", citando o saudoso crítico espanhol Filiberto Mira no seu livro "El Toro Bravo - Hierros e Encastes", a 9 de Fevereiro desse mesmo ano de 1980, os matadores espanhóis Curro Romero e Manolo Vásquez estavam no México, com "El Calesero", numa tenta da ganadaria Jaral de Peñas.
Findo o tentadero, "El Calesero" disse aos companheiros espanhóis:
"Tenho, como sabem, algo mais de sessenta anos. Não quero morrer com a pena de não tentar dar algum passe ou lance na Maestranza de Sevilha. Toureei aí - a melhor praça do mundo - uma só tarde e não tive sorte. Plenamente consciente vos digo que ainda tenho valor para ali fazer o passeíllo...".
Manolo Vásquez e Curro Romero (ambos na foto de baixo, ladeando o matador mexicano há 43 anos na Maestranza), "impulsionados pela força do sentimento toureiro", escreve hoje o site "Aplausos", "com voz solene e calma exclamaram al alimón": "Tu tourearás ali e nós acompanhar-te-emos!".
E aconteceu no XII Festival Taurino da Cadena Ser, patrocinado pela Rádio Sevilha, organizado pelo crítico Filiberto Mira e que foi anunciado como o "festejo de homenagem à arte do toureio".
Com a Maestranza completamente esgotada - e a presença deste grupo de críticos taurinos portugueses - lidou-se a cavalo um toiro de Bohórquez e a pé seis de Juan Pedro Domecq. E tourearam Álvaro Domecq (volta ao ruedo), "El Calesero" (volta), Manolo Vásquez (volta), Curro Romero (ovação), José Maria Manzanares (duas orelhas), Tomás Campuzano (volta) e o novilheiro Manuel Tirado (orelha).
E, como recorda o "Aplausos", aqui fica o relato do então director da revista com o mesmo título, Salvador Pascual:
“Creo que hay una palabra que resume lo que fue el festival: categoría. Todo tuvo categoría. La Maestranza llena como en plena Feria de Abril, los componentes del cartel, críticos y aficionados llegados de fuera, incluso un nutrido grupo de mexicanos para acompañar a su torero…”.
E, sobre o balanço artístico desse magnífico festival, escrevia:
“Alvarito Domecq toreó con mucho gusto, caracoleando con el toro y citando espectacularmente. Como el toro era muy bueno, echó pie a tierra y estuvo formidable con la muleta, toreando con mucho son, destacando un soberbio natural y dos de pecho. Enorme sensibilidad de la afición sevillana con El Calesero, este torero de pellizco que alcanzó su sueño de volver al ruedo hispalense treinta y cuatro años después. Manolo Vázquez nos hizo saborear la gracia torera sevillana, destacando soberbias verónicas y chicuelinas pasándose el toro muy cerca. Curro Romero fue el Curro de las grandes tardes. Dos verónicas y una media en el platillo hicieron que sonara la música en su honor. Con la muleta enardeció por su lentitud. Manzanares conquistó definitivamente Sevilla con una gran faena. Tomás Campuzano demostró que su ascensión en esta temporada no ha sido casualidad y el novillero Manolito Tirado no desentonó en tarde de grandes maestros”.
Fotos D.R.