domingo, 6 de outubro de 2024

Credo, dizem tanta mentira! O toureio a pé "não mete gente" nas praças? Então o que foi aquilo ontem na "Palha Blanco"?

Mentem a torto e a direito a maior parte dos empresários-que-temos. Ou melhor, que não temos. Só temos saudades dos que tivemos e já não temos. Dizem eles que não há dinheiro para ir aos toiros. E eu ontem já aqui exemplifiquei (preciso de explicar outra vez?) que o que não há é paciência dos aficionados resistentes em ir às praças ver todos os dias "o mesmo filme". Levezinho apresentou ontem uma estreia diferente - e toda a gente foi ver. Estava cheia a "Palha Blanco". E dizem eles, os tais empresários mentirosos, que o toureio a pé "não mete gente nas praças". É chegada a altura de chamar os bois pelos nomes - e de tentar pôr isto na ordem. Não mintam mais. Há dinheiro e farta-se de haver dinheiro. Não há é pachorra para ver todos os dias mais do mesmo. O toureio a pé enche praças. O que não enche são os simulacros de toureio a pé que os outros montam e depois queixam-se. Marco Pérez e Tomás Bastos deram, ontem uma lição em Vila Franca. A noite e a lição ficam na História. E desmentem todas as falsas justificações que eles inventam para não montar corridas com toureiros a pé. 

Miguel Alvarenga - Noite apoteótica. Diferente. Noite de futuro. Noite de raça e de alma de dois meninos que vão ser Figuras do Toureio. Marco Pérez e o nosso Tomás Bastos encherem três quartos fortes das bancadas da histórica "Palha Blanco", aos costumes disseram nada. Porque afinal, uma vez mais se provou que não é a falta de dinheiro que justifica os fracassos de bilheteira de muitas corridas, é antes, não tenham a mínima dúvida, a falta de paciência que os aficionados que ainda existem e resistem têm para ver todos os dias mais do mesmo nos pouco imaginativos cartéis que todos os dias se repetem por aí - e isto que aqui escrevo vem ao encontro do que aqui escrevi ontem, a propósito do Pavilhão Meo Arena esgotado duas noites com Roberto Carlos. Ao que é bom e não é repetitivo, o público vai. E não chora o dinheiro que gasta.

Doa a quem doer - não é o único, há mais dois, pelo menos, depois eu digo quem são quando fizer as análises da temporada, lá mais para diante -, Ricardo Levesinho está uns valentes furos acima dos empresários-que-temos. Organizar um mano-a-mano entre os dois "niños prodígios" do toureio ibérico significou demonstrar que, na realidade, está mesmo uns anos luz à frente do pelotão (de empresários e de muitos mais que são simplesmente montadores de touradas). Levesinho marcou a diferença. A empresa de Santarém também a marcou em Junho com Roca Rey. Rui Bento idem idem, aspas aspas, em Agosto na Nazaré com Borja Jiménez. Já disse o que prometi que só diria mais tarde.

É mentira, outra mentira dos empresários-que-temos, que o toureio a pé não meta gente nas praças. O que não mete, e é bem diferente, são os elencos de toureio a pé que muitos montam e depois não têm adesão de público pelo simples facto de que não têm interesse.

Roca Rey esgotou Santarém. Borja Jiménez quase esgotou a Nazaré. Emílio de Justo (a substituir Morante) e "Cuqui" encheram a Moita em Setembro. Os dois meninos encheram ontem Vila Franca. O toureio a pé não mete gente? Quem não mete gente é o (outro) toureio a pé que apresentam esses empresários que dizem que o toureio a pé não mete gente...

O toureio a pé, meus amigos, é mas é o grande triunfador desta temporada de 2024. Esperem hoje por Vila Franca, com Daniel Luque e "Juanito" e não arrisco muito se prever que vai ser outro sucesso. E dos grandes.

A cavalo, é sempre tudo igual, sempre tudo mais do mesmo. 2024 é, sem sombra de dúvidas, o ano grande do Maestro Rui Salvador, melhor que nunca em temporada de despedida. Dos outros, entre os quais há vários muito bons, pouco reza a história. Estiveram muitas vezes muito bem, mas foram sempre iguais, sem trazer ou aportar nada de novo. Foi e vai continuar a ser tudo igual a ontem, a anteontem, à semana passada, há dois meses, há quatro meses... 

O toureio a pé, repito, doa lá a quem doer, foi o que marcou a diferença nesta temporada de 2024. Por isso, o grande triunfador da temporada é o toureio a pé. Tenho dito.

A crónica de ontem é curta e não precisa de grandes adjectivos. Em seis belíssimos novilhos-toiros de Álvaro Nuñez, Marco Pérez e Tomás Bastos deixaram uma mensagem memorável de esperança e de garantia no futuro. São eles as estrelas de amanhã. São eles os destaques que vamos ver, muito em breve, em letras gordas, nos cartazes das grandes corridas em todo o mundo. Nasceram super-dotados. São, como ontem se viu, dois géniozinhos capazes de virarem uma praça de pernas para o ar. E assim aconteceu.

