José V. Claro - Não fora o comportamento estranho (estranhíssimo, já não se viam toiros com estas complicações há muito tempo!) dos toiros de São Martinho, e teria sido uma noite enorme aquela que ontem teve lugar na carismática praça nortenha de Idanha-a-Nova por ocasião da Feira Raiana, com as bancadas cheias à vista (foto) e um ambiente enorme.
É certo que o público se divertiu, mas a noite foi demasiado complicada para cavaleiros e forcados (e, obviamente, para os valorosos bandarilheiros que coadjuvaram as lides e colocaram os toiros para as pegas).
Muito estranho, mesmo, tratando-se de uma ganadaria que tem saído bem. Os toiros de ontem adiantavam-se barbaridades e os toureiros tiveram com eles uma verdadeira luta de raça e muito querer.
Há que reconhecer - e louvar! - que toureiros e forcados deram o litro, todos escutaram música (corrida dirigida com muita aficion por Marco Gomes), ninguém esteve mal, antes pelo contrário, mas foi uma noite de alto risco. Mas não é a Festa de Toiros um espectáculo de alto risco? Não temos que nos admirar.
Moura Caetano esteve batalhador e profissional, deu a volta ao toiro por cima. Um toureiro sem a sua experiência não tinha posto um ferro naquele toiro complicadíssimo.
Duarte Pinto superou também as dificuldades e andou bem, mesmo sofrendo um toque pela esquerda, pois o toiro adiantava-se por todos os lados. O cavaleiro esteve com classe e valentia e desfruta de muito carinho por parte do público desta praça nortenha.
O espanhol Andrés Romero teve pela frente o melhor toiro - por incrível que pareça, o toiro que tinha cinco anos - e foi o grande triunfador da corrida, toureando a gosto, fazendo tudo como deve ser feito. Praça de pé.
Emiliano Gamero, também com um toiro muito complicado, deu o seu espectáculo, chegou ao público. O toiro era um verdadeiro criminoso. No final, saltou do cavalo "à Bastinhas", o toiro fugiu ao bandarilheiro e colheu a montada de má forma junto às tábuas, mas acabou por acobardar-se.. Houve sorte, mas podia ter sido muito grave. No final, para mostrar que o cavalo nada sofrera, o rejoneador mexicano exibiu-o a seu lado na aplaudida volta à arena. Diferente... o povo gosta e pronto!
Gonçalo Fernandes, toureiro de valor e que merecia ter mais oportunidades, esteve ontem em plano de grande profissional e com imenso mérito. Pena - e injusto - que as empresas o continuem a ignorar...
A surpresa da noite foi o praticante Diogo Oliveira, que superou as dificuldades do toiro - que era uma verdadeira estampa! - e obteve um grande triunfo.
Noite dura para os forcados de Santarém e de Alter do Chão.
O Grupo de Santarém fez duas pegas à segunda e uma à terceira; o de Alter pegou um toiro à terceira, outro à sétima e o último à segunda, este por intermédio de David Amaral, que fez a pega da noite.
Ao início da corrida homenageou-se o grande aficionado local Armindo Jacinto, tendo sido o empresário Luis Miguel Pombeiro a fazer o discurso evocativo do homenageado, acabando o momento por se transformar antes numa homenagem a Pombeiro feita por Armindo Jacinto - que elogiou o grande trabalho ali desempenhado pelo empresário nos últimos 13 anos, afirmando que "não queremos cá mais ninguém!".
Ao início foi também entregue ao cavaleiro Duarte Pinto uma lembrança alusiva à celebração do 15º aniversário da sua alternativa.
Em suma, uma noite muito dura e muito emotiva em Idanha-a-Nova. Mas, às vezes, faz falta aparecerem toiros como estes, que tinham pata e se adiantavam barbaridades, pondo tudo e todos em sentido. A Festa também é isto.
Foto D.R.