Marco Pérez está toureadíssimo, super placeado. Mas o nosso Tomás Bastos, menos toureado, não lhe fica atrás nem um milímetro. Estão taco-a-taco. E a novilhada teve um ritmo extraordinário. Picaram-se e tourearam como os anjos nos tércios de capote, variados, arrimados, bonitos e emotivos.

Com a muleta, Marco Pérez demonstrou que tem o toureio na cabeça e pensa depressa. Toureou maravilhosamente. Foi tudo bem feito. Três grandes faenas, com um louvor especial para a terceira (quinto novilho), ao melhor dos exemplares de Nuñez, que o director de corrida premiou colocando o lenço para o ganadeiro também dar a volta, mas ninguém a isso ligou e Marco deu duas voltas à arena, com o público em delírio, a aclamar a nova estrela.

Tomás Bastos tem menos festejos toureados, muitos menos que Pérez, mas nem por isso tem menos arte, menos querer, menos raça ou mostra ter menos traquejo. Está um toureiro enorme, completo, em permanente evolução, é a nova esperança do nosso toureio a pé, demonstrou todo um repertório variado, onde a arte se mistura com o valor e a valentia, sobressaindo em relação a Marco Pérez pela facilidade e o poderio com que bandarilha - bandarilhou divinalmente os três novilhos. Quem sai aos seus... e ele é sobrinho-neto do sempre lembrado José Júlio!

Louvor a todos os bandarilheiros. Aos nossos Joaquim de Oliveira e Diogo Malafaia, que muito bem lidaram os novilhos de Tomás Bastos. Aos bandarilheiros espanhóis de Marco Pérez, com especial destaque para Rafael González, todos eles muito bem a lidar e a preencher os tércios de bandarilhas.

Tomás Bastos brindou a primeira faena a seu tio Dário Venâncio, a segunda a toda a sua equipa e a terceira a Marco Pérez. Este, por seu turno, brindou a primeira faena a Tomás, a segunda a Rui Bento (que assistia na bancada) e a última ao público.

Ficou escrito que o toureio a pé tem o futuro garantido em Portugal e em Espanha. E que a tauromaquia tem dois novos ídolos que vão arrastar gente às praças. Os dois meninos que ontem empolgaram Vila Franca e no final sairam em ombros pela porta grande, têm que voltar a defrontar-se, fica aqui a dica aos senhores empresários, voltem a montar um cartel como o que Levesinho montou e não tenham dúvidas de que o público acorria outra vez em força à praça. Lisboa não arrisca um cartel destes em 2025? 

Uma nota final para aplaudir o gesto da empresa de colocar uma coroa de flores no centro da arena da "Palha Blanco", em jeito de homenagem à memória do grande José Falcão, no 50º aniversário da sua trágica morte na arena de Barcelona. Voltam a estar lá hoje - as flores para Falcão.

Outra nota para aplaudir o bandarilheiro Dário Venâncio, que hoje, 6 de Outubro, cumpre 50 anos de alternativa e ontem foi homenageado ao início da corrida recebendo lembranças oferecidas pelo Presidente da Câmara de Vila Franca e pelo empresário Ricardo Levesinho. Antecipou-se um dia (umas horas) a data de comemoração do 50º aniversário da sua alternativa a pedido dele próprio, para que fosse na corrida em que toureava seu sobrinho-neto Tomás Bastos. Aplausos para o grande Dário Venâncio.

E por fim só mais uma nota para sublinhar que tudo isto aconteceu ontem enquanto o senhor director de corrida dormia. Fábio Costa, cuja competência a dirigir corridas não me tenho cansado de elogiar, pecou ontem por uma assustadora falta de sensibilidade, sonoramente protestada pelos espectadores, pela decisão (sempre) tardia em conceder músicas aos dois grandes triunfadores. Por pouco, estragava a festa. Que foi grande. E que não vamos esquecer mais.

Que grande noite de toiros, que noite tão bem passada.

Fotos M. Alvarenga

Nota - Daqui a pouco, veja todas as fotos dos Famosos. E amanhã, segunda-feira, vamos ter aqui um dia em cheio com mais reportagens (os Momentos) da novilhada de ontem e da corrida que esta tarde, se o tempo o permitir, se vai também realizar na "Palha Blanco", outra promissora tarde com o toureio a pé em destaque especial. Não perca.

Público tributou calorosa ovação aos dois novilheiros antes do
festejo começar
Bandarilheiro Dário Venâncio homenageado pelos seus 50 anos
de alternativa



Marco Pérez e Tomás Bastos não são cavaleiros. Toureiam a pé.
E encheram a "Palha Blanco"!





Marco Pérez (não se livrou de uma aparatosa voltareta, sem
consequências, felizmente) toureou como os eleitos!






Raça, valor e atitude - que bem toureou e bandarilhou Tomás